As terras ‘de onde canta a jandaia’, por Adriano Lira

Enviado por JNS

As terras ‘de onde canta a jandaia*’

Por Adriano Lira 

Do blog Iguana Sem Estilo

   

* já leu ‘iracema’, viado? sorte sua…

Vou parar meu carro na frente do cabaré

Hoje, acordei ao som de um ritmo músical digno das minhas tradições nordestinas. Bateu uma puta saudade do Ceará – lugar Pai d’égua da peste! Tanto que desenterrei uma música maravilhosa – cujo primeiro verso é o título da minha postagem hoje – que regeu minhas férias dos últimos anos, regadas a etanol e libertinagem.

_________________________________________________

A partir daqui o artigo será escrito em uma variante linguística diferente da norma urbana culta.

_________________________________________________

Rapá, o Ceará é um lugar quente de rachar o quengo, macho véi. O povo do Ceará é que nem mangangá, meu véi – todo lugar dexe Brazilzão tem um cearense – aquele caba que te atendeu na padaria, rapariga, é primo dexe caba que tá lhe escreveno aqui, visse? Ertudos mostram que metade dos caba do Brasil tem descendença cu povo do Ceará.

Marrintão, eu sô de Tauá, sabe? Ali pertim da Várzea do Boi, onde tem us cabaré, sabe? É, macho, pertim de Quiterianópi. Valamedeus, pense num lugar bonito!

Pense num lugar graaaande. Rapar, ali num chove de jeito maneira! Deve chuver no máximo uma vez ao ano, ali na época das água de março. Cuono chove, o povo vai todo pras calçada. As veinha param de fofocar e até dão beijú pras criança. O coroné doa feijão pras famia mais pobre. Arlabigoda ficam tudo filiz, os soinho sai tudo da mata, macho. O céu todo azul, rapá. Peeense num negócio bonito da perte. No domingo depois da chuva, o prefeito faz um forró no meio da rua.

O açude sangra! Todomundovaiterumbardedeáguaprorertodoanomaaaachoveeeei! Eita, fiquei tão feliz que atropelei as palavra.

Em Tauá não tem polícia. A PM do Ceará saiu da delegacia e o Chico Milton, compadre da minha mãe (Sério!) ferrumrertaurante pupovo comer buchada. Todos os findiano, os conterrâneo de São Paulo, Rio de Janeiro, Governador Valadares e Bucareste vortam pro Ceará, né, pra passar as féria.

Eita Pau!

Rapá, é bomdimais! Entra dinheiro na cidade, pois os forrozeiros playboys cearenses voltam a fim de dançar forró e beber cachaça, carai! Com seus carros conquistados através de golpes – e com uma modesta aparelhagem de som – eles vêm e ar quenga de Tauá caem em cima, macho – elas podem conseguir uma sandália ou um saco de açúcar de presente se o vucovuco for bem feito. O meu azar é que eu não tinha carro. Mas tudo bem, eu não sou tãão espezinhado – e bastava eu falar a palavra mágica, divagazinho – “Sãão Paaulo”! Aí elas já sabem a origi do caba né. E a gente pega ;D.

E tem o mé, também, maaacho. Rapar, ar fulegare que tem no Ceará iam ser tudo paia sem a cachaça. Fiquei cheio dos pau, mutcho loko, pela primeira vez, lá no Ceará. Eita pau! Ypióca da boa. Eu lembro que o caba que tocou a seresta até ria de mim! Devo ter pegado uma pá de cotovia esse dia, visse!

Outra corra. Tauá fica na divisa com o Piauí, né? Bando de fidiputa. Rão se lascá, seus fidiquenga! Renha ficá frescando no meu blog não. Bando de piauiensa safado. Tudo uns caxaprega, vão pa baxa da égua, carai! Venha botar boneco aqui não, porra!

_________________________________________________

“Leve um casaco” – Frase dita para um piauiense que vai ao Ceará

_________________________________________________

Só pra terminá, que tá chegano a hora do armoço e depois eu vou sestar. Um dia, os cearenses vão tudo dominá esse mundão de Deus, com a ajuda do Padim Ciço. Nós semos tudo mais desenvolvido que esse povo todo aí, macho. Ou rocê acha que aquele cabeção é à toa, macho?

