Eternamente BB

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Estava ouvindo um especial sobre a cantora Brigitte Bardot na rádio Cultura FM, no programa de Cervantes Júnior. Depois, um especial de Julie London, do programa sobre música americana do Antonio Adorno, ótimo jornalista e pesquisador.

Em uma das músicas, Brigitte tinha 18 anos de idade. Voz afinada, de cantora mesmo, não apenas uma carinha bonita com voz digitalizada. E aí me deu conta que na minha adolescência, nos anos 60, não houve símbolo sexual que se igualasse a Brigitte, ou BB, como era chamada.

Ela surgiu para o mundo no filme “E Deus Criou a Mulher”, de Roger Vadin, cineasta francês que se especializaria em descobrir símbolos sexuais em sua vida ativa, e a contar prosa depois que se aposentou. Com vinte anos, Vadin se apaixonou por uma Brigitte de 16 anos. Esperaram quatro anos para se casar.

Os americanos tinham MM, Marilyn Monroe, mas era típico produto de Hollywood, com um lado tão artificial quanto seus cabelos oxigenados. Calhou ter um final trágico, o que ajudou a alimentar a lenda. Mas o que significava ela na época? Admito que estou exagerando um pouco nas críticas, nesse vezo de cronista de valorizar o personagem do dia, desqualificando os concorrentes. Mas que MM nunca chegou a BB, não chegou mesmo.

Havia uma concorrência forte das italianas, mulheres mais sólidas, mais carnais, de uma sensualidade de camponesas fogosas. As primeiras que apreciei foram Sofia Loren e Gina Lollobrígida. Depois, veio uma geração de mulheres lindas, como Cláudia Cardinale, Laura Antoneli, Virna Lisa, que era minha fixação.

Já as francesas primavam por uma sensualidade sofisticada, cosmopolita, bastante reforçada pelo idioma. O sotaque francês era “chic”. Lembro-me particularmente de Milene Demongeot, que me despertou paixões desenfreadas na adolescência, de um jeito muito diferente daquele que, antes dos 12 anos, sentia por Ava Gardner e Kim Novak.

No Brasil, esse padrão francês foi bastante explorado na televisão, no teatro de revista e no cinema. Lembro-me até hoje de um especial da TV Tupi com Norma Benguel cantando em francês, provavelmente imitando BB. Anos mais tardes, Jaqueline Mirna e Anik Malvill deliciaram a minha e outras gerações já saindo da adolescência.

Mas o grande modelo, no qual se inspirava a malícia mundial, era mesmo BB. Tudo nela soava natural, dos bicos que fazia às poses em que se deixava fotografar.

Foi o início da erotização da adolescência, da descoberta que os jovens já não eram tão inocentes quanto os das gerações anteriores. Mas as atrizes adolescentes americanas da época eram completamente sem sal, como Sandra Dee, ou com aquele ar de quem está sempre prestes a ser castigada pelos pecados cometidos, como Natalie Wood.

Em plena descoberta do público juvenil, os setores mais intelectualizados celebravam Françoise Sagan; os boyzinhos se espelhavam em James Dean, Marlon Brando e Elvis Presley. Mas todos, indistintamente, tinham BB como o símbolo máximo. Ela encantava dos jovens politizados aos donos de borracharia.

Os passos de BB eram acompanhados pelo mundo todo. Foi uma comoção mundial quando ela se casou com Sacha Distel, guitarrista francês boa pinta. Mas quando ela começou a namorar o brasileiro-marroquino Bob Zagury, a auto-estima nacional atingiu seu ponto máximo. Mais ainda quando Zagury a trouxe para conhecer Búzios, na época uma praia quase selvagem, começando a ser descoberta pelos granfinos.

Depois de BB, algumas jovens atrizes chegaram perto, mas não se completaram. Como Jane Fonda durante “Barbarella”, esculpida pelo mesmo Roger Vadin que criou BB. Durante um bom período foi um dos símbolos femininos do cinema, como grande atriz, grande personalidade, não mais como símbolo sexual. Após o “Último Tango em Paris”, com Marlon Brando, Maria Schneider pintava como legítima sucessora de BB, mas acabou engolida pela vida.

Hoje, quando se vai ao cinema, todos os símbolos femininos são americanas. O cinema americano atingiu tal nível de predomínio que não sei o nome de nenhuma jovem atriz italiana, francesa, sueca.

É por isso que fico nessa recordação besta, celebrando as americanas, as italianas e as francesas do meu tempo, naquela que foi o sonho de todos nós, a eternamente BB.

Luis Nassif

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