Anitta, identidade e objetificação das mulheres brasileiras

Enviado por Almeida

Por Izabella Lourença

Anitta, identidade e objetificação das mulheres brasileiras

Do Esquerda online

A motivação para escrever esse texto surgiu a partir da publicação da colunista do Esquerda Online Jessica Milaré com o título ‘Vamos falar de celulite’, no qual ela afirma que a produção do clipe Vai Malandra, de Anitta, “contesta, em vários aspectos, as regras dos clipes de músicas, mostrando mulheres e homens reais, em sua diversidade de formas e cores”. O intuito das linhas decorrentes é me arriscar a fazer uma análise mais profunda e crítica do clipe da artista, que não tem a ver com as críticas moralistas contra o Funk e a sensualidade da cantora.

https://www.youtube.com/watch?v=kDhptBT_-VI width:700 height:394
 

“Nem tudo o que parece libertador na superfície, de fato o é na essência. É preciso não confundir cultura popular com a sua apropriação pela indústria cultural”, disse Andrea Caldas, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Paraná, em texto originalmente publicado em seu facebook e publicado na revista Fórum.

Vai Malandra é o quarto e provavelmente o último da série xeque-mate de clipes lançados pela cantora impulsionando sua carreira internacional. O primeiro, lançado em setembro, é Will I See You; o segundo é Is That For Me, lançado em outubro, onde Anitta aparece na Amazônia com diferentes fantasias cantando em inglês e o terceiro é Downtown, que foi seu lançamento de novembro em espanhol latino.

O último clipe da trilogia, o tão aguardado Vai Malandra, promete ser o Hit do Carnaval e conta com participações especiais, os brasileiros MC Zaac, DJ Yuri Martins e Tropkillaz e o rapper norte-americano Maejor. Além disso, a direção foi feita por Terry Richardson, o fotógrafo que acumula acusações de assédio sexual e, por isso, foi banido recentemente da editora Conde Nast, responsável por revistas como a Vogue.

Celulite

A grande sacada da cantora foi começar o clipe exibindo a bunda de maneira natural. Diferentemente de seus próprios clipes anteriores, Anitta mostra o bumbum sem photoshop nem maquiagem, assumindo que tem celulite. Ela levantou os ânimos de muitas mulheres que sofrem cotidianamente tentando alcançar o inexistente corpo “perfeito”. Bola dentro da cantora! 

Sejamos justas. Anitta não é pioneira nessa pauta. Em 2012, Tati Quebra Barraco deu uma entrevista dizendo “Tenho mais celulite na bunda, parece que eu fui fuzilada. Mas tudo bem, se não tiver, não é mulher, né? . Preta Gil, no ano passado, recebeu uma chuva de ofensas ao seu corpo após um show e fez questão de respondê-las:  Meu corpo, minhas gordurinhas e minhas celulites não medem o meu caráter, a minha garra. Tenho celulite sim e não tenho vergonha delas. Não vou me render, nem virar escrava de um padrão de beleza que não é o meu. Eu também sou padrão de beleza, pois a maioria da mulher brasileira tem o meu biótipo.

Bolas fora

No exterior, principalmente nos países imperialistas, a imagem que se tem do Brasil é de um país que se resume em selvagens da floresta e favelas nas cidades com ‘malandros’ e mulheres sempre prontas para atender os prazeres sexuais dos homens, principalmente no Carnaval. As mídias tradicionais sempre reforçaram esse estereótipo, lembremos a Globeleza. Mudam as formas, mantêm os conteúdos. A carreira internacional de Anitta corrobora essa imagem brasileira.

Parece implicância? Mas discursos como esses sustentam a imagem que leva o Brasil a ser uma das principais rotas de turismo sexual e o tráfico de mulheres. Todas as vezes que eu entro em um ônibus e vejo imagens de meninas desaparecidas, me pergunto qual a probabilidade de terem sido pegas pelo tráfico e exploração sexual de mulheres que vêm aumentando no Brasil. Legalmente, vendem uma imagem. Ilegalmente, vendem mulheres.

Questionar a objetificação das mulheres não pode ser um aspecto menos importante do que a celulite da Anitta. As mulheres negras lutam uma vida inteira contra sua hipersexualizacão e grande parte do clipe é dedicado a mostrar a exposição de mulheres com a bunda pra cima e um homem (MC Zaac) jogando óleo e passando a mão em seus corpos, enquanto a parte que mostra certa variedade de corpos femininos não chega a ocupar 30 segundos no clipe.

Desde a primeira vez em que vi esse clipe, me remeteu a uma cena repugnante em que as notícias via google afirmam ser de um pastor lambendo a bunda das fieis, que também estavam ali voluntariamente.

 

É entendível que as mulheres brancas no Brasil ainda sofram com o papel de “recatadas” e muitos funks trazem na letra a afirmação sexual das mulheres. Mas esse não é o caso de Anitta nesse clipe. A cantora aparece fantasiada de negra para retratar a hipersexualização das mulheres na favela brasileira. Digo fantasiada porque essa não é a identidade que ela assume no dia a dia. Como o desejo é que mulher negra não seja fantasia de Carnaval, a torcida é para que Anitta assuma sua negritude, por ela e por tantas jovens que ela influencia. 

Nenhuma mulher pode se libertar sexualmente enquanto outras são hipersexualizadas. O conteúdo que liberta da celulite, mas escraviza da objetificação não fortalece a luta feminista. Anitta e sua produção sem dúvidas fizeram um grande sucesso comercial. Estudou o mercado do consumo musical e fez um produto que vende e gera milhões. Não à toa, a cantora está no top 100 do Spotify – ou seja, é uma das mais ouvidas no planeta. Mas, o que vende no mundo capitalista quase nunca é o que fomenta um ideal de libertação das oprimidas. 

