Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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O primeiro disco de Paulo Molin, o Garoto Prodígio do Rádio

Paulo Molin gravou seu primeiro disco aos doze anos e não deixou por menos. Gravou OLINDA, CIDADE ETERNA e RECIFE, CIDADE LENDÁRIA, ambas de Capiba, que ainda são ouvidas com absoluto sucesso e que receberam inúmeras regravações de intérpretes famosos.

https://www.youtube.com/watch?v=FhQuEq4XpMU

Anexarei aqui um excelente artigo de Carlos Gomes, amigo de Paulo Molin:

                                                                                     

PAULO MOLIN

 

por Carlos Roberto de Miranda Gomes, ex-integrante da Rádio Poti

Após mais uma noite insone, como vem ocorrendo nestes últimos meses, aguardo amanhecer com extrema ansiedade e, logo nos últimos instantes da madrugada, religiosamente, chegam os jornais do dia.

No último sábado, ao abrir a Tribuna do Norte, deparo-me com o artigo do meu amigo Woden Madruga: “Paulo Molin”, despertando-me imediata curiosidade em razão da afinidade com a pessoa nominada. Não era a notícia que aguardava há tantos anos, mas a informação de que falecera aos 66 anos em um hospital do interior de São Paulo.

Recostei-me, fechei os olhos e busquei das prateleiras da memória o passado, o nordeste do final dos anos 40 para começo dos 50. Natal com os seus 400 mil habitantes, serena, romântica, solidária.

A Rádio Educadora de Natal – REN, a Sociedade Artística Estudantil – SAE, a juventude ativa nas atividades artísticas. O prédio da ladeira da Rádio Poti em remodelação para assumir o seu futuro e os seus programas iam sendo deslocados para os Cinemas São Luiz, Rex e Rio Grande. Vesperal dos Brotinhos aos sábados, com Luiz Cordeiro; Domingo Alegre, sob a batuta do “Cacique Genar Wanderley” e à noite o Turbilhão de Novidades de Jaime Queiroz. Orquestras de Júlio Granados e Jonathas Albuquerque, regional com Gil Barbosa, Duca Nunes, Renato Tito e outros que já não mais me lembro. À margem dos grandes artistas, os meninos talentosos Odúlio Botelho, Edmilson Avelino, José Filho, Paulo Eduardo Firmo de Moura, Denise Vieira, Dulce Maria e Laudicéia Paiva e, no meio destes, Agnaldo Rayol, Elino Julião e eu, então conhecido como Carlos Gomes.

Concursos de calouros patrocinados por Vic-Maltema e a Voz de Ouro ABC, programas de auditório sempre lotados. Atrações semanais de nomes famosos nacionais e internacionais. Esses eram os anos dourados de Natal.

De Fortaleza tínhamos Keila Vidigal, Solteiro e Fátima. Do Recife, considerada a “Meca” do nordeste, despontava PAULO MOLIN, o melhor de todos: “A época em que isto aconteceu era propícia aos pequenos cantores. Em Recife, principalmente, era de se invejar o entusiasmo das platéias pela voz de Paulo Molin” (trecho de reportagem do jornalista Sebastião Carvalho em 1954, em o Diário de Natal, que tinha por título ‘Carlos Gomes e a ação do tempo”.

Os discos de 78 rotações de PAULO MOLIN eram disputados. Ali estavam consagradas as criações de Capiba Olinda, Cidade Eterna (Continental, 1950), Recife, Cidade Lendária (Continental, 1950), Igarassu, Cidade do Passado (Continental, 1951) as quais foram remasterizadas em CD, no Projeto Reviver, com o nome “Pernambucanos simplesmente”.

Todo queriam imitá-lo. Eu tive maior sorte, logrei ser o Campeão Vic-Maltema 1950, e em uma das etapas do concurso recebi a medalha daquele ícone da mauricéia. Fiz viagem ao Ceará (PRE-9, Rádio Clube), onde cantei com a orquestra de Mozart Brandão e fui acompanhado pelo violonista Evaldo Gouveia, do Trio Nagô e hoje estrela de primeira grandeza. Contratado para temporada na Rádio Tamandaré do Recife, resolvi abandonar o rádio e o meu contrato foi cumprido por Agnaldo Rayol.