Simbora pro Ceará, rapá. Se avexe e num fique frescano aí não!

_________________________________________________

Aqui acaba a variante linguística que difere à Norma Urbana Culta.

_________________________________________________

Qualquer dúvida, pergunta que eu tento traduzir. ;D

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O CEARÁ.

    Uma pequena lembrança da vida.

    Nos anos 90 estive no Ceará por alguns meses fazendo um levantamento de recursosde saúde de uma grande região. Vi uma coisa muito boa acontecendo, a estrondosa queda da mortalidade infantil, em minha maneira de ver, devida ao soro de reidratação oral, ao programa saúde da família e a melhora das condições de habitação.mas vi também outra coisa que é mais ou menos o que descreve o “cumpahero “Cearense, só com uma grande discordância, NÃO via “quengas” e sim meninas, em sua quase totalidade menores, que estavam acreditando que aqueles, também na maioria, que tinham ido pro sudeste, dado um duro danado, comido mal e morado pior ainda, mas voltado com algum dinheinho que dava para pagar um refrigerante, um tira gosto, ou até uma cerveja ou caipirinha. E depois de alguns encontros ficavam para trás aquelas meninas para encher as estatísticas de Mães solteiras com 15 ou 16 anos. Espero que isto também tenha acabado!

     

    1. não

       

      A prostituição infantil num cabô não, Márcio Véi!

      Desenho feito em Fortaleza, Ceará (Foto: Paulo Ito)

       O artista urbano Paulo Ito chama a atenção para as questões sociais por seus grafites críticos.

      Tristes…

  2. Dom JNS!

    Sinceramente eu acho que quem escreveu esse texto não é cearense não. Pode até ser cearense, porém meteu os pés pelas mãos e misturou alhos com bugalhos. Pode ter acontecido também de eu estar com aquela molesta que o povo daqui chama de “alemão”.

    Uma prova do que afirmei acima é a conjugação do verbo ver usando “visse”. Nunca, jamais, em tempo algum isso foi usado no Ceará. É típico de Pernambuco e talvez outros estados vizinhos àquele. Outra coisa: Sagui nós chamamos soim ou sonhim, devido à uma característica nossa de suprimir os finais das palavras. Dizemos bichim, bunitim, sonhim, soim, senvergonhim, etc… Soinho aqui só se for aquele que se compra em padaria e que serve pra gente dizer que nunca desista de seus sonhos. Se não tiver numa padaria, procure noutra…

    Sei não: Pra meu entendimento esse texto está forçado e não corresponde às nossas expressões e modus pronunciandi. Puta merda, de onde eu tirei isso? Até que ficou legalzim: Modus pronunciandi… Gostou dessa? É boa num é?

    Sei não, mas tô pensanu que sei lá!

    Fui!

     

    1. É que nem certos textos que

      É que nem certos textos que tentam mimetizar os falares mineiros: não foram feitos por mineiros ou foram escritos por quem passa longe tanto do povão quanto de Guimarães Rosa. Por exemplo: nunca ouvi mineiro de lugar nenhum se referir à capital do estado como “belzonte” conforme aparece em piadas orais e textos de falso mineirês.

    2. Lucianoim

       

      Cê sabe qu’eu só querdito e só confio nocê!

      Como cê disse e o Jair sabe, há mais coisas na Intrenet que supõe a nossa vilã filosofia belzontina.

      1. Nessa cabeça dura

        as coisas só entram a pau!

        Já assuntei procê, porém você num entendeu.

        No diminutivo a gente corta a terminação nho e muda de n para m… É fácil: Relaxa que entra!

        Assim temos:

        JNS – diminutivo seria JNSzinho – no Ceará: JNSzim;

        Zé – diminutivo seria Zezinho – no Ceará – Zezim;

        Luciano – diminutivo seria Lucianinho – no Ceará – Lucianim!!!

        Entrou, JNSzim? Entrou ou quer que eu faça um desenhim?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador