O Conflito no Oriente Médio e a Indução a Erro (parte 2), por Marcos L Susskind

Espaço cedido ao autor para que se posicione sobre Israel no conflito com a Palestina.

O Conflito no Oriente Médio e a Indução a Erro (parte 2)

Por Marcos L Susskind

Em meu artigo de 19/05, aqui no GGN abordei as infundadas acusações de “Apartheid Israelense”, “Genocidio Palestino” e “Ataques a civis” – itens muito difundidos na mídia porém imensamente longe da realidade (https://jornalggn.com.br/editoria/internacional/o-conflito-no-oriente-medio-e-a-inducao-a-erro-por-marcos-l-susskind/). Hoje teremos novos assuntos.

“Força Desproporcional” e “Ataques Indiscriminados”

Existem bastante controvérsias quanto ao uso de força para repelir a agressão, mas há um razoável consenso que força desproporcional às vezes seja necessária. Um bandido que ameaça uma mulher sequestrada com uma faca no pescoço deve ser enfrentado por um único policial com uma faca? Ou será permitido o uso de policiais franco-atiradores para salvar a vítima? Neste caso, entre o uso proporcional e o desproporcional, as sociedades optam pela última sob o argumento que, se o dano deva ser de uma vítima inocente ou um agressor injusto, é preferível o dano ao agressor mesmo com força desproporcional. Afinal, o agressor criou a situação e é responsável pela necessidade do uso da força. Além disso, o agressor escolheu o tipo de ataque e sua vítima que, nas circunstâncias, não consegue impedir o ataque sem usar força desproporcional. 

O exemplo acima se aplica absolutamente ao conflito entre as forças terroristas da Jihad Islâmica e do Hamas, de Gaza, frente a Israel. Gaza é uma área sob domínio Palestino desde 2005 quando todos os Judeus foram obrigados a abndonar a área, entregue ao governo da Autoridade Palestina. Em 2007, após sangrenta Guerra Civil, a Autoridade Palestina foi expulsa de Gaza e o Hamas tomou o governo. Desde então este grupo bem como outras milícias terroristas no mesmo território, têm cometido todo tipo de ataques a civis em Israel: invasão fronteiriça por suicidas assassinos; fogo de morteiros, baterias anti-tanques e foguetes; esfaqueamentos; sequestros de militares e de civis; envios de balões incendiários e explosivos etc. As relações entre Israel e o Hamas têm sido sempre muito tensas, tanto na área de enfrentamentos militares como na retórica de ambos os lados. O Hamas tem conseguido condenações a Israel sem que isto signifique apoio a suas táticas terroristas. Nas recentes comemorações do feriado de Jerusalém, o Hamas decidiu abrir novamente as portas da agressão. Numa atitude que nada tem com a vida interna na Faixa de Gaza, que não afeta sua infraestrutura, seus habitantes, seus hospitais, sua economia ou mesmo suas forças militares, o Hamas decidiu lançar uma bateria de foguetes – 60 foguetes em meia hora – todos sobre alvos civis, sete dos quais sobre a capital de Israel, Jerusalém. Israel reagiu fortemente e iniciou-se esta imensa operação durante a qual 4000 foguetes foram atirados contra Israel – apenas 2 contra militares e o restante totalmente contra alvos civis: casas, edifícios, creches, instalações comerciais e industriais e até mesmo veículos de passageiros. E aqui entra a questão da Força Desproporcional.

Israel se preparou, a um custo descomunal, para evitar mortes de civis. Todas as construções modernas – casas, apartamentos, lojas, escritórios, shoppings etc. são obrigados, por lei, a terem abrigos antiaéreos. Os mais antigos têm o abrigo no subsolo ou nas imediações. Além disso, Israel desenvolveu o sistema Domo de Ferro, capaz de neutralizar cerca de 90% dos foguetes inimigos no ar, reduzindo ao máximo os danos à população. Infelizmente os traumas das crianças e de idosos, forçados constantemente a correr para os abrigos, ainda não foram solucionados.

Além disso, Israel vem desenvolvendo uma nova política, de contra ataques maciços a cada agressão. O Instituto Nacional de Estudos de Segurança é uma entidade civil, preocupada com o que ocorre em Israel. Já em 2008, em sua revista Insight no. 74, um artigo assinado por Gaby Siboni propunha “um ataque desproporcional contra os pontos fracos do inimigo como um esforço de guerra primário e operações para desativar as capacidades de lançamento de mísseis do inimigo como um esforço de guerra secundário”. E segue: “Com a eclosão das hostilidades, as FDI precisarão agir imediatamente, de forma decisiva e com força desproporcional às ações do inimigo e à ameaça que representam. Tal resposta visa infligir danos e punir em uma extensão que exigirá processos de reconstrução longos e caros. O ataque deve ser realizado o mais rápido possível e deve priorizar os ativos prejudiciais em vez de buscar cada um dos lançadores. A punição deve ser dirigida aos tomadores de decisão e à elite do poder”. … “Tal resposta criará uma memória duradoura entre os tomadores de decisão, aumentando assim a dissuasão israelense e reduzindo a probabilidade de hostilidades contra Israel por um longo período. Ao mesmo tempo, os forçará a se comprometer com programas de reconstrução longos e com uso intensivo de recursos.”

É interessante notar que o estudo nunca foi secreto e está disponível na Internet desde 2008 e portanto não deveria ser surpresa para o Hamas, que conta com eficiente equipe de espionagem cibernética. Estas recomendações foram desprezadas por muitos anos, porém, a partir de mudanças na cúpula da FDI, passaram a ser analisadas com seriedade. 

Uma das importantes recomendações do estudo era: “O público israelense deve entender que o sucesso geral não pode ser medido pelo nível de fogo contra Israel durante o confronto. O FDI fará um esforço para diminuir os ataques de foguetes e mísseis, tanto quanto possível, mas o esforço principal será voltado para encurtar o período de combate, desferindo um golpe sério nos meios do inimigo”. “Na Faixa de Gaza as FDI serão obrigadas a atacar duramente o Hamas e a se abster dos jogos de gato e rato de busca por lançadores de foguetes. Não se deve esperar que as FDI parem o fogo de foguetes e mísseis contra a frente interna israelense por meio de ataques aos próprios lançadores, mas por meio da imposição de um cessar-fogo ao inimigo”.

A decisão de não atacar civis foi outra importante ação pois fez crescer a oposição interna ao Hamas. Houve vítimas civis, embora poucas (cerca de 90 mortos). Mais da metade morreu por foguetes do próprio Hamas que caíram dentro da Faixa de Gaza por problemas com seu sistema de propulsão. As caríssimas e sofisticadas redes de túneis subterrâneos do Hamas foram amplamente destruídas – no momento em que escrevo, cerca de 127 km de túneis já foram destruídos, construídos a um custo estimado em centenas de milhões de dólares para serem sua grande forma de defesa e de ataques surpresas contra Israel. Também foram destruídas as fábricas de mísseis tanto da Jihad como do Hamas, a sua força marítima seriamente afetada bem como a sua capacidade de produção de drones explosivos. Nos combates foram atingidos muitos de seus “cérebros militares”, comandantes, engenheiros de bombas e foguetes, chefes de sistemas de informação militar mas, como dito, os danos civis foram de baixa monta. Assim, a “Força Desproporcional” talvez seja o método que leve a alguns anos de paz nesta fronteira explosiva.

