O incentivo à Cultura deveria priorizar o artista

Por ArthurTaguti

Peraí, eu tô “cafuso”, como diria Didi Mocó. Isto porque já tive banda, conheço uma galera do meio, e sei como é difícil para esse pessoal compor, ensaiar obsessivamente, investir em instrumentos, transportar instrumentos pro show, e no final ganhar um fardinho de cerveja pelo incentivo. Amor esse pessoal já tem e muito pela arte, o que falta é remuneração para viver só disso.

Pelo relato de Beatriz e outros, o FdE montou uma estrutura bem articulada de captação de recursos públicos e privados, ou seja, ao contrário de muitos festivais Brasil afora, dinheiro não é problema. O problema é quando se usa recurso público para fortalecer uma organização, ou Coletivo, que suplanta a arte ou o artista em si.

Esta questão do incentivo a Cultura, a meu ver, deveria priorizar o artista, que é efetivamente quem cria. Não oferecendo verbas pros mesmos de sempre, mas montando uma estrutura que vários deles possam usufruir para expor sua arte, nos moldes do que o FdE conseguiu fazer, mas claro, remunerando regiamente os artistas pelo seu trabalho.

Ok, os caras conseguiram uma capilaridade em que a moça exibe o seu filme ou a banda se apresenta em não sei quantas cidades. Mas, de graça? E as contas para pagar? O leite na mesa dos filhos, a poupança pros tempos difíceis? O artista vai viver de ar?

Esse modelo, que mistura captação de incentivos públicos e ausência de cachê pros que realmente produzem arte, não incentiva o artista, no máximo ajuda a criar o Mecenas. Vemos um monte de gente que vive de intermediação, produção (como os trabalhadores das Casas FdE), mas o artista mesmo não deu um passo em direção a sua independência financeira. Continua enfrentando jornada dupla trabalho-ensaio, trabalho-show.

Caso os relatos sejam verdadeiros, o FdE não ajuda em nada a profusão da cultura. Isto porque não é preciso a intermediação do FdE pra banda tocar. Nunca precisou. Com Coletivos que intermediam ou não, músicos sempre tocaram de graça, ou em troca de um prato de comida, para ganhar visibilidade e fazer contatos.

Existem empresários especializados em fazer o que o FdE faz, sem captação alguma de recursos públicos, então qual a novidade? Isto aí vem desde a idade da pedra.

Caso Beatriz esteja realmente correta, seria muito melhor se o FdE se apresentasse logo do jeito que é – uma empresa que atua no ramo de prestação de serviços – com todas as consequências que isto possa ter com o público, como a perda da aura altruísta, do que correr o risco de serem criticados como estão o sendo na internet.

Mas esperamos réplica do FdE. Se estes provarem que realmente são um Coletivo, com ausência de hierarquia, ausência de relação chefe-subordinado, ausência de cadeia de comando, decisões tomadas em assembleia (incluindo todos os 2 mil membros, onde uma cabeça vale um voto), acesso pleno de todos a cada centavo que entra no FdE e distribuição equitativa dos lucros e resultados, aí sim eu vou acreditar em uma nova dinâmica de trabalho.

Fora disto, acredito em Marx ainda, no seu conceito de Mais-Valia, na luta de classes, e por aí vai. Eu sei que a discussão pode parecer ultrapassada, mas o velho alemão ainda surge para puxar o pés das pessoas na calada da noite, principalmente quem diz que ele está ultrapassado e tenta tungar as conquistas da classe trabalhadora.

No aguardo de esclarecimentos do FdE.

Luis Nassif

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