O vendedor de gravatas
por Fábio de Oliveira Ribeiro
Antes de abrir a loja, o lojista recebe uma entrega de gravatas: 3 dólares cada, de diversas cores e padrões, todas do mesmo fabricante. Com uma margem de lucro generosa, ele poderia cobrar 5 dólares por gravata. Após pagar o entregador, o lojista separa algumas gravatas e as coloca numa prateleira alta. As demais são colocadas numa prateleira no campo de visão dos clientes.
O primeiro consumidor chega na loja. Ele observa as gravatas na prateleira e pede para o lojista mostrar-lhe apenas uma delas.
– Quanto custa?
– 15 dólares cada.
– Isso é um roubo. Essas gravatas deveriam custar no máximo 10 dólares.
– Bem… Aqui o preço é 15 dólares, mas eu posso vendê-la com desconto por 12 dólares.
– Eu realmente preciso de uma gravata nova, mas só tenho 10 dólares.
– Feito. Somente hoje, você poderá levar essa por esse preço.
O segundo consumidor chega. Ele diz que pretende levar algumas gravatas. O vendedor coloca várias no balcão para ele manusear.
– Quanto custa cada uma?
– 10 dólares cada. – responde o lojista.
O consumidor escolhe algumas, fica em dúvida se deve levar outras. Finalmente ele parece estar começando a decidir o que irá comprar.
– OK. Eu levarei essas 5 gravatas. Você pode fazer tudo por 40 dólares.
O lojista pega uma calculadora e faz alguns cálculos.
– Sinto muito. Eu posso vender-lhe 5 gravatas por 45 dólares. Mas por 50 dólares você poderá levar 6 gravatas.
Satisfeito, o consumidor sai da loja com 6 gravatas. Logo depois entra o terceiro cliente. Ele observa o lojista arrumando as gravatas novamente na prateleira e pede para manusear algumas. Ele compara a textura do tecido, observa como esta ou aquela cor irá combinar com a cor de sua camisa, pergunta se o lojista tem gravata de um determinado padrão de listras em outra cor. O processo de escolha desse comprador parece mais sofisticado, então o lojista começa a subir na escada e o olhar do cliente é atraído para as gravatas que foram colocadas na prateleira mais alta.
– O senhor pode me mostrar essas?
– Talvez seja melhor o senhor subir na escada, pois eu não posso misturar as gravatas que o senhor está manuseando com estas aqui. Existe uma grande diferença de preços entre elas.
O comprador volta a prestar atenção nas gravatas que estão no balcão.
– Quanto custa cada uma?
– O preço dessas gravatas é 10 dólares cada, mas eu posso fazer 5 gravatas por 45 dólares ou 6 por 50 dólares.
– Quanto custa cada uma daquelas que estão ali? pergunta o comprador apontando para a prateleira alta.
– Acho que talvez o senhor não possa pagar o preço daquelas gravatas. Essas aqui são gravatas boas a um preço acessível.
Levemente irritado, o comprador diz que pode comprar o que quiser e pede para subir na escada e observar as outras gravatas. Enquanto ele manuseia aqueles produtos o lojista rapidamente guarda as gravatas que ficaram em cima do balcão. Após algum tempo, o consumidor desceu da escada com três gravatas que gostou.
– Quanto custa cada uma daquelas gravatas?
– 50 dólares cada, mas o senhor pode levar 3 por 120 dólares.
– Excelente. Eu vou levar as três.
O dia de vendas estava sendo bom. Então o lojista mete uma gravata no bolso e vai almoçar. No restaurante ele vê um rapaz desanimado usando uma gravata feia e rasgada. O rapaz parece estar com fome, mas se limita a tomar um café. O lojista convida o rapaz para almoçar e paga a conta. Ao sair do restaurante e se despedir daquele rapaz, ele mete a mão no bolso.
– Eu achei essa gravata num banco de praça, mas não gostei da cor. Se você quiser pode ficar com ela.
O rapaz sorri e agradece a gentileza, mas diz que prefere não aceitar. Intrigado, o lojista pergunta o porquê.
– Eu estava com fome e o senhor pagou minha refeição, mas não teria feito isso se me visse usando uma gravata nova, bonita e cara.
O lojista enfia a gravata novamente no bolso e volta para sua loja. Ao chegar nela ele liga para uma empresa que faz invólucros de vidro para objetos valiosos e encomenda um com os dizeres: Essa gravata não está à venda, o preço dela foi uma lição valiosa.
Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.
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