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Brasil no G20: Liderando a agenda por uma Transição Verde Justa Sustentável

Transição verde sustentável refere-se à mudança de emissões de gases de efeito estufa para uma economia de baixa intensidade de emissões

Blog: Democracia e Economia  – Desenvolvimento, Finanças e Política

Brasil no G20: Liderando a agenda por uma Transição Verde Justa Sustentável

por Fernanda Feil, Carmem Feijó e Carlos Henrique Horn

O Brasil ascende à presidência do G20, pela primeira vez, abrindo um leque de oportunidades para guiar discussões internacionais em torno de temas que também ressoam profundamente com suas aspirações nacionais. Criado em 1999, o G20 ganha proeminência a partir da crise financeira internacional de 2008, quando os países em desenvolvimento passaram a defender que a solução da crise passava por uma ampliação do sistema de coordenação internacional. Agora, sob a presidência do Brasil, o país está em posição de catalisar ações internacionais em favor de uma transição verde sustentável, protagonizando um processo de enfrentamento à tripla crise – ambiental, social e climática – que paira sobre o mundo. O país elegeu como temas prioritários: (i) o combate à fome, à pobreza e à desigualdade; (ii) o desenvolvimento sustentável, nas dimensões econômica, social e ambiental; e (iii) a reforma da governança global. Complementarmente, a presidência brasileira no G20 vem num momento estratégico, antecedendo a acolhida da conferência da ONU para o Clima (COP) em 2025, que ocorrerá na Amazônia, em Belém do Pará, proporcionando uma plataforma para o Brasil consolidar sua voz ativa em debates climáticos e sustentar seu papel emergente como um articulador de soluções climáticas no cenário mundial.

Transição verde sustentável refere-se à mudança de uma economia intensiva em emissões de gases de efeito estufa (GEE) para uma economia de baixa intensidade de emissões, minimizando a perda de biodiversidade e as desigualdades sociais. É um ajuste transformador na estrutura econômica em direção a uma economia ambientalmente sustentável, caracterizada pelo adensamento produtivo no sentido de que uma economia mais sofisticada tecnologicamente precisará ser também uma economia mais eficiente no uso dos recursos naturais. O adensamento produtivo contribui também para a redução da heterogeneidade estrutural. Por conseguinte, visa alcançar uma diminuição significativa nas desigualdades territoriais, setoriais e sociais. O objetivo é fomentar uma economia onde crescimento e desenvolvimento estejam desacoplados de danos climáticos, sociais e ambientais, e onde os benefícios deste crescimento sejam distribuídos de maneira mais equitativa entre diferentes regiões, setores e grupos sociais. Em resumo, esta transição envolve uma reconfiguração abrangente dos sistemas de produção, padrões de consumo e estratégias de investimento para se alinhar com princípios ambientalmente sustentáveis e socialmente inclusivos.

Assim, a transição verde sustentável é uma agenda abrangente que integra sustentabilidade ecológica com equidade social, fomentando uma economia que é resiliente, inclusiva e capaz de atender às necessidades atuais e futuras de sua população. Dado o caráter transformador da agenda de transição verde sustentável, é necessária uma nova convenção para o desenvolvimento, ou seja, um novo e revolucionário arranjo das instituições públicas e privadas, voltado para a formulação de estratégias e implementação de políticas com vistas à transição. Isso porque esta transição é mais do que uma questão de mudança estrutural nos padrões de produção e consumo, mas envolve também redistribuição de riqueza e novas dinâmicas entre as forças de poder na sociedade, devido ao nascimento de setores “verdes” e a destruição de setores “marrons”. É uma transformação profunda e global em direção a um paradigma que seja economicamente, socialmente e ambientalmente equitativo.

Nesse sentido, a interconexão entre as dimensões econômica, social e ambiental é vital para uma compreensão abrangente do desenvolvimento sustentável, uma relação que o Brasil está empenhado em realçar durante sua presidência do G20. Ademais, países em desenvolvimento, como o Brasil, enfrentam o desafio de equilibrar a urgência da crise climática com a necessidade de catching up com as economias desenvolvidas para aumentar a produtividade e a eficiência econômica. Assim, a transição verde implica uma transformação industrial baseada em novos paradigmas tecnológicos, que respeitem o meio ambiente e contribuam para a equidade social e regional.

Incentivando uma indústria inovadora, verde e sustentável em sua essência, deve-se achar alternativas para que o desenvolvimento econômico não seja sinônimo de degradação ambiental. Essa nova era industrial prioriza tecnologias limpas e inovações que reduzem a pegada ecológica, ao mesmo tempo em que proporcionam inclusão social e distribuição equitativa dos benefícios econômicos. Ao reforçar estas dimensões nas agendas do G20, o Brasil impulsionará o desenvolvimento sustentável global, e poderá consolidar seu papel de liderança na pauta de transição justa, reduzindo a distância econômica e social na esfera internacional.

Assim como na crise financeira internacional de 2008 viu-se a necessidade de reestruturação da governança global, a crise climática e ambiental que enfrentamos é uma questão transnacional que não admite soluções isoladas; pelo contrário, exige respostas coletivas e coordenadas. No contexto de desafios tão amplos e complexos, as estruturas de governança internacional existentes revelam-se insuficientes, carecendo de atualização para refletir as nuances geopolíticas contemporâneas e a urgência dos desafios atuais.

Sob a liderança brasileira no G20, o Brasil, como uma potência em termos de reserva de recursos naturais, apresenta-se como uma força motriz para promover a discussão de uma transição verde sustentável, que vá além da mudança estrutural nas práticas de produção e consumo. Assim, a presidência brasileira no G20 poderá representar um momento crucial para promover a transição verde como uma nova convenção de desenvolvimento rumo a um futuro mais justo e sustentável para todos.

Fernanda Feil – economista, especialista em finanças sustentáveis e professora colaboradora no Programa de Pós Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense – PPGE/UFF

Carmem Feijó – Professora titular do PPGE/UFF e coordenadora do Grupo de Financeirização e Desenvolvimento – Finde

Carlos Henrique Horn – Professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e ex-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE

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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF

Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países. Twitter: @Geep_iesp

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