Boi sonso não erra marrada, é tiro certeiro

à larga a si se mata.

atolado, pau nele.

bravo, na terra alheia, se faz manso.

bravo, depois de morto, todo mundo segura o chifre dele.

cansado, passo seguro.

com boi é que faz junta.

cornudo, cavalo cascudo.

de guia é que bebe água limpa.

frontudo, cavalo cascudo.

irado, na terra dos outros, é bezerra.

ladrão não amanhece em roça.

lerdo só bebe água suja.

 luzidio nunca tem fastio.

 mais velho é sempre culpado por a horta ser mal lavrada.

manso, aperreado, arremete.

manso em seu corno cresce.

manso novilho atropela.

Boi mau em seu corno cresce.

morto vaca é.

na terra alheia, até as vacas chifram.

que come farinha, não cansa.

que marra, quer choupa.

ronceiro bebe água suja.

sabe a cerca que fura.

solto lambe-se todo.

sonso, chifrada certa.

sonso é que arromba cerca.

sonso é que arromba curral.

sonso, marrada certa.

sonso não erra marrada.

velho conhece o outro pelo berro.

velho ensina a lavrar o novo.

velho gosta de erva tenra.

velho lavra com os ossos.

velho só com os ossos toca o carro.

Ivonaldo Veloso de Melo nasceu na capital do forró, Caruaru, em 1943, e iniciou sua carreira artística em 1966. Ele reside atualmente em Olinda e a sua arte é Naïf, livre e pura, com elementos totalmente regionais.

A fotografia é de Arnov Setyanto.