Criminalização do Funk

A placa da moto que aparece já nos primeiros segundos do clipe é do PL 1256 que visa criminalizar o funk. Mais uma bola dentro de Anitta! Essa batalha é de todos que defendem uma arte livre e que lutam contra o extermínio da cultura periférica. Isso independe de qual a opinião sobre Vai malandra

Muitos cantores de estilos musicais marginalizados já cometeram graves erros: Emicida quando lançou a música Trepadeira e tantas músicas Racionais, como Da ponte pra cáque ao mesmo tempo em que gera inúmeras reflexões sobre a periferia paulista, representa a mulher como mercadoria. As críticas quanto aos elementos regressivos das músicas são necessárias para a resistência cultural. Ninguém se liberta oprimindo o outro.

Esse foi um desabafo em defesa do funk, do Carnaval e da libertação sexual de todas as mulheres, aquelas que passam a vida tendo sua sexualidade tolhida, assim como as que enfrentam a hipersexualização e objetificação de seus corpos.

 

Redação

53 Comentários

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  1. Como música, tirando as

    Como música, tirando as imagens, achei chato até mesmo se comparando com músicas da própria Anitta. Quanto imagem, pode até ter tido a intenção de ser uma crítica, mas o que resulta na prática é a exposição de corpos femininos e masculinos para chamar visualizações no youtube. As cenas que expõem as bundas de mulheres pra cima e um homem parecendo que as regem lembra muito uma foto do Ronaldinho GAúcho rodeado de mulheres com a bunda pra cima em sua piscina. 

    Um exemplo de música crítica ao preconceito sexual é Let’s do it , do Cole Porter. E há uma versão cantada em 75 por Ella Fitzgerald em que ela dá uma cutucada na política americana da época, pós WaterGate. O clip de Anitta já tem 55 milhões de visualizções e esse da Ella 86.000. Com certeza, daqui 100 anos, existindo humanidade, se ouvirá com prazer e admiração Let’s do it. O de Anitta, se verá pra se excitar, isso na melhor das hipóteses. Na época de Shakespeare, o que fazia sucesso de público não eram as peças de teatro, mas as rinhas de cães e ursos. 

     

    Let’s Do It. Ella Fitzgerald cantando Cole Porter, com a letra em inglês. 

    https://www.youtube.com/watch?v=2QsxjfF2X4U

     

     

     

     

    1. Joel, crítica elitista e pequeno burguesa.

      Daqui a cem anos quem vai escolher o que fica ou o que desaparece não são intelectuais pedantes, mas sim o desenvolvimento da sociedade.

      Para o povo brasileiro algo é certo, Ella Frizgerald nem é conhecida, e estamos no BRASIL.

      1. rdmaestri, concordo que o que

        rdmaestri, concordo que o que fica ou some é a escolha de um todo da sociedade – dos reis ao mendigo. Sobre Ella, concordo= estamos no Brasil e Ella é desconhecida por aqui. O exemplo que usei foi equivocado. Então no lugar dela vou colocar Cartola, o gênio que criou músicas e letras que me encantam toda vez que escuto. E a cereja do bolo é O Mundo é Um Moinho. Vi agora no youtube que essa música dele tem 3 milhões de visualisações – uma boa surpresa, confesso, esse número. A Vai Malandra de Anitta tem até agora 60 milhões quase. Acho que daqui 100 anos, se os golpistas permitrem que haja um pais chamado Brasil, se escutará O MUndo e um moinho – e provavelmente Vai Malandra será uma curiosidade a ser vista, no máximo. 

        Se ser elitista é apreciar o que a humanidade fez de melhor, então sou elitista com orgulho. E tento na medida que posso espalhar meu “elitismo”, mostrando a pessoas mais jovens poemas de Drummond e sonetos de Shakespeare, obras de Villa Lobos e Bach, de Cartola e Chico, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola. 

        E sobre ser pequeno burguês, meu caro, se eu tomar como referência o estouro do meu cheque especial hoje, pós natal, nem burguês sou rs

         

         

        1. Pois é, Joel.

          Pela régua dele, um professor de unversidade federal, com quarenta anos de carreira e todos títulos acumulados, se acha um proletário a chamar todos de… pequenos burgueses.

          1. Meu caro, confundir classe, ideologia, nível de renda é típico..

            Meu caro, confundir classe, ideologia, nível de renda é típico do IBOPE e não de análise política.

          2. Almeidinha, meu caro, certamente pertenço a burguesia, mas…..

            Almeidinha, meu caro, certamente pertenço a burguesia, mas procuro não seguir os pontos de vista da classe muito menos a ideologia, minha saiba avó sempre dizia, quem não ajuda pelo menos não atrapalha.

        2. Só vou comentar o último parágrafo.

          Minha avó sempre ensinou que o mais importante é viver abaixo do que tu ganhas, pois qualquer assalariado pródigo no sentido literal da palavra, sempre está no cheque especial, não interessando o que ganhe.

          1. Sim, eu fui pródigo nesses

            Sim, eu fui pródigo nesses últimos meses – emprestando dinheiro pro meu irmão, desempregado, pra ele não cortar o plano de saúde da família dele. Preferi dever ao banco, sabendo da areia movediça que é você entrar no chequespecial. 

          2. Emprestar para a família é nobre, porém cuidado, não …..

            Emprestar para a família é nobre, porém cuidado, não vas descobrir um santo para cobrir um outro (minha sabia avó, de novo).

            Não é uma crítica, pois também faço isto 🙂   .

      1. Apelando Almeida?

        O post em si já é uma bobagem em termos políticos, agora a apelação em cima da foto Fake que o bobalhão de cima coloca, resume a tua ação a ser digna de um site de terceira linha.

          1. Li, seu retardado. E é fake.

            Veja o site especializado em notícias fake na Internet, E-farsas.com, e como sei que se não confirmasse o que fiz coloco uma Cópia de Tela da pesquisa que realizei antes de colocar claramente que as fotos eram fakes do pastor lambe-bundas.

            Em resumo, quem copia qualquer coisa, que aparentemente serve para seus interesses políticos é alguém chamado Almeida e não alguém chamado Rogério Maestri, primeiro que o último tem nome e sobrenome e tem algo a preservar, já um Almeida da vida pode ser qualquer zé.

          2. Estás a ficar caquético.

            A esclerose te causa déficit de leitura. A foto é REAL. Ambas são reais e repugnantes. A primeira é atribuída a um suposto pastor, é disto que o E-farsa trata, sobre a alegada atribuição a um ritual comandado por um “religioso”. O clipe reproduz uma cena repugnante, como a das fotos que causaram repugnância, inclusive, em certas feministas – não vi nenhuma aplaudindo o ronaldinho gaúcho – que agora “empoderam” o clipe da Anitta. Bater palmas, de modo acrítico, para o oportunismo da indústria cultural é uma face do feminismo neoliberal, ou pequeno burguês, se preferes.

          3. Claro que a foto é real, como uma foto que tirar de uma ….

            Claro que a foto é real, como uma foto de uma parede branca, real mas não diz nada! Sites especializados em descobrir fake-news já deram seu veredito técnico e olha que os caras são profissionais, porém o teu portunismo é amador.

             

          4. Uma parede branca é grotesca ou causa repugnância?

            Queria ler seu comentário sobre as cenas retratadas, já que reconhece que as fotos são reais. No clipe da Anitta tem uma cena igual. 

            Durante décadas se ouvem feministas pê da vida, e com muita razão, sobre o fato de usarem bundas femininas pra vender a indústria da cerveja. Agora aparecem algumas defendendo o mesmo uso de bundas, pra vender a indústria do funk. Vai ver é porque são bundas pretas e pobres. 

            Um pouquinho de coerência sempre melhora o discurso político.

      1. Origem,

        Caríssimo,  não obstante o teor bizarro das imagens, você poderia ao menos ter se dado o trabalho de abrir o link da origem, que tive o cuidado de publicar.

        É de se lembrar, outrossim, que o que nos parece bizarro pode ser normal em cultura diferente da nossa.

        Em sendo assim, segue o post completo.

        Abraços e

        Boas Festas.

        PS-Você anda muito amargo!

        Pastor lambe bumbum de crentes solteiras para terem maridosPor: redação – Data: 22/01/2015 – 01:16:44O mundo da religião está cada vez mais distante de ser um mundo onde a palavra de Deus é verdadeiramente seguida tal como encontramos nas escrituras, em parte que hoje vem acontecendo mostra que algumas  igrejas estão mais interessadas em actos carnais e não espirituais.

        Essa imagem mostra um pastor na Angola, que convidou todas as crentes solteiras à praia para ajuda – las a ter marido,  mas para isso todas elas tinham que ficar nuas deixadas na areia e com os rabos inclinados para cima. Todas elas fizeram o que o pastor pediu, e o pastor começou a lambe – las o bumbum um por um até terminar o trabalho que tem como objetivo ajudar as crentes solteiras a conseguiram marido,  tudo aconteceu nesse último domingo (18).

        Uma chamada de atenção todos aqueles que dizem ser crentes, não sejam tão burros em crer que um milagre de lambe bumbuns, vai te dar marido ou te dar a salvação,  toma muito cuidado no que fazes quando vai a igreja, e defina sempre bem o que você procura na igreja, não siga o vento, que ele pode te levar ao inferno ou até a praia.

        Se você acha que esse pastor devia prestar contas com a justiça,  pôs eu não.  Todas essas mulheres burras e desesperadas, é que deviam levar uma surra e serem castigadas por terem acreditado numa crença dessas.

        fonte trabuconoticias.com

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  2. Anita é maravilhosa, toda,

    Anita é maravilhosa, toda, todinha…

    Mas, o cenário ao fundo, é o cenário do histórico de corrupção que permitiu a favelização!

    Não há como ficar inerte a beleza estonteante da Anita, com a pobreza do Brasil – um contraste real!

    Esse bando de juiz e procuradores precisam ver o povo – eis parte do pais que não ganha cem mil reais por mes!

    É este povo que esses bilionários corruptos vão fazer sangrar, para aumentar seu rico dinheiro que será enviado livre de impostos para paraísos fiscais…

  3. Diálogo na redação

    — Tô sem assunto e preciso fazer um textão que renda muitos cliques, curtidas e compartilhamentos.

    — Escreve alguma coisa sobre a bunda da Anitta.

     

  4. O discurso da esquerda pequeno burguesa se associa a TFP.

    Após as lutas levadas pela Tradição, Família e Propriedade (TFP) e suas ramificações e congêneres direitistas e fascistas das décadas de 60 até 80, quem toma a frente do discurso teórico da moralidade é a esquerda. Não satisfeitos com o discurso dogmático, religioso e sem base científica dos Padres e Pastores que prometem o inferno após a morte os despudorados membros da música Funk proveniente dos morros e favelas brasileiras, a esquerda pequeno burguesa levanta seus argumentos pontuais contra a internacionalização de uma estética e de um gosto musical característico das classes sociais mais baixas.

    Realmente a “indecência”, a “falta de pudor” a mostra do corpo nu ou seminu dos interpretes e demais artistas deste gênero musical, se ficasse restrito aos morros cariocas na demonstração da sexualidade sem controle, seria e foi algo tolerável durante anos a fio.

    Negros, negras, pardos e pardas rebolando em bailes funk é algo que para uma pequena burguesia do PSOL e que nem consegue nunca penetrar nas zonas populares brasileiras, se ficar restrita ao nosso meio, é algo bizarro e tolerável pelos pequenos burgueses, afinal como diria o nosso atual narrador da sociedade brasileira, Jessé Souza, é algo característico da “ralé brasileira”.

