Um clássico para celebrar o trabalhador

Enviado por Jota A. Botelho


 

Para celebrar o dia do trabalhador, ocorrido neste 1º. de maio de 2015, exibiremos um clássico do cinema italiano que trata da luta dos trabalhadores: Os Companheiros (I Compagni, 1963), um fillme de Mario Monicelli, que relata a luta dos operários na cidade de Turim no final do século XIX pela redução da jornada de trabalho. Apesar da extrema reação dos patrões, um professor socialista aparece no local disposto a ajudar na organização dos trabalhadores. Uma greve é iniciada e, em seguida, os donos da fábrica resolvem apelar para a violência como forma de conter o movimento. O filme foi candidato ao Oscar de melhor roteiro, e ganhou os prêmios principais do Festival de Mar del Plata e do Sindicato dos Jornalistas Italianos (1964).

Parte da entrevista de Mino Carta: na última entrevista de Mino Carta na Tv Carta – “Para redimir o Brasil é preciso quebrar a espinha da oligarquia” – ele relembra do filme Os Companheiros, de Monicelli, referindo-se ao dia da festa do trabalho ocorrida neste ano de 2015.

https://www.youtube.com/watch?v=ee_LMKRS6Yo align:center]

OS COMPANHEIROS, DE MARIO MONICELLI (1963)


Mario Monicelli (1915-2010)

O filme aborda a luta dos trabalhadores italianos de Turim no final do século XIX pelas melhorias e reduções da jornada de trabalho aliado à formação da consciência da classe trabalhadora.

É relatada no filme a péssima condição de trabalho de Turim, cidade italiana, somada a carga horária de 14 horas diárias, trabalho infantil, acidentes de trabalho, analfabetismo e prostituição.

A obra de Monicelli mescla a tradição da comédia italiana somada à beleza e sutileza do neorrealismo, apresentando ao público um cinema de caráter popular e crítico, juntando risos e emoções dentro de uma mesma obra de arte. A colaboração de Alberto Cappellini, líder da resistência italiana contra o nazifascismo, e de trabalhadores que participaram das greves do final do século XIX, relatando suas histórias de luta, dá um tom de realidade extra ao filme de Monicelli, servindo também como homenagem à belíssima luta dos proletários italianos.

A narrativa do filme mostra a passagem da luta sem liderança para a luta organizada, com a formação da consciência dos trabalhadores. Com as atividades de trabalho sobre-humanas e extremamente cansativas, os trabalhadores retornam para a fábrica após a breve hora do almoço, enquanto que um operário, vencido pelo cansaço, prende seu braço na máquina, tendo o membro esmagado e mutilado. Esse acontecimento serve como estopim para o desencadeamento da revolta operária. Juntos vão reivindicar ao patrão a redução da jornada de trabalho e melhores condições, sendo que suas reivindicações não são atendidas. A falta de liderança neste início mostra um movimento marcado pela falta de experiência, organização e direção, somado ao medo da coerção, até o momento que surge um professor chamado Sinigaglia (interpretado por Marcello Mastroiani).

O aparecimento do professor inaugura na narrativa a chegada da consciência e organização, em contraponto à forma espontânea de luta dos trabalhadores. O professor é hospedado por um colega numa escola, onde ocorrem as reuniões. Interrompendo um encontro em que os trabalhadores, que almejavam cessar a última hora de trabalho, com o objetivo de afetar o lucro do patrão, ele propõe aos operários irem além, organizando uma greve. Segundo os conceitos de esquerda, sobretudo de Lênin: “(…) as greves só são vitoriosas quando os operários já possuem bastante consciência política, quando sabem escolher o momento para desencadeá-las, e quando sabem apresentar suas reivindicações (…)”.

A questão central do filme é a luta pela redução da jornada de trabalho que, como formula Marx, em O Capital, é na jornada de trabalho que se produz um elemento fundamental da acumulação capitalista, a mais-valia, assegurando a reprodução de capital. O filme se passa no contexto da formação do sindicalismo italiano, na formação do Partido dos Trabalhadores Italianos em 1892, que posteriormente se tornou o Partido Socialista Italiano (PSI).

O desenvolvimento dos personagens mostra como uma luta organizada pode modificar a concepção de mundo das pessoas, um exemplo é o personagem Raul (Renato Salvatori), que no início da trama apresenta restrições à organização proletária, e no término do filme irá percorrer a Itália com o objetivo de organizar outras lutas, assumindo o lugar do professor.

O que se pode tirar dessa obra magnífica de Monicelli é que as lutas proletárias podem muitas vezes mostrar que os resultados não são muitos significativos, mas que seu histórico vai acumulando uma série de avanços e grandes vitórias dos trabalhadores, como as conquistas de aumentos salariais, melhorias nas condições e reduções das jornadas de trabalho, à eliminação do trabalho infantil e o aumento dos direitos para as mulheres.

Mario Monicelli emociona pela simplicidade com que mostra a vida dos operários em luta por uma vida mais digna e uma sociedade mais justa, transformando este belo filme num clássico.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=d0GFdvd9XBY align:center
__
Pesquisas & fotos dos Blogs: 
Jornal Inverta / Expirados / A VerdadeEnsaios  / Náufrago da Utopia & Ganarse
__

Jota Botelho

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Grande contribuição

    Muito obrigado, Jota.

    Passei um tempo grande, procurando feito um louco, este clássico de Mario Monicelli.

    Não conseguia retomar a impressão que ficou na lembrança com a visão recente do filme.

    Mas graças a seu post acabou a busca. Agora temos  um dos melhores programas dste fim de semana.

     

  2. Lutas vãs…

    Citado também no Editorial da CC desta semana, no. 848, de 06/05, por Mino, Lutas vãs, sobre terceirização e precariado – retrocesso.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador