Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Pátria ou autoterrorismo?, por Izaías Almada

Trama-se um golpe ou, se quiserem, um autogolpe, pois os aloprados ameaçam o Superior Tribunal Federal e o próprio Congresso para defenderem o presidente que já fez arruaças parecidas quando na ativa do Exercito e foi, inclusive, punido por isso.

Pátria ou autoterrorismo?

por Izaías Almada

         Movido pelo clima que vem sendo construído nas duas últimas semanas, deixo-me contagiar pela possibilidade de algumas reflexões um tanto surrealistas, mas com a desagradável sensação e a possibilidade de se tornarem uma triste realidade.

         Trazendo em si o simbólico marco da independência, o dia 07 de setembro transformou-se, queiramos ou não, numa imagem e referência patriótica paradoxal que tanto pode servir a ideias autoritárias aliadas ao entreguismo de nossas riquezas, como agora, bem como a ideias de emancipação econômica e política. Basta lembrarmos-nos do segundo período de Getúlio Vargas, de Juscelino Kubitschek e Lula da Silva.

         Daqui a um ano, no dia 07 de setembro de 2022 o país irá comemorar o bicentenário de sua independência, mas a comemoração que se fará daqui a duas semanas parece condenada a tirar o brilho do Grito do Ipiranga, se levadas a sério as ameaças do presidente Jair e muitos de seus aloprados seguidores.

         Trama-se um golpe ou, se quiserem, um autogolpe, pois os aloprados ameaçam o Superior Tribunal Federal e o próprio Congresso para defenderem o presidente que já fez arruaças parecidas quando na ativa do Exercito e foi, inclusive, punido por isso.

         Nada, absolutamente nada justifica termos o governo que temos nesse momento. Um governo que trabalha com factoides, com notícias falsas, que só consegue ver “comunistas” à sua frente, que faz negociatas com vacinas que podem salvar a vida de milhões de brasileiros, mas que 600 mil deles já morreram por causa do descaso com sua saúde demonstrada pelo chefe da gangue.

         E as mansões dos filhos do primeiro, com perdão da palavra, dignitário? De onde vem tanto dinheiro? Lembram os caros leitores do carnaval que fizeram com o ex-presidente Lula e sua família? Foram demonizados, vilipendiados, para se provar anos depois que era tudo falso e mentiroso?

         E agora, porque a imprensa não fala nada? Medo dos milicianos? Ou a liberdade de expressão só caminha para ter via única no Brasil? O país está ficando cansado de tanta maldade, de tanta arrogância, de tanta pusilanimidade.

         Pior ainda: 2021 vêm se caracterizando como o ano da fofocagem, do disse que disse e das ameaças, da falta de pudor e decoro nos vários quadros do poder institucional.

         Muitos de nós da geração de 68 estamos secando por dentro, tristes e mesmo deprimidos por ver um país como o nosso à mercê da boçalidade. Onde o combate à corrupção é conversa para inglês ver (ou ouvir).

Tal qual o coronavírus, a burrice, a estupidez, a violência e o desprezo pelo semelhante também matam. Talvez não em duas ou três semanas, mas passo a passo conseguirá destruir uma geração.

         Como já virou lugar comum é bom lembrar que as redes sociais vieram dar voz aos frustrados, aos mongoloides da objetividade, aos moralistas de fancaria, aos democratas de almoços domingueiros e a alguns proxenetas da fé: público alvo do fascismo caipira  que vai tentando minar aqui e ali as bases de uma democracia mais participativa e menos representativa, se é que a nossa democracia tem alguma representatividade.

         Que os deuses helênicos consigam evitar uma tragédia anunciada e o Brasil ultrapasse a tormenta do próximo dia 07 de setembro e, como Sísifo, recomece uma caminhada em rumo da grande nação que é, mas que muitos pobres de espírito, para não escrever um palavrão, atrapalham.

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro. Nascido em BH, em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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