    Porém se fosse somente isto ainda seria tolerável, entretanto a imagem que transmite o videoclipe do “Vai malandra” é simplesmente algo que deve mesmo ser combatida pela esquerda pequeno burguesa brasileira, pois simplesmente o morro mostra ao exterior muito melhor o que realmente ele é do que centenas de palestras e exposições no exterior promovidas por estes grupos que se acham de esquerda, não tem faixas com suas palavras de ordem fantásticas que mudam a cada momento que se veem derrotadas, não há grandes explicações sociológicas sobre a origem do povo brasileiro, e o pior de tudo, o MORRO NÃO É TUTELADO na sua expressão por belos e lindos movimentos das “massas cheirosas” da esquerda pequeno burguesa.

    Vários órgãos da imprensa da “esquerda revolucionária”, como no Brasil a Revista Marie Claire, as Organizações Globo e no exterior outros exemplos de publicações extremamente revolucionárias ligadas a XXIIIª Internacional socialista como Vogue e Vanity Fair, geram argumentos consistentes como as trancinhas da Anitta, seríssimo caso de apropriação cultural, ou mesmo a mostra da abundância da mulher brasileira ou de corpos malhados de dançarinos masculinos. Realmente as poucas imagens em que aparecem populares criaturas dos morros cariocas, senhoras robustas, travestis ou populares comuns num surto de alegria que inveja a sisudez de pequeno burgueses reprimidos, não é o suficiente, talvez no próximo clip da cantora fosse necessário que em 90% do tempo se mostrasse pessoas de uma estética corporal não convencional e aceita pela grande imprensa.

    Saindo do “modo ironia”, pois já acho suficiente, as obras de Jessé Souza mostram claramente que a visão Platônica da divisão de espírito e corpo e espírito, sendo que o primeiro um privilégio dos Europeus Brancos e Cristãos, não pode e não deve ser contraposta pela visão integrada de corpo e espírito típico de tradições não europeias. A mostra do corpo com o sem celulite, com o sem gordura, porém vinculado a uma arte popular e exuberante que mostra que a pobreza e a miséria do morro pode ser contrabalançadas em momentos de alegria de criatividade que escapam por completo do domínio teórico de uma pseudo-estética de esquerda.

    A visão do corpo seminu de mulheres que possuem o seu corpo e quando querem deixam ser possuídas, enerva extremamente a esquerda pequeno burguesa, pois para os mesmos eles é que devem guiar os padrões de comportamento do povo brasileiro.

    Anitta perturba, ela descontrói mitos pequeno burgueses que deveria ser dominantes nas classes mais desfavorecidas, se ela está ganhando dinheiro e popularidade no exterior, é por seu trabalho, seu trabalho com o corpo e com o intelecto, de forma interligada como poucos Platônicos esquerdistas nunca conseguiriam.

    Manifestação popular, com sucesso ou não tem carácter revolucionário em si mesmo, pois criando a sua própria estética, uma estética baseada não na ruptura de corpo-espírito, rompe com os grilhões que as classes dominantes, não satisfeitas em possuir o capital, querem possuir corações e mentes.

    1. Vou “desenhar”, pra ver se entendes. Começo pelas apresentações:

      [video:https://youtu.be/usNpIwHsUMQ%5D

      A primeira é Jessica Milaré, autora do artigo ‘Vamos falar de celulite’, criticado aqui pela segunda, Izabella Lourença, no artigo que postei. Ambas são de esquerda, feministas e militam na mesma organização. O que Izabella mostrou foi um ponto de vista discordante, normal dentro da pluralidade da esquerda não estalinista e caquética, sobre um clipe da indústria cultural capitalista.

      Izabella foi além da “celulite”, procurou mostrar que “Nem tudo o que parece libertador na superfície, de fato o é na essência”. Elogiou a cantora, por exemplo, pelo combate da PL 1256, sobre a criminalização do funk, assim como apontou suas “bolas fora”. Há feminismos, entenda. O que uma branca pode achar de “libertador” no clipe – “É entendível que as mulheres brancas no Brasil ainda sofram com o papel de “recatadas”“- uma negra pode discordar.

      1. Tá uma gracinha este teu comentário, principalmente quando……

        Tá uma gracinha este teu comentário, principalmente quando acusas a “esquerda estalinista” de apoiar Anitta.

        Me dobrei de rir com tamanha imbecilidade.

        1. Seu déficit de leitura está algo sério.

          Onde é que eu disse que a esquerda estalinista apóia a Anitta? Olha, dá uma olhada na sua esclerose. Vá se tratar.

          1. É? Então que significa a seguinte frase?

            O que Izabella mostrou foi um ponto de vista discordante, normal dentro da pluralidade da esquerda não estalinista e caquética, sobre um clipe da indústria cultural capitalista.

          2. Eu tenho que desenhar?

            Ela mostrou, publicamente, discordância de uma companheira da mesma organização. Isto não acontece em organizações estalinistas, sob “centralismo democrático”, ou burocrático, o que é mais exato para definir o centralismo estalinista, onde as opiniões têm que ser uniforme com a dos chefões da nomenclatura, mesmo noa assuntos de menor relevância.

          3. É por isto que os grupelhos liberais trotskistas não ……

            É por isto que os grupelhos liberais trotskistas não conseguem reunir mais de quarenta e seis militantes, passou da lotação do ônibus aparece uma fracção.

  5. Anitta e a mídia que a incensa

    Mais um excelente post, do GGN.

    Começa a cair a ficha. Se a mídia está incensando Anitta, e a mídia nada de bom faz pelo Brasil nunca, então podemos ficar com um pé atrás.

    Além de queimar a ficha do Brasil no exterior e dificultar a vida de quem quer imigrar, mostrar favelas espanta os turistas, que são em número bem pequeno para um país tão imenso quanto o Brasil.

    A mídia não cansa de mostrar tudo o que há de pior no Brasil seja a violência explosiva, que nos deixa no ranking de um dos países mais violentos do planeta, ou as favelas, ou as decapitações em presídios, e estampa isto com tanta frequencia, que depois não sabemos porque temos apenas 6 mil turistas por ano visitando o nosso país.