Mas …existe o tempo implacável … (como dizia Sebastião Carvalho em sua reportagem). O destino daqueles “meninos prodígios” foi bastante diversificado – uns venceram na profissão liberal, José Filho e as meninas nunca mais tive notícias, Paulo Eduardo faleceu prematuramente, Edmilson andou pelas veredas do cárcere, enfrentou grandes dificuldades até a viagem definitiva para outra dimensão, Paulo Eduardo faleceu prematuramente. Permaneceram na carreira, apenas, Agnaldo e Elino.

PAULO MOLIN teve uma carreira meteórica. Na idade adulta chegou a gravar outro disco. Uma das músicas era “Bem Sabes”, sem qualquer sucesso. Sua voz estava irreconhecível e tudo ficou por aí.

Eu nunca esqueci dele, apesar de não mais viver no meio artístico, mas não consegui notícias precisas do seu paradeiro, nem mesmo em Recife onde vivi algum tempo.

Muitos anos depois li uma reportagem em revista nacional que dava conta de PAULO MOLIN como empresário no interior de São Paulo. A fotografia já não lembrava aquele menino bonito, cabelos encaracolados, olhos claros de outrora. Então os cabelos rareavam. Daí para cá somente a notícia de Woden.

Vieram-me lágrimas atrevidas e na noite seguinte, também insone, meus ouvidos remoíam “Eu ando pelo Recife, noites sem fim. Percorro bairros distantes sempre a escutar: Loanda, Loanda onde estás. Era a alma do preto a penar …”

Saudades de um tempo de paz, felicidade e amor. Cidade de vida artística em ebulição. Muitos jovens talentosos no rádio e no Teatro: José Maria Guilherme, Geraldo José de Melo, Eunice Campos, José de Anchieta, Rosália Pinto, Francisco Cândido, Janda Mesquita, Hilton Paiva, Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, Ary Negreiros e até o garoto Marcus Vinícius. Evoco Jaime e Sandoval Wanderley e Clarice Palma, criadora do Clube dos 7. O empresário Francisco Sales, que lançou o Trio Irakitan. Meu Deus, são tantas lembranças, que o coração dói.

Woden, foi importante a sua lembrança. Que PAULO MOLIN tenha o descanso merecido – ele marcou a minha geração!

PUBLICADO NA TRIBUNA DO NORTE de 24/10/2004)

OBS.: A notícia que ensejou este artigo foi publicada no Jornal de WM em 09/10/2004.

Por Luís Nassif

Vou dar um pitaco no post do Luciano.

Em 1969 venci um Festival em Casa Branca. O prêmio a gravação de um Compacto com minha música, um frevo. O cantor foi Paulo Molin, fazendo contracando com nossa cantora, a Mônica, e acompanhado pelo Regional do Polly.

Hoje fico sabendo que foi o primeiro intérprete de um dos meus clássicos favoritos, Recife, Cidade Lendária.

 

 

 

 

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

16 Comentários

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  1. Viva o pesquisador Luciano

    Putz, desta vez Luciano foi além do pesquisador. É uma arqueólogo do sentimento. Genial.

    E mais não falo porque escuto uma voz da infância. 

    1. Dom JOTAENEESSE!

      A “Pimentinha” afirmou duas vezes:  “Eu dou o tiro, quem mata é Deus”. Se eu tivesse assistido a esse vídeo phoderhoso antes, isso estaria na celebérrima obra literária “Agora eu digo como diz o dito”… Fazer o que? Nada é perfeito!

      Parafraseando Elis eu afirmo que o Veim do Ceará dá uns passezim, porém quem faz os gol é o preclaríssimo Guru!

      Fla, Flé, Fli, Fló, Flúi!

       

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=TDvhKaTo82Q%5D

      1. Rogai por nós!

        “Transfiguração da Montanha”, com temática religiosa, foi o primeiro poema publicado da lavra de Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes.

