Por um pacto mínimo com os militares, por Luis Nassif

Já que não existe coragem cívica para definir limites, volta da Comissão de Mortos e Desaparecidos é o mínimo que famílias esperam

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Um pacto completo com os militares teria definido limites claros para sua atuação política, providenciado o indiciamento de militares envolvidos com a conspiração de 8 de janeiro.

Já que não existe coragem cívica para tanto, há que se ter um pacto mínimo com os militares. E ele passa pela volta da Comissão de Mortos e Desaparecidos.

Nada que se pareça com revolver de crimes políticos, de crimes contra a humanidade, mas apenas a possibilidade dos familiares poderem saber o destino de seus entes queridos e retificar os assentos de óbitos. 

É um dever moral que exige, do Exéercito, apenas a boa vontade para revelar destinos desconhecidos de corpos. É um dever humanitário do estado brasileiro, de entregar os corpos ou o reconhecimento estatal da responsabilidade do Estado.

A Comissão foi extinta pelo governo Bolsonaro no último dia de governo, 31 de dezembro de 2022, em um despacho apócrifo da Presidência da República. Seria tão fácil desfazer esse ato que se pensou que seria uma das primeiras providências da Presidência. As famílias ficaram na expectativa, e nada aconteceu.

Depois ficaram aguardando nas datas emblemáticas para a justiça de transição: 24 de março, Dia Internacional pela Luta de Memória e Verdade; 31 de março, aniversário do golpe militar de 1964; 30 de agosto, Dia Internacional das Vítimas de Deesaparecimento Forçado; 25 de outubro, dia do assassinato de Vladimir Herzog.

O Ministro Flavio Dino chegou a anunciar oficialmente a volta da Comissão. Finalmente, 04 de dezembro, data de criação da Comissão. Esperaram em vão. A próxima data simbólica será 31 de dezembro. 

O decreto está pronto, recebeu parecer favorável da AGU (Advocacia Geral da União), do Ministério da Justiça e até do Ministério da Defesa. Falta apenas a assinatura de Lula.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Avalio que não falta e não basta apenas a assinatura de Lula. Penso que faltam também as manifestações de outros segmentos que: por sua omissão, por sua submissão, por sua adesão, por sua colaboração e apoio ao golpe militar de 1964, receberam vantagens e usufruíram de proveitos de forma covarde e indecente.
    Um desses importantes segmentos é a imprensa (Grande Mídia/Mídia Corporativa), que deixou registros vergonhosos de traição e desrespeito ao seu próprio juramento e também ao seu código de ética e de conduta. Nunca mais irão se livrar das terríveis imagens e manchas, que ficarão estampadas para sempre na Marca dessas empresas. Porém, ainda podem reduzir a rejeição e amenizar a condenação. Para que aconteça, as empresas envolvidas devem demonstrar verdadeiramente que irão se dedicar com afinco e devoção total, para o retorno imediato da Comissão de Mortos e Desaparecidos. Imagino que irá lhe doer bastante na consciência, talvez não
    seja o seu lado preferido, mas é um custo muito barato se comparado ao grande mal e a grande traição que fizeram ao país e a população.

  2. Nassif,
    leia matéria na UOL sobre as aposentadorias de generais brasileiros, um verdadeiro acinte, para cada um na ativa há 24 aposentados recebendo saltos salários (ou suas viúvas e filhas “solteiras” recebendo).

    Fui cancelado, desde 2014 não recebendo mais convites para palestras porque falei, na Bienal do Livro de Brasília, que tivemos uma ditadura branda (na verdade, a mais branda que já houve no mundo), embora ruim como todas as ditaduras para quem sofreu seus efeitos diretos (mortos, desaparecidos, exilados, presos, perseguidos, cassados). Na Argentina a ditadura matou 400 vezes mais, considerando a população quatro vezes menos que a nossa (300 mortos aqui e 30 mil lá).
    Falei aquilo enojado com a bienal, que tematizava 50 anos da ditadura (1964/2014) rendendo glória a Marighela, Lamarca e outros que pregavam em 1968 (como eu) a ditadura comunista “do proletariado”. Antes de ir para a mesa-redonda, passei por uma sala dedicada ao Pasquim, onde uma professora dizia a uma turma de adolescentes que o Pasquim foi fechado pela ditadura… Corrigi, lembrando que, conforme o próprio Jaguar seu último editor, O Pasquim foi fechado por incompetência administrativa… Ela me chamou de direitistas e saiu trotando…
    Enojado com isso, falei o que falei na mesa-redonda, mas só repercutiu a frase “tivemos uma ditadura branda”, mas em seguida eu disse que demonizar a ditadura como se tivesse sido a pior do mundo só serve para jogar os militares nos braços da direita… e quatro anos depois surgiu o bolsonarismo.
    Continuo sem receber convites para palestras etc, o que era usual antes disso. A esquerda – como a direita – só consegue ser maior na vingança que na burrice.

    Abraço!

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