“A Situação Interna em Gaza”

A população de Gaza sofre tremendamente. Nestes 16 anos de independência de Gaza, o ódio mútuo entre a Autoridade Palestina e o Hamas não conseguiu definir a relação entre estas duas forças, que se mútuo-sabotam, e portanto não permitem a abertura de negociações sobre dois estados para dois povos, uma vez que o lado Palestino tem visões radicalmente diferentes sobre o que isto vem a ser. O resultado é que a população de Gaza se transformou no “povo esquecido”: altíssimo desemprego, falta de oportunidade econômica, praticamente sem acesso a Israel e ao Egito (suas únicas fronteiras), sujeitos a uma ortodoxia religiosa imposta pelo Hamas, com serviços básicos deficientes (água, energia elétrica, hospitais e escolas), vivendo sob regime semi-ditatorial e vítimas de guerras e conflitos constantes, majoritariamente iniciados por seus próprios governantes

Israel também é parte do sofrimento tendo imposto cerco, restrição de entrada de certos produtos e de acesso a seus mercados internos. Em momentos de crise, Israel também restringe a área de pesca, o que afeta a renda da população. Porém o Hamas, através de sua belicosa retórica e sua violência contra civis bem como sua proximidade com a Irmandade Muçulmana perdeu o apoio do mundo Árabe (e muito de seu financiamento), se distanciou da Autoridade Palestina que já não se envolve em suas querelas, e conseguiu a ampla condenação internacional a Israel sem conseguir o apoio para suas próprias ações. A população vê, com o passar dos anos, que o conflito vai se restringindo a Israel e Hamas, com desinteresse dos demais agentes que optaram por “lavar suas mãos”, com uma exceção: a Turquia.

Enquanto Israel busca, a altíssimos custos, proteger sua população, o Hamas optou por usar o grosso de seu orçamento no esforço de guerra, deixando de construir a infra estrutura necessária ao bem estar de sua população. Investiu centenas de milhões de dólares em foguetes e túneis de ataque, em armas e treinamento militar, desleixando a energia, a água, o saneamento básico, a educação e a economia. Tampouco realizou eleições nestes 16 anos para avaliar o nível de satisfação da população, sacrificando seu próprio povo por aquilo que eles definem como sua “causa maior”: a destruição de Israel, o único país Judeu, para transformá-lo em mais um País Muçulmano – o de número 55.

Israel advertiu repetidamente os residentes da Faixa de Gaza, deixando bem claro que os constantes ataques a civis levariam a um confronto armado duro e feroz; em outras palavras, advertência – conforme exigido pelo direito internacional – foi dada, sendo constante e deliberadamente ignorada. 

Israel sofre imensa carência de mão de obra. Até as agressões do Hamas, cerca de 40.000 trabalhadores de Gaza entravam diariamente em Israel. O uso de muitos deles para assassinatos, explosões e transporte de armas exigiu o fim desta possibilidade. Assim, Israel passou a trazer trabalhadores da Tailândia, Índia, Moldova e China para substituir aquela mão de obra. Em 2019 Israel passou a permitir a entrada de 5.500 trabalhadores de Gaza, ampliando para 7.000 em Fevereiro/2020. Infelizmente o Hamas levou Israel a fechar novamente estes postos de trabalho. Estes trabalhadores levavam 10 milhões de dólares por mês em salários para Gaza, o que trazia empregos internos – mercearias, lavanderias, padarias, lazer, vestimentas, restaurantes. Com esta nova atividade militar, o Hamas fecha esta importante torneira. Seguramente o sofrimento da população de Gaza crescerá e será amplamente usado na propaganda internacional e, junto com as fotos das vítimas e dos edifícios demolidos, vão comover a opinião pública. Esta, novamente, sairá às ruas condenando Israel. 

Mas fica a pergunta: o Hamas realmente traz algo de bom para sua população?

Este artigo não expressa a opinião do Jornal GGN

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Redação

4 Comentários

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  1. Marcos L. Susskind brilhante, como sempre. Ao expor com clareza e abundância de dados históricos o que realmente acontece na região, contribui para lançar luz sobre um tema que normalmente é abordado de forma equivocada pela imprensa brasileira.

  2. Excelente artigo que esclarece o direito do Estado de Israel, país soberano, de defender seus habitantes dos ataques terroristas Hamas e Jihad Islâmica.

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