                         “Senhor!
                          Tu estás lá
                          E tu estás em todos os lugares
                          E ouço a tua voz na música do mundo
                          E sinto a tua mão na plástica das coisas
                          Tu és o ponto de partida
                          Tu és o caminho
                          E és o fim do caminho
                          És o cardo que fere os pés
                          E a grama macia que os repousa
                          E a grande tempestade de vento
                          E o ar parado que sereniza.
                          És o pranto dos olhos
                          E o riso da boca
                          És o sofrimento do mundo
                          Numa promessa de eterna felicidade
                          És Deus
                          Deus que vê todas as coisas e a todas dá remédio
                          E que é o único perdão:
                          Amém.”

        Vinicius estudou em colégio Jesuíta e o seu poema saiu no jornal católico chamado “A Ordem” em 1932.

        Descanse, Poetinha, na paz do Senhor, curtindo o seu uisquinho básico, para alcançar o êxtase com os acordes cintilantes e as harmonias místicas do Libera, que levanta a alma, através de sons celestiais.

        [video:https://youtu.be/EKcCsSxUp0M width:600 height:450]

        [video:https://youtu.be/hAiECJf5Ouo width:600 height:450]

        Os cantores do Libera, com idade entre sete e dezesseis anos, vindos de uma variedade de origens, frequentam escolas em diferentes locais no sul de Londres.

        1. Para meu Mala: Meu sobrinho Guto!

          O que tinha de pequeno, tinha de danado. Dava nó em pingo d’água e nem enxugava. Um dia ele acordou calminho e minha  irmão deu-lhe um beijo e um abraço e disse! “meu filho”…

          Passadas algumas horas. o dimuin do menino começou a fazer das suas, arengando com os irmãos e fazendo toda sorte de estripulias.

          Minha irmã pegou uma chinela e, de arma em riste bradou: Se você num se aquietar, vou lhe esquentar o s couros da bunda, seu fi duma égua.

          E ele, de pronto rebateu: Agora você me chamou de fi fuma égua, porém de manhazinha você me chamou de “meu filho”

          Tô se alembrando desse causo porque você tá hoje todo bonzinho, todo amiguinho, mas noutro dia, só porque não consegui ver um post de Dom Jejê, que estava escondido no meio de uns trezentos e vinte dois comentários seus, você disse: ” NÃO QUERO QUE VOCÊ ME CHAME DE SEU GURU, NÃO QUERO QUE VOCÊ ME CHMAE DE SEU AMIGO, QUERO QUE VOCÊ ME CHAME DE SEU MALA!

          FLUI!

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=05eekO2icN8%5D

          1. Vinicius de Moraes

             

            Transfiguração da Montanha

            Que é da poesia profunda da natureza?
            Que é da arte da natureza?
            Morreu.
            Morreu com a alma do homem.
            A alma do homem é como o amor morto
            Onde todas as coisas bóiam à superfície
            Ai! O tempo em que a alma do homem era o oceano
            O grande oceano que guarda pérolas e possui vegetações esquisitas
            E onde a luz bóia à superfície!
            Mas o mundo mudou.
            Ele foi esquecido
            A transfiguração foi esquecida
            Os homens só se lembraram Dele
            Ou para ofendê-lo enquanto viviam
            Ou para temê-lo covardemente na hora da morte.

            Mas uns houve que não perderam o sentido da vida
            Que guardaram na alma a grande simplicidade das coisas boas

          2. Belíssima construção frasal!

            Mas uns houve que não perderam o sentido da vida
            Que guardaram na alma a grande simplicidade das coisas boas.

        2. Vinícius

          O CAMINHO PARA A DISTÂNCIA

            Rio de Janeiro, Schmidt Editora, 1933

          O primeiro livro de Vinicius de Moraes já trazia no título o aspecto dramático que atravessava sua poesia de juventude. Com forte interesse pelas ideias dos intelectuais católicos e metafísicos do Rio de Janeiro de então, o poeta investe em longos versos sobre tormentas de sua alma e conflitos espirituais internos que davam o tom do grupo. Otavio de Faria, América Jacobina Lacombe, Augusto Frederico Schmidt e Lucio Cardoso eram alguns dos nomes que faziam parte da vida e das orientações intelectuais do jovem Vinicius. 