    ———-

    A mídia incentiva todo tipo de assunto polêmico ao máximo, como nudez em museus visto até por crianças, etc, com a intenção matreira de angariar votos para deputados ultra conservadores e pseudo religiosos, que na verdade votam pelo empoderamento da mídia.

    Num país relativamente conservador como o Brasil, com 35 milhões de Evangelicos e mais de 120 milhões de católicos, incensar videos como o de Anitta, ou eventos como o nudes do museu, é jogar gasolina na fogueira do conservadorismo e turbinar a candidatura dos deputados pseudo religiosos.

    E o principal, que é a entrega do Pre-Sal e da nossa soberania, bem como a crise econômica, ou o corte de direitos, e a reforma da Previdência, ficam meio que ofuscados por uma cortina de fumaça, acaba ficando em segundo plano. No final das contas,  o que acaba norteando o voto dos eleitores e ficando em primeiro plano, é o ” resagate da moralidade “, o voto em deputados que são ultra conservadores em questões sexuais, mas entreguistas nas questões nacionais.

    Podem ter certeza que os deputados pseudo religiosos se depender das polêmicas levantadas pela mídia, conseguirão maioria na camara em 2018. E as potências que encomendaram a entrega do Pre-Sal e de nossa soberania agradecem à mídia, e aos deputados peseudo-religiosos.

     

    Por estas e outras, evito assistir a mídia, evito apoiar assuntos polêmicos de nudes, etc. A neutralidade em assuntos alheios a política econômica, em um país com tantas opiniões divergentes, e tantas religiões, é um grande aliado.

     

    Nudes? Não aprovo, não desaprovo, não promovo.

     

     

    1. Meu caro, vários erros na tua análise.

      Primeiro erro: Estás errando é que a repercussão do vídeo de Anitta não foi assim tão intenso na mídia, mas sim nos canais autônomos nacionais e internacionais do YouTube, foram dezenas ou até algo em torno de uma centena de canais totalmente independentes que repercutiram o vídeo de Anitta, na mídia tradicional mais houve críticas do que apoios, se seguires o teu raciocínio então se a mídia está contra é porque é bom!

      Segundo erro: Os conservadores devem ser encarados de frente e não em retirada! Ou seja, se eles estão contra então aí mais que deve ser divulgado e apoiado. Exatamente ao contrário da política de avestruz de se esconder para não sofrer críticas. Estas hostes de intolerantes devem ser combatidas e não ignorada.

      Terceiro erro: O Brasil é o que é, as favelas existem e ao contrário do que escreves a imagem transmitida pelo video de Anitta é extremamente positiva em relação as mesmas. Elas são pobres, enjambradas, porém tem lugar a alegria. é mais imoral mostrar os desfiles das escolas de samba que perdem o controle das comunidades e terminam se transformando em verdadeiros espetáculos onde a burguesia paga para estar presente, do que mostrar o Funk das favelas, que ainda não foi totalmente comprado pelo sistema.

      Quarto erro: Combater Anitta, ao contrário que possas pensar, é exatamente fazer a campanha de esterilização da manifestação popular nas comunidades. É incentivar os pastores reacionários que são contra a música profana, a dança e a estética derivada dos movimentos populares. É um verdadeiro ranço pequeno burguês e deixa claro porque partidos de esquerda pequeno burgueses, como o PSOL, não penetram nas comunidades.

      Quinto erro: Deve-se sim combater a falsa moralidade dos pastores conservadores, pois o que resiste a estes é exatamente a música e a alegria, e não dizer que eles são contra o pré-sal.

      Sexto e erro mais grave: O vídeo de Anitta, é mesmos apelativo do que a maioria das coisas que são divulgados na TV e Internet, o que choca é exatamente a ênfase dada a comunidade pobre do que as suas imagens erotizantes.

      Quanto a nudez, não vou fazer nenhum juízo de valor, pois se compararmos anacronicamente o que era considerado nudez em 1900 ou em 1950, veremos que uma “pelada” em trajes de banho em 1900 nos dias atuais seria uma roupa conveniente para conservadores extremamente religiosos nos dias atuais. Logo meu caro, a essência é considerar o corpo como tendo a necessidade das suas partes ditas pudendas ou provocativas em serem escondidas, simplesmente porque a sociedade convenciona em determinada época e local que isto ou aquilo pode ou não pode ser mostrado..

      1. Caro Maestri

        Em primeiro lugar agradeço a atenção.

        Resumo seu comentário ao seguinte pensamento:

        O Sr. é a favor da nudez. É um direito seu sem dúvida. Como é o direito dos conservadores neste país que são maioria aliás, ser a favor do recato e da moralidade. Prefiro não julgar entre certo ou errado, mas respeitar ambos.

        A esquerda neste país que soma uns 20% quer ” enfrentar os 35 milhões de Evangelicos, e os 120 milhões de católicos, e depois governar o país com apenas 37 deputados. É um direito desta ex-querda sem duvida. Eu pessoalmente só sou contra o entreguismo dos deputados peseudo-religiosos, na área econômica, nada mais. Se eles quiserem incentivar o povo a se vestir com recato, é um direito pleno deles, na minha opinião, isto num país multi cultural e multi-religioso como o Brasil precisa ser respeitado também, senão criamos um confronto permanete em torno de assuntos sem importância. Enfrentar conservadores em questões de sexualidade e moralidade como se eles não tivessem direito de existir, só cria uma Jihad sem sentido, uma intolerância, que no fim acaba se voltando contra a própria ex-querda.

         

        O teu direito de defender a nudez é tão sagrado quanto o direito dos copnservadores de defender o recato, e ambos podem conviver pacificamente no mesmo país, se respeitando. ISto na minha opinião, claro. Este pensamento tem mais valor ainda na medida que eles são maioria nas urnas.

