O egocentrismo da geração dos anos 1990 e 2000

Por Antonio Nonato

Comentário ao post “Plateia infantil hostiliza músico André Mehmari

Acho que a questão aí é mais a falta de autoridade e de respeito pelo outro (pelos mais velhos, pela autoridade escolar, pelas instituições, enfim, falta de respeito, ponto final) do que questões sobre a cultura ou sobre a origem da peça que foi demonstrada aos alunos. Pois poderia se esperar apatia dos jovens, que querem mais é consumir produtos de jovens, coisas “descoladas”, mas jamais uma reação agressiva ou de xingamento. Pelo menos uma audiência que fique na dela, mesmo que o na dela signifique fazer balbúrdia, como todo grupo de crianças de 10 a 12 anos faz (sem os xingamentos, no entanto). Anote-se aí que essa balbúrdia é totalmente saudável, adolescente tem mais é que zonear mesmo; quer silêncio, que vá para um cemitério. 

A questão aí é como a balbúrdia acontece e em que momento ela vem, e de que forma (agressiva). Não adianta forçar a barra, adolescentes não vão gostar da chamada música erudita. Eles querem fazer parte de um grupo, de uma “gangue”, de uma “tchurma”. Querem também, muitas vezes, serem vistos como adultos. Tudo isso, no jovem, levaria a essa reação, mas jamais a agressão, que me parece coisa dos novos jovens, da geração anos 90/2000, que simplesmente perdeu o respeito por tudo e por todos e caiu num egocentrismo sem precedentes.

Arrisco-me aqui a uma explicação: o que os jovens nascidos nas duas últimas décadas têm que nós, os mais velhos, não temos? Dentre muitas outras coisas, uma se destaca: o uso precoce da internet. Desde muito cedo, foram criados nesse ambiente, que é um de se mostrar o tempo todo, seja em fotos ou redes sociais, seja em opiniões postadas em caixas de comentários (muito prazer). Com isso, há uma validação constante das coisas que fazem e mostram, criando uma ilusão de que há uma validade naquilo que são, uma importância desmesurada do “eu”. Sem querer aqui viajar demais na maionese, o que eu quero dizer é que o jovem de hoje cresce achando que suas opiniões são muito importantes, já que elas são constantemente publicadas (e validadas). O jovem, na internet (e, por extensão, fora dela), olha  o tempo todo um grande espelho. E como Narciso, rejeita o que não é sua imagem, mas diferente do mito grego, faz isso até mesmo de maneira violenta. 

O espelho dos narcisos pós-modernos são fragmentados, formados nas suas buscas constantes por tudo quanto é tipo de coisa na internet (música, pessoas, materiais diversos etc), e apesar de a internet ser um mundo aberto de informações de tudo quanto é tipo, os mecanismos de busca permitem que, mesmo com toda essa amplitude, o usuário selecione apenas aquilo que o interessa, não se abrindo para outras possibilidades. Essa contradição da internet é que, ao meu ver, tem mexido a cabeça dos jovens, junto com figuras mais velhas (como pais ou professores) que não conseguem acompanhar isso e compreender esse mundo (e devidamente atuar nele). E não adianta falar aí que, no caso, são jovens que cresceram sem internet, pois são de escolas públicas; falamos aí de jovens até 12 anos, que já cresceram nos anos 2000 com internet brasileira bastante difundida.

Luis Nassif

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