          Com o primeiro poema publicado em 1932, na revista católica A Ordem, dirigida por Alceu Amoroso Lima, a carreira de poeta do jovem estudante de Direito do Catete estava selada, mesmo que ainda de forma tímida. Sua filiação quase completa aos temas católicos faz de sua estreia um esboço ainda distante do que, logo no livro seguinte, de 1935, já indica um poeta em deslocamento. Seus versos partem, aos poucos, rumo a temas mais amplos do que a questão católica. Neste livro, lemos ainda um poeta que olha o mundo através da fé, sem nunca perder, porém, o conturbado ponto de vista da alma.

          http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/livros/o-caminho-para-distancia

  2. ÔMelhor

                                 Preclaro

                                 E

                                 Perclaro

                                 MESTRE

                                 Depois da curva da estrada, Renatão disse, prá Deus e o povo ouvir:

                                “Amigo
                                 Os verdadeiros amigos
                                 Do peito, de fé
                                 Os melhores amigos
                                 Não trazem dentro da boca
                                 Palavras fingidas ou falsas histórias
                                 Sabem entender o silêncio
                                 E manter a presença mesmo quando ausentes
                                 Por isso mesmo apesar de tão raros
                                 Não há nada melhor do que um grande amigo”

                                 – “Como ser cantora no país da Elis Regina?”

                                 – “PRA MIM ELA É A MAIOR CANTORA QUE JÁ NASCEU NA TERRA!”

    [video:https://youtu.be/q-HvwBYzwKw width:600 height:450]

    1. JNS

      Em algum documentario sobre Elis ou a MPB, alguém ( ja não lembro mais quem, acho que foi o Renato Teixeira ?), disse que Elis estudava cada musica que iria interpretar. Que nenhuma cantora, antes disso, tinha esse cuidado, de entender o que o compositor pretendia com cada composição, a articulação dela muito bem trabalhada, além da emoção, por obvio.

      Acho que o Brasil teve e tem grandes cantoras. E Elis, certamente, faz parte desse rol. 

  3. Ao Luis Nassif!

    Diz o dito popular que ” Ajoelhou tem que rezar “.

     

    Por Luís Nassif

    “Vou dar um pitaco no post do Luciano.

    Em 1969 venci um Festival em Casa Branca. O prêmio a gravação de um Compacto com minha música, um frevo. O cantor foi Paulo Molin, fazendo contracando com nossa cantora, a Mônica, e acompanhado pelo Regional do Polly.

    Hoje fico sabendo que foi o primeiro intérprete de um dos meus clássicos favoritos, Recife, Cidade Lendária.”

    Agora queremos ouvir esse frevo de sua lavra, com o saudoso Paulo Molin e Mônica, com o luxuoso acompanhamento do Regional do Polly!

    Estamos esperando…

    Abraço do luciano

     

  4. Maquina do tempo

    Amigo, Luciano. Que post lindissimo! De emocionar. A carta saudosa de Carlos Gomes nos leva imediatamente junto com ele às suas prateleiras da memoria do passado. Que delicia essa Natal, Recife, Fortaleza ou ainda Salvador dos anos dourados do radio! Lembro de Clarice Lispector andando pelas ruas de Belém, se perdendo pelo cais no mercado de Belém… e depois, o tempo que ela passou em Natal. Uma mistura de onirismo e dor. Clarice era menina do Rio… Tudo isso à essa época também. Ouço as musicas com muita saudade, como se em algum momento, tivesse vivido essa época. Como nos filmes de volta ao passado, ou naquele livro Cavalo de Troia, o passado continua se repetindo num movimento paralelo à esse. Sempre e sempre. Fecha-se os olhos e ouve-se vozes, o tilintar nas ruas do bonde, do salto das donas e os chapéus dos senhores, a musica tocando no radinho de uma esquina, a vida num tom de sépia….

    Um abraço da amiga sonhadora!

     

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