        Já imaginou se estivessemos em um país como a Nigéria, ou a Arábia Saudita, irias atacar os conservadores e os islâmicos de frente? Jogarias miais combustível na fogueira das guerras ” santas”? Caro Maestri, a convivência pacífica com todas as religiões é o único caminho para países multi-religiosos.

        ——

        Em nenhum momento defendi combater Anitta, e sim ignorar Anitta e a mídia. Por isto sugeri mudar de canal ou não acessar os videos de Anitta. Combater geralmente dá mais forças ainda ao que se combate.

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        Acredita que favelas são algo normal? É uma opinião sua, caro Maestri, um direito seu. Saiba porém que em países de primeiro mundo, eles não pensam assim. Favelas, lá são proibidas. Favelas, com criminalidade alta, esgoto a céu aberto, casas construídas em lugares de risco, em quase todo primeiro mundo são não só proibidas, como vistas como sinal de pobreza e sub desenvolvimento. Mas é um direito deles pensar assim também. Assim como um direito seu achar que favelas são algo normal.

         

        Caro Maestri, prazer poder debater idéias com o Sr.

        Saudações Cordiais.

         

        ” A mais elevada forma de Inteligência, é a capacidade de observar sem julgar”.

         

         

         

        1. Caro Zé Guimarães, uma coisa é discutir um assunto, outra é ….

          Caro Zé Guimarães, uma coisa é discutir um assunto, outra é raciocinar em círculos fechados, simplesmente ignorando o que o outro escreve.

          Parece que a atenção que dei ao Sr. foi bem maior do que o senhor retribuiu. Não adianta ignorar o que o outro escreve e simplesmente JULGAR e NÃO LER as respostas, isto é o que se chama reciocinar em circulos fechados.

          Tomando um exemplo simples, o caso de vestimento e nudez, os padrões como coloquei no último parágrafo são mutáveis, e alguém que se diz “conservador” eu pergunto o que seria em definição alguém conservador?

          Um conservador seria alguém que segue os preceitos do passado? Mas se for isto qual é o ano referência? Se for 1500 os nacionais da terra andavam todos pelados, logo um verdadeiro conservador teria que retroagir até esta data. Porém se um conservador tomar como referência outro ano, qual será este ano? Eu poderia, por exemplo, dizer que o meu padrão de conservadorismo seria os anos da década de 70 em que eu era jóvem, mas outro com menos idade poderia dizer que seu ano BASE fosse os anos da década de 80!

          Quanto a respeitar ou simplesmente viver de acordo com a moral religiosa dos outros é algo mais bizarro ainda, pois a medida que estendermos o nosso raciocínio ficará cada vez mais incongruente. Cientes que de acordo com o trabalho de preparado por David Barrett para O Boletim Internacional de Pesquisa Missionária, existem no mundo mais de 100.000 denominações religiosas e somente as cristãs o número ultrapassa 35.000 denominações. No Brasil atualmente ninguém se aventura a dizer um número de denominações religiosas, pois deve já ter ultrapassado tranquilamente a cifra das 10.000 denominações!

          Em resumo, meu caro amigo, ser conservador ou seguir preceitos de vestimentas de acordo com a religião de todos, são argumentos completamente incoerantes, pois desde a definição é difícil caracterizar o que seriam estes dois preceitos.

          Eu sou engenheiro, e fui professor de Mecânica dos Fluídos e Hidráulica durante quase quatro décadas, por isto não abro mão de definições para discutir algo, ou seja, se 1 mais 1 é igual a 2, é porque simplesmente foi definido a métrica dos números naturais com clareza.

          Basear nosso comportamente em métricas totalmente móveis com o tempo e com o espaço é algo impossível, é algo que além de contrariar a matemática, contraria o que chamamos de bom senso e uma inteligência racional.

          1. Totalmente fora do assunto

            Se existe um assunto difícil é hidrodinâmica. Invejo que sabe a ponto de ensinar, estudar aquilo – se me permite o termo – é osso duro de roer.

          2. O que é Conservador

            Caro Maestri.

            Eu não havia percebido a sua pergunta implícita no comentário, peço desculpas.

            ” O  que seria em definição alguém conservador?”

            Está bem, vou responder na minha concepção.

            Conservador na política hoje em dia em nosso país, é alguém que vota pelos partidos de direita. Geralmente faz isto porque é desinformado, ou porque faz parte da elite, do empresariado que é patrão, e quer cortar direitos dos funcionários, para aumentar os lucros, ou quer isenção de impostos para si mesmo, para ficar mais rico ainda. A maioria destes indivíduos, pouc se importa se o país será entregue para os estrangeiros, se o Pre-Sal será vendido a troco de bananas, desde que esta classe social possa manter seu gordo lucro. Realmente não são nacionalistas estes sujeitos, a pátria deles é o dinheiro, são mercenarios venais.

            Neste ponto sou progressista, pois sou contra a entrega do Pré Sal, contra o desmonte da indústria nacional, etc.

            ————

            Mas tem o conservador nos assuntos de religião, de sexualidade também, e este conservador nem sempre é um conservador político.

            Conservador, nos costumes e na sexualidade é alguém que é a favor do Recato, e do pudor.

            E o progressista nos costumes e na sexualidade é alguém que é a favor liberação da nudez, em maior ou menor grau. 

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            Isto nada tem a ver com épocas, nem com classes sociais. ISto também não é bom nem mau, mas depende do contexto.

            Houve épocas, na Antiguidade em que a falta de pudor, e a libertinagem, dominaram alguns países, como Babilônia, Sodoma, Gomorra, Laomor, e pouco antes do fim do Império Romano também. Os romanos eram famosos por seus bacanais, por seus prostíbulos, e por suas orgias.

            Isto que vcs chamam de ” progressismo ” já existia há milhares de anos atrás, na Babilônia. Geralmente tal desregramento acaba precedendo o fim dos Impérios, países e civilizações.

            Para provar que a nudez não é nem boa, dependendo do contexto, nem má, cito o exemplo de nosso indígenas, que viviam nus, mas eram inocentes e puros de coração, coisa que hoje seria quase impossível de termos uma nudez assim, com tamanha inocência.

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            Assim também, o conservadorismo, na sexualidade e nos costumes, pode ser bom ou ruim, dependendo do contexto, ou das circusntâncias.

            Após a queda do Império romano, veio a Idade Média, onde passou a reinar imenso Recato. Mas era um recato imposto a ferro e fogo, nas fogueiras da inquisição. Todo excesso é ruim.

            Ao passo que o Recato que veio após a queda da inquisição quando houve a Revolução Francesa, foi um Recato mais ameno, mais suave, que durou até uma parte do século XX. ISto prova que mesmo o Pudor e o Recato, quando adotados sem imposição e com moderação, podem ser bons.

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            Uma grande parte do Brasil, sobretudo no interior, vive com costumes extremamente conservadores, e se vestem com recato, isto é apenas um fator cultural, digno de respeito, não é bom nem ruim,

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            Nas ciência humanas, não se pode levar a ferro e fogo, como nas ciências exatas, o conceito de certo e errado, porque a ciência exata é unificada em todo o mundo, já as culçturas humanas, não, pois  existem milhares de religiões, de povos, de costumes, e a única maneira de conviver pacificamente, é respeitar todas, o que não quer dizer concordar. A moderação e o respeito mútuo são o elemento chave para várias culturas conviverem em paz.

            Não precisamos viver de acordo com os costumes de outras culturas para respeitá-los, basta procurar ver algo de verdadeiro na cultura alheia, para nos colocarmos no lugar do de outra cultura, e conseguimos ver com bons olhos. Por fim a gente vence a cultura ” adversária ” quando conseguimos amalgamar elementos da cultura dela que consideramos verdadeiros, e da nossa em uma só cultura, e assim, passamos a ter uma identidade com ambas as culturas.

             

            ——

            Todas as dez mil denominações religiosas a que o Sr se referiu, tem um perfil semelhante, são conservadoras na moral e nos costumes. apesar de terem denominações diferentes.

            Se eu viajasse para um país Islâmico, tentaria me vestir como eles, agir ao máximo nos seus costumes, embora preservando a minha religião e modo de pensar ocidental. E voltando para cá, voltaria a me vestir como brasileiro, e agir como brasileiro, embora tivesse uma visão cultural enriquecida

            O mesmo se eu viajasse para qualquer lugar do mundo, Europa, países Asiáticos, África, Oceania, tentaria aprender tudo da cultura que considerasse verdadeiro, e amalagamaria com a minha cultura, para no fim ter uma cultura enriquecida. O mesmo se eu viajasse pelo Brasil, em regiões pobres e de favelas, me vestiria como a maioria lá, ou em regiões do interior do Brasil, , onde há recato, me vestiria como a maioria, e nem por isto deixaria de ser eu mesmo.

            Para isto é necessário ter flexibilidade mental.

            ———-

             

  6. O que pode um funk?, por Ivana Bentes

    Melhor análise que li sobre o tema. O resto é mais do mesmo… Já deu!

    ***

    Tutudum! Hipnótico o novo clipe de Anitta! Retomando essa figura meio arquetípica do Brasil, o funk feminino de Anitta incorporou as questões de gênero conjugando a malandragem com um feminino plural.

    Vai, Malandra, o clipe, traz verdadeiros memes visuais, culturais e musicais que valem por um tratado sociológico. Ainda não se escreveu, e faz falta, um tratado sobre os corpos pensantes das mulheres, para além do imaginário em torno da bunda, da raba, do bumbum, do traseiro da mulher brasileira,  que virou um disparador de questões sensações!  O corpo sexualizado na era da sua ressignificação pelas próprias mulheres!

    Um corpo que o funk, o samba, o biquíni de fita isolante, toda a cultura solar carioca já vem dizendo, tem tempo, que não precisa ser  apenas objeto e signo de assujeitamento, toda vez que quiser se exibir.

    A bunda (e o corpo das mulheres) pode se deslocar da objetificação para a subjetivação! A bunda viva de Anitta com sua celulite sem photoshop é sujeito e não objeto. Se as mulheres fazem o que quiserem com seus corpos (a Marcha das Vadias explicou isso para a classe média), elas podem inclusive se “autoexplorarem”, ensina o funk. A bunda ostentação de Anitta no início do clipe já aponta para esse outro feminismo (de mulheres brancas, apenas? Acho que não!)

    Sabemos que o feminismo negro questiona, e com muitas razões, o feminismo branco liberal. Pois a emancipação do corpo as vezes se confunde com sua exposição e objetificação, para um grupo em que racismo e sexismo significaram a exploração violentíssima do corpo exposto e hipersexualizdo da mulher negra servindo ao gozo de seus algozes. Mas é sempre assim?

    Foram as mulheres do funk (Tati Quebra Barraco, Deise Tigrona, Anitta etc.) e depois as meninas pretas do rap e do pop (de Nega Gizza a Karol Conka) que vem fazendo essa outra política, esse outro feminismo, na marra. Expondo seus corpos de maneira ativa, muitas vezes escandalosa, falando de desejo, sexualidade, multi parceiros, posições sexuais, motel, masturbação, corpo gordo, celulite, beleza negra, sexo anal, oral, sexismo, patriarcalismo, gozo, de forma explícita e desencanada.

    Leila Diniz (mulher branca da Zona Sul) virou musa pelo seu comportamento libertário, que agradava mulheres e homens, mas existe toda uma linhagem outra das mulheres negras e brancas periféricas que ainda são consideradas “vulgares” quando assumem sua virilidade. E fato é que essas mulheres da periferia meteram o pé, entraram nas universidades e hoje temos entre as novas divas contemporâneas,  de Anitta até uma jovem negra universitária, fashion e filósofa, como Djamila Ribeiro e outras mulheres incríveis e lacradoras, como se diz.

