Tudo sobre Todos diz que informações divulgadas são públicas

 
Jornal GGN – Investigado pelo Ministério Público e Polícia Federal, o site Tudo sobre Todos, que vende informações pessoais como CPF e endereço, afirmou que os dados divulgados são informações públicas. Em entrevista para o Estadão, o responsável pelo site, que não se identificou, disse que a maioria das informações vem de cartórios, e outras são provenientes de diários oficiais, decisões judiciais publicadas e consultas em sites públicos
 
Ele afirma que a finalidade do site era reunir pessoas que perderam contato, e também considera que a legislação brasileira sobre exposição de dados em meios virtuais é “bastante incompleta”.
 
Do Estadão
 
 
MATHEUS MANS E MURILO RONCOLATO
 
Sem se identificar, responsável pela empresa, que está sendo investigada, diz que parte dos dados vem de cartórios, diários oficiais, redes sociais e consultas a sites públicos

O site Tudo Sobre Todos, que vende dados pessoais – como CPF, local de residência e nomes de familiares – chamou atenção do Ministério da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, que deram início a investigações preliminares para apurar a sua legalidade. Em entrevista ao Estado, o responsável pelo site, que não quis se identificar, reforça que sua empresa divulga apenas informações públicas. “Uma boa parte dos dados vem de cartórios”, diz. Entre as outras fontes de dados estariam também “decisões judiciais publicadas, diários oficiais, foros, bureaus de informação, redes sociais e consultas em sites públicos na internet”. O representante da página evitou dar mais detalhes e explicou que a “metodologia exata (de coleta de dados) não é revelada por se tratar de ser um segredo da empresa”.

Ele questiona a acusação de gerir um site com teor ilegal e considera “a legislação no Brasil no que tange à exposição de dados por meios virtuais” em situação “bastante incompleta”. Segundo ele, a única finalidade do seu site seria a de “reunir pessoas que perderam contato há muito tempo, sejam eles familiares, colegas ou amigos” e que ainda não entraram “em um consenso interno” quanto aos pedidos de retirada de dados. “Estamos fazendo um brainstorming”, disse.

O site permite buscas limitadas por nome de pessoas ou empresas, mas exige o uso de “créditos”, que custam atualmente o equivalente a R$ 0,99 – o site aceitava pagamento por meio de cartão de crédito, mas após ganhar evidência mudou sua política e aceita apenas bitcoin, moeda virtual não rastreável. 

“Pedimos desculpas por não falar em números, mas remetem a informações financeiras e não divulgamos finanças da empresa”, disse, negando-se a informar a receita já obtida pela empresa, criada há menos de dois meses. 

O site tudosobretodos.se é de responsabilidade da empresa Top Documents LLC, supostamente baseada na ilha de Seychelles, um paraíso fiscal no leste africano. O domínio, por sua vez, apesar de estar em português, tem registro na Suécia e provedor na França. Apesar disso, pesquisas por meio de recursos de registro (como who.is) não resultam em qualquer tipo de identificação.

A empresa Top Documents LLC, no entanto, possui outros registros em seu nome. Um deles é o site bigspy.com.br (“grande espião”, em inglês), o qual identifica o brasileiro Rogerio Camilo da Silva como proprietário do registro. 

Questionado, o porta-voz do site, apesar de não revelar seu nome, diz que seus dados também estão no Tudo Para Todos. “Todas as informações continuam no site e também nas fontes públicas de modo que o que oferecemos é apenas um espelho do que já existe publicamente, por isso nossos dados também estão no site.”

No alvo. Contatado pelo Estado, o procurador da República Kleber Martins de Araújo, do Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte, afirmou ter feito a abertura de uma investigação preliminar após denúncia de cidadãos por meio de Whatsapp. 

“É um site que comercializa informações pessoais sem autorização e consulta prévia do titular, isso por si só infringe a lei”, diz, citando a Constituição e o Marco Civil da Internet. “Existe uma diferença entre coleta de dados e divulgação de dados coletados. Não há qualquer finalidade social com a divulgação de dados pessoais de brasileiros, só vejo como objetivo a intenção de fraude.” 

