Uma experiência única em solo africano, por Mafalda Pequenino

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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L´ECOLE DES SABLES – ESCOLA DE AREIA

Imaginem umCentro Internacional de Danças Tradicionais e Contemporâneas Africanas”, localizado num paraíso com uma população muito especial e vibrante, belas praias e um cerrado coberto com preciosos Baobás que chegam a alcançar alturas de 5 a 25m e até 7m de diâmetro do tronco. Incrível? Essa é a L´Ecole des Sables, que desfruta de uma vista privilegiada em Toubab Dialaw, uma pequena vila de pescadores a 50 km ao sul de Dakar, capital do Senegal  (África Ocidental).

Uma escola totalmente fora dos padrões ocidentais propõe uma conexão direta com o solo africano e possui uma magnífica estrutura que incluí alojamentos para receber dançarinos do mundo todo.  Tive a oportunidade de viver fortes experiências. É realmente um lugar muito especial e não poderia imaginar lugar melhor para o aprendizado da dança. L´Ecole des Sables é ainda muito mais que mera escola: é um espaço para intercâmbio, um fórum para trocas de experiências entre dançarinos da África e do mundo todo. E também para criadores dos diversos segmentos artísticos com interesse na cultura africana. O projeto da escola oferece cursos, treinamentos, estágios e a formação de jovens dançarinos e coreógrafos de origem africana, tema central do projeto. Por isso existe uma tentativa constante de receber apoio do Estado e de instituições privadas africanas. O projeto conta com apoio de parceiros como instituições e organizações, a maioria estrangeira.

L´Ecole des Sables, foi fundada em 1998 pela bailarina e coreógrafa Germaine Acogny e seu marido, Helmut Vogt. Na fundação nasce a Cia Jant-Bi com os dançarinos que participaram do primeiro Workshop do Centro Internacional de Danças Tradicionais e Contemporâneas Africanas. Uma Cia de corpos pensantes que transbordam atitude. Germanie Acogny é conhecida como a “Mãe da Dança Moderna Africana”, uma artista que leva para cena questões profundas da sociedade em que vive, refletindo a África de hoje: moderna, cheia de prédios e de contradições internacionais. Traz em sua formação influência do legado de sua avó, sacerdotisa Yorubá, as danças africanas tradicionais e a dança ocidental de Paris e Nova York. Uma emissária real da Dança e da cultura Africana e dona de uma magnífica trajetória com realização de trabalhos reconhecidos por toda a Europa, Estados Unidos, China, Japão, Austrália e até no Brasil.

Um dos treinamentos oferecidos pelo projeto é a transmissão da “Técnica Germany Acogny”. A técnica traz a fusão das raízes ancestrais com o contemporâneo, trabalhando a consciência do corpo com movimentos conectados aos elementos da natureza, simbologias africanas o ballet e muita disciplina, com vocabulários e movimentos criados pela própria mestra.

”Nós não queremos submeter, escravizar a dança negra. Nós só queremos que ela se imponha na civilização moderna para tomar o lugar legítimo de direito”. (Trecho de seu livro “Danse Africaine”)

Tive a honra de participar do estágio “The March L´Ecole des Sables 2014” realizada no mês de Junho, juntamente com trinta e nove bailarinos do Senegal, Itália, Burkina Faso, Espanha, Argentina, Camarões, Holanda, Portugal, Reino Unido, França, Londres, Namíbia. Éramos quatro brasileiras.

Intensa experiência profissional e de vida muito importante para mim como atriz e performer que tem o corpo como um sagrado instrumento de trabalho. E como mulher afro brasileira, meu corpo me conduz com sua memória, traz identidade, atitude autoestima. A dança africana afeta diretamente minha arte, com ela entendo de onde vim e me conecto com minha ancestralidade na essência. Inspiração e força para transformação do “eu” e interferência no mundo.

Uma oportunidade única, realizar esse treinamento com a mestra Germanie Acogny, excelentes músicos e professores de generosidade tamanha, empenhados em desbravar, a navegar na imensa riqueza do patrimônio-dança. Apresentando-nos caminhos para uma coreografia pessoal e enfatizando a importância do corpo em relação a outro. Um treinamento para acordar o corpo, a mente e alma. Com toda certeza um marco na minha trajetória de vida-arte.

L´Ecole de Sables já se prepara para o estágio “The March 2015” que acontecerá em Julho. O estágio é pago e a seleção é feita através da carta de intenção que os interessados encaminham.

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Grande Germaine!!
    Sou aficionado de dança há muitos e muitos anos, absolutamente fascinado por Nijinski, Balanchine, Nureyev e Fontein… mas a coreografia mais linda que já vi na vida foi “Z”, que Germaine Acogny compôs para o Balé da Cidade de São Paulo na época das comemorações do tricentenário da morte de Zumbi, em 1995. Nunca esquecerei!

  2. que experiência!

    Que lindo, Mafalda. Uma experiência importante de reconexão com suas raízes, já tão presentes no seu trabalho. Aprofundamento.

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