Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Vai-Vai com Gardel na Passarela do Samba, por Rui Daher

O repórter do BRD, Nestor, e eu compusemos samba-enredo para o Carnaval 2020 da Vai-Vai.

Vai-Vai com Gardel na Passarela do Samba

por Rui Daher

Passados os desfiles no sambódromo paulistano, mão direita fraturada, mas já entrando nos eixos (existem?), já posso revelar. O repórter do BRD, Nestor, e eu compusemos samba-enredo para o Carnaval 2020 da Vai-Vai. O alvinegro da escola me conquistou. Enganaram-se. Não sou corintiano, como Nestor, mas santista, cores que dão no mesmo.

Vendo a frequente valentia do povo argentino, os sofrimentos diante de ditaduras assassinas, resistência nas Ilhas Malvinas, mães assíduas na Plaza de Mayo, como não lembrar de Che, Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Maradona, Gardel, ‘el dia que me quieras’, as mulheres lindas que passeiam  na Recoleta, e juntá-las às ameninas formosas  de Ipanema e  Copacabana?, Assim vieram a inspiração, de Nestor e minha, para a guapa niña de mi Buenos Aires querida, em corruptela de “Mano a Mano”.

“Rei chifrado por sua princesa, vinda de terras alheias,

Hoje na minha vida pária, reconheço ter sido uma boa mulher.

Sua linda presença pôs calor em meu ninho,

Foi linda consequência, sei que quisestes me amar.

Sei que fui muto amado, seu olhar me fez saber,

Como a ninguém poderias querer.

Mas a nossa pobre casa de pensão, a fez mudar de vida.

Hoje és toda uma bacana, a vida rica encanta,

Os parças otários te usam, logo te abandonam, 

Como faz o gato mau com o pobre ratão.

Hoje vives de ilusões infelizes,

Enganada por otários, amigos e o gavião,

Enganada por mentiras de magnatas, em loucas tentações.

Nelas triunfam e somem mentirosas pretensões,

Que podem ter invadido o seu pobre coração.

Definitivas em pobres corações.

Nada devo agradecer, muito tempo de mãos dadas,

Não ligo para o que você fez, faz ou fará.

Os favores que me fez, creio terem sido pagos,

E se algum esqueci, cobre do otário hoje ao seu lado.

Que seus triunfos de riqueza e prazer não sejam passageiros,

E que nos bares e cafés todos digam, é uma boa mulher.

Mas se amanhã estiveres morando entre móveis velhos,

O pobre coração golpeado e sem esperanças, ajuda precisar,

Lembre-se deste amigo para acariciar sua pele, mano a mano,

Quando chegar a ocasião.

Nada a tenho a agradecer-te, tanto tempo de mãos dadas.,

Não me importa o que fez, faz, nem o que farás.

Os amores que recebi, creio haver pagá-los

E se alguma desgraça houver, por favor não esqueça,

Que se o otário já a largou,

Ajuda ou conselho precisar, lembre-se deste seu amigo,

Que irá ajudá-la quando chegar a ocasião.

Fomos assim eliminados: a) tema não brasileiro; b) “ganhar da Argentina, no último minuto, com um gol de mão, é prazer” (apud Galvão Bueno); c) parece de esquerda, em momento desaconselhável.

Nestor e eu aceitamos a desclassificação. No dia em que soubemos, chamamos Pestana, nosso mais correto repórter, e Everaldo, o fiel segurança, que amedronta o mais rico miliciano, e nos abraçamos, abrimos uma salineira, e aqui ficamos até raiar o sol da segunda-feira de Carnaval.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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