    Mas voltemos ao corpo. A “surra de bunda” que Anitta mostra a certa altura no clipe não é só sacanagem ou vulgaridade. Se Anitta decide oferecer seu bumbum para ser cutucado por dedos masculinos ou feito percussão de forma lúdica, quem vai achar ruim? Os homens brincaram com seus paus por séculos e erigiram uma cultura falocêntrica, que se auto homenageia, um paucentrismo, que produziu “tudo que está aí”.

    Deixem as mulheres brincarem com suas bundas, bucetas etc. E mais: deixem as mulheres ganharem dinheiro e projeção com seus corpos, no comando da própria monetização de suas vidas – e não sendo assujeitadas. As mulheres têm que ter o copyright e serem as principais beneficiadas de séculos de assujeitamento e sexismo.

    Essa periferia global, cultural, potente, dos corpos que falam, do parlamento dos corpos (das mulheres, dos gays, trans) é o que torna ainda mais intolerável e insuportável o massacre epidêmico dos corpos negros e periféricos, pela polícia e pelo Estado, ou o feminicídio, em um país como o Brasil.

    Existe uma potência dos corpos periféricos, negros, femininos, que o funk ostentou, que o rap e o feminismo negro deslocou, tirou do lugar de “objeto”, numa reviravolta cultural que explicita o outro lado: o racismo de base da nossa sociedade e as contradições da cultura pop global brasileira.

    Além do funk hipnótico minimalista – “Ê, tá louca, tu brincando com o bumbum. Tutudum!” -, Anitta coloca os homens de coadjuvantes: o incrível funkeiro brasileiro MC Zaac e o rapper norte-americano Maejor . Ela comanda o espetáculo pop.

    Desde  o início do ano 2000, quando explodiu a produção cultural das periferias em todos os campos, que certo estranhamento se dá. Quando se vê que, mesmo querendo entrar no mundo do consumo, das marcas, das comodidades do mundo capitalismo, parte dos artistas, produtores culturais, ativistas da periferia que ascenderam socialmente, não querem abrir mão da sua cultura e pertencimento, do seu território.

    Estão aí, no clipe de Anitta, filmado no Vidigal, os memes culturais da periferia pop e global: a popozuda com o corpo sendo regado por homens sarados que as servem; o biquíni de fita isolante da Érika do Bronze (a mulher que monetizou a marquinha de sol! Isso que é startup!); o pobre-star que pauta os editoriais da moda praia ao ativismo;  a reinvenção do cotidiano que transforma a carroceria de um caminhão velho em piscina e felicidade; a funkeira negra, gorda e glamourosa, Jojo Toddynho; a cultura evangélica “Ergo a bandeira da vitória em nome de Jesus”; as trans, o black power nos corpos e cabelos, as louraças e os meninos de cabelos descoloridos.

    Toda essa cultura da laje, de uma pobreza potente, inventa mundos, modas, gírias, linguagem, inventa a sua própria vida. Se hoje o Brasil, associado a corrupção das suas elites, crise ética, perda de direitos, retrocessos comportamentais, tem outros horizontes, passa por essa força dos corpos e sujeitos que emergiram das bordas e podem reinventar a nossa trágica e solar democracia. Os corpos como política.

    Anitta e a Teoria King Kong

    Uma outra questão: Anitta faz parte da emergência de um feminino e feminismo viril! O masculinismo e a virilidade podem, sim, ser apropriados e transformados pelas mulheres, como propõe a Teoria King Kong, de Virginie Despentes, o manifesto mais ácido para um outro feminismo que chuta uma quantidade extraordinária de baldes e lugares comuns sobre as mulheres e reivindica para si as vantagens inerentes à masculinidade e à virilidade.

    Do que nos diz Virginie Despentes  e que vale para o feminismo viril de Anittas e que tais eu destacaria:

    – “o exercício direto do poder”, pois espera-se que renunciemos a esse tipo de prazer em função do nosso sexo.

    – o direito de comercializar e negociar nossos “encantos” e explicitar essas relações em contratos saudáveis e claros entre sexos. “Não precisa nem complicá-lo e nem culpabilizá-lo”. E aqui Despentes está falando, inclusive, da prostituição como trabalho digno e todos os demais usos monetizáveis que podemos fazer de nossos corpos. Como fazem as “minas” do funk!

    O desafio é um só: abandonar a “arte do servilismo” que diz que as mulheres não devem se expor, não devem falar alto; não devem se expressar em tons categóricos; não devem sentar com as pernas abertas; não devem se expressar num tom autoritário; não devem falar de dinheiro; não devem conquistar poder; não devem ocupar um posto de autoridade; não procurar prestígio; não rir muito alto; não ser muito engraçada. A lista de “nãos” é infinita!

    Por isso é tão importante as Anittas e as mulheres que estão produzindo um outro imaginário, mesmo clichês, mesmo questionáveis, mesmo dentro de um campo de consumo. É possível politizar o pop, o fervo, o funk? Na real, tudo já é político. Estamos em uma disputa de imaginários.

    “O que pode um corpo?”, Pergunta o filósofo. E o que pode um corpo de uma mulher do funk, o que podem as mulheres das periferias, as negras e brancas? A mais incrível batalha não começa na mente, começa nos corpos e pode ser ao som do hipnótico tutudum.

    https://revistacult.uol.com.br/home/anitta-vai-malandra-ivana-bentes/

  7. Elza Soares elogia Anitta:

    Elza Soares elogia Anitta: ‘Que domine o mundo e cale a boca de muita gente’

    Artista consagrada e com 56 anos de carreira, Elza Soares fez um elogio a Anitta. A cantora de 79 anos afirmou numa rede social que a Poderosa, de 24, é talentosa e merece “dominar o mundo e calar a boca de muita gente”.

    “A Anitta tem todo esse talento mesmo. Que domine o mundo e cale a boca de muita gente”, elogiou ela, se referindo ao sucesso que a cantora está começando a fazer no exterior.

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