O Capitão 7

Acordei um tanto melancólico hoje, com uma sensação de estranheza. Bateu a saudade. E quando a saudade bate a cabeça voa, o pensamento parece uma coisa à toa e me leva de volta à infância.

Com esse estado de espírito comecei meu dia cumprindo o ritual de ir ao jardim para ver minhas plantas e os beija-flores que me visitam. Enquanto retirava fôlhas secas e revolvia a terra topei com um objeto, com toda certeza esquecido por algum dos inquilinos anteriores. Era o número 7, moldado em plástico, um ítem de jogo infantil.

Acocorado com os pés descalços sobre a grama úmida do jardim, e tendo nas mãos aquele inusitado objeto, meu cérebro me pregou uma peça: desenterrou uma lembrança há muito guardada, meu primeiro super-herói, o Capitão 7.

Incrível como uma conjunção tão sutil de ocorrências aparentemente sem importância é capaz de nos transportar tão longe no tempo e no espaço. Isso mesmo, no tempo e no espaço porque, por alguns instantes, eu adquiri super-sentidos. Me senti como aquele menino de 7 anos que brincava despreocupado e sonhava ter os mesmos super-poderes de seu herói.

Com meus pés na grama úmida, já não sentia o peso dos 53 anos vividos.

O cheiro da terra em meus dedos se misturava à manteiga do pão.

O som que eu ouvia era dos pardais na goiabeira.

O jardim luzia como o quintal da minha infância.

A casa de meus pais era o sétimo planeta.

E eu não tinha saudade, só esperança.

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