O procurador afirma que solicitará a suspensão do site no Brasil. Para ele, o fato de o site ter registro no exterior e não ter seu autor identificado já levanta suspeitas. “A experiência demonstra que existe alguma ilegalidade aí, ninguém hospeda um site fora se não tem por intenção fugir das autoridades brasileiras.”

Segundo fontes próximas ao assunto no governo, o Ministério da Justiça também está tomando medidas para identificar os responsáveis pelo site, além da Polícia Federal, que já teria iniciado uma investigação própria.

Ilegal. Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Danilo Doneda, o incômodo gerado pelo site “traz a necessidade de um novo pacto” entre a sociedade e a legislação brasileira. “Isso pode surgir com o amadurecimento da discussão da Lei de Proteção de Dados, que estabelece, entre outras coisas, que informações podem ser usadas apenas para os fins para os quais elas foram coletadas.” 

O jurista diz que atualmente não há mais a relação “binária” de dados secretos ou públicos, mas existe também uma camada intermediária que “deve ser direito de cada um de nós decidir o tratamento que será dado a isso”. 

Para ele, com a legislação atual, é “complicado tratar esses sites”. “Se eles estão usando bancos de dados legítimos, eles têm argumentos a seu favor. Se a Justiça, mesmo assim, quiser colocar isso discussão, ela terá que decidir se dados públicos podem ter uso limitado, o que seria interessante.”

Já o advogado e professor de Direito digital no Insper Renato Ópice Blum pondera que, se a fonte de dados for lícita, caso de informações obtidas por meio de cartórios, o cidadão não poderá nem pedir a retirada de seus dados. “Afinal, outras instituições, como o Serasa, também divulgam informações e você não tem como pedir a retirada delas.”

Após opinar sobre o “atraso significativo no que diz respeito aos dados das pessoas” no Brasil, Blum diz que, se considerado ilegal, “os administradores do site poderão ser enquadrados no artigo 153, parágrafo 1ºA, do Código Penal (que trata da divulgação, ‘sem justa causa’, de ‘informações sigilosas ou reservadas contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública’), que prevê a prisão de 1 a 4 anos, além de multa.

Além disso, Blum esclarece que, se comprovado que a coleta de dados se deu após o dia 23 de junho de 2014, “o site se enquadra no Marco Civil da Internet e aí o administrador teria que ter a autorização das pessoas”, o que o tornaria ilegal.

 

Redação

11 Comentários

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  1. Dados Pessoais Públicos

    Isto é uma incoerência total da afirmação de publicar informações públicas!

    Ninguém divulga nas redes sociais CPF, RG, Nomes e Endereços. É uma hipocrisia que leva todos os cidadãos com seus sigiligos de dados violados a uma questão: onde foram conseguidas estas informações? A mim parece que há copilação de diversos dados em diversas fontes, mesmo porque, a RFB não possui informação de filiação política das pessoas, quando o são. Isto é uma informação localizada no TSE. Dados como RG e CPF estão no Serasa, obtidas através de cadastros de compras de usuários e da própria RFB. Então, temos que decifrar o quebra-cabeça… Alguém trackeou todos os institutos com as informações e efetuou um cruzamento de informaçoes de um mesmo CPF e montou um data center. Este data center passou a cobrar pela venda destas informações ao interessados com bons e maus interesses. Acredito que os mais interessados são os golpistas, para aplicarem golpes em lojas, bancos etc! Caberia ao Ministério Público Federal e ao Ministério da Justiça usar de atitudes de bloqueios destas informações que violam a privacidade de pessoas e empresas. Como são inertes, pois isto é um escândalo público e nacional, que medidas as autoridades vão tomar?

    1. “Isto é uma incoerência total

      “Isto é uma incoerência total da afirmação de publicar informações públicas!”:

      Mais incoherente ainda por se considerar que se trata de informacao em cluster sobre TODOS os brasileiros.

  2. O estranho é o cidadão que

    O estranho é o cidadão que identifica todo mundo “não se identificar” para se explicar.

    Sera que não tem uma autoridade no pais para dar um fim em mais esse absurdo?

    1. Nao.  Ainda nao.
      So que

      Nao.  Ainda nao.

      So que ninguem notou o absurdo da reportagem entregar o jogo todo:  se fosse site de qualquer um que NAO eh de extrema direita, estariam todos identificados.

      Marquem essas palavras:  todos os envolvidos com esse site sao extrema direita.

  3. Tudo sobre todos

    A privacidade, mesmo de quem se acautela contra uma exposição excessiva, “foi para o espaço”.
    ou se cria um marco regulatório JÁ, ou ninguém mais o conseguirá, pois a ideia se espalha.

  4. MPF ingressa com ação para tirar do ar site “tudosobretodos”

    Do MPF/RN

    29/07/2015 – MPF ingressa com ação para tirar do ar site que divulga informações pessoais de brasileiros

    O Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte (MPF/RN) ingressou na Justiça Federal com uma ação cautelar, na noite dessa terça-feira (28), com pedido de liminar para retirar do ar o site “tudosobretodos.se”, que fornece ilegalmente informações particulares de cidadãos brasileiros, como endereço, CPF, nome de vizinhos, entre outros dados.

    A ação é de autoria do procurador da República Kleber Martins e tem como ré a empresa Top Documents LLC, sediada na República de Seicheles e que mantém o site. Entre os pedidos do MPF à Justiça, estão um requerimento para que empresas brasileiras de Internet não permitam o acesso ao endereço eletrônico, além de uma solicitação ao Reino da Suécia, via Ministério da Justiça, para que retire do ar o “tudosobretodos.se”, tendo em vista que o site possui domínio naquele país europeu.

    A medida adotada é apenas o primeiro resultado da investigação iniciada há menos de uma semana. A apuração do caso continua e novas ações judiciais poderão ser adotadas. A ação cautelar foi protocolada como processo judicial eletrônico (PJE), sob o número 0805175-58.2015.4.05.8400, e foi distribuída para a 1ª Vara Federal do Rio Grande do Norte.

    Confira a íntegra da ação clicando aqui.
    Assessoria de Comunicação
    Procuradoria da República no RN
    Fones: (84) 3232-3960 / 9119-9675

  5. È a piada pronta; o

    È a piada pronta; o responsavel pela empresa não se indetifica, mas por uma modica quantia divulga os dados de qualquer um, para “aproximar” as pessoas, como dizem: de boas intenções………………..

  6. Alarme falso!

    Nome, endereço e CPF podem não ser informações públicas, mas certamente não são secretas. Qualquer pessoa que compra qualquer coisa pela internet precisa informar esses dados. Qualquer assinante de qualquer jornal ou revista ou etc, também. Então basta alguém ter acesso legal ou por vazamento a um dos milhares de bancos de dados contendo dados não necessariamente públicos — mas publicáveis — de pessoas para que esse alguém desenvolva sistema como o tudo para todos.

    Dei uma olhada no código fonte deles, que qualquer navegador revela, e verifico se tratar de um aplicativo absolutamente trivial.

    Por exemplo, se fulando tem CEP próximo ao CPF de sicrano, então são vizinhos; se ambos têm mesmos sobrenomes, então são parentes, ETC.

    O que o sistema não consegue fazer é mostrar quanto você tem na conta bancária, qual o conteúdo de sua declaração de imposto de renda, enfim, tudo aquilo que é realmente privado.

    1. Você está equivocado. Minha

      Você está equivocado. Minha tia teve dados cadastrais, que só existem no Banco do Brasil, divulgados nesse site. Isso é crime. 

  7. Lembra algo?

    Se forem investigar esse site, investiguem – de novo?   – para valer? – aquela empresa da Verônica Tarja Preta. Ou seria a NSA tentando faturar com um subproduto da espionagem?

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