Os assessores diplomáticos

O artigo “O equívoco do alvo mais fácil”, de Sergio Leo, no Valor de hoje, confirma a excelência do repórter, que consegue transitar através de  temas relevantes e complexos, com visão histórica e noção de relevância.

Ele contextualiza de modo correto as críticas ao assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia. Lembra que muitos presidentes trabalharam com pessoas de fora do Itamaraty para assessora na política externa.

O mais famoso foi Augusto Frederico Schmidit, influente junto a Juscelino Kubistcheck, e que montou a Operação Panamericana, como uma tentativa, já naquele tempo, de criar um polo alternativo à influência norte-americana no continente. E Schmidit estava longe de ser considerado um anti-americano.

Tenho um bom depoimento do diplomata Celso de Souza Mello contando a improvisação que foi a OPA e o “pequeno Itamaraty” – como era tratada a equipe de Schmidit.

Sérgio poderia mencionar outros assessores pouco conhecidos e que tiveram papel fundamental na história diplomática do país. Como Valentim Bouças, que assessorou Vargas.

A aproximação do governo Lula com o governo Bush, por exemplo, foi conduzida por assessores informais, brasileiros com trânsito junto ao Partido Republicano – e não foi Mário Garnero.

Todos eram bem mais sutis do que Marco Aurélio. De qualquer modo, a conclusão final do Sérgio mata a pau: o assessor fala o que o chefe pensa. As críticas ao assessor são uma maneira de criticar o chefe, mas sem se expor ao desgaste de atacar de frente o governante popular.

Novas influências

Chamo a atenção, ainda, para a matéria “A luta pela influência na América Latina”, de Stephen Fidler, Financial Times, publicada pelo Valor.

A influência política de Washington na América Latina está declinando. Uma tendência que começou antes dos atentados terroristas de 2001 contra os EUA se acelerou desde então, à medida que o governo de George W. Bush procurava, com pouco sucesso, ampliar a influência do país em outros lugares. A pergunta, oito dias antes de Barack Obama se mudar para a Casa Branca, é se ele fará algo para reverter o quadro.

(…) Os EUA ainda são o mais poderoso vizinho nas redondezas: seu comércio exterior com a América Latina supera os US$ 500 bilhões anuais, mais de cinco vezes o da China. Mas a expansão da influência chinesa e russa, e de potências menores como o Irã, está desafiando o domínio dos EUA na região.

Como deverá reagir o governo Obama a esses recém-chegados? Em primeiro lugar, dizem especialistas em política externa, ele deve reconhecer que os motivos para a Rússia e a China ingressarem na América Latina contrastam.

No caso da Rússia, seu crescente envolvimento – que possui um forte componente militar e é em grande parte direcionado aos adversários dos EUA na região, como a Venezuela de Hugo Chávez – visa a desestabilizar Washington. A intervenção mais discreta da China, cuja orientação é em grande parte econômica, pretende obter o efeito oposto.

(…) Ainda assim, os EUA continuam sendo o país em que a China deposita seu maior interesse estratégico. Para Cynthia Watson, professora de estratégia na Escola Nacional de Guerra dos EUA, “Pequim não cruzará uma linha que ameace [os laços com os EUA] por temer que isso ponha em risco o crescimento econômico exigido para sustentar o monopólio político do Partido Comunista Chinês” (…)

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Reportagem muito lúcida,
    Reportagem muito lúcida, parabéns ao reporter Sérgio Leo, apesar de eu discordar da premissa de que o Hamas impõe um inferno a Israel com o lançamento de mísseis, essa idéia dá a entender que o ataque é gratuito, quando na verdade trata-se de uma reação ao que o Governo israelense pratica contra os palestinos.

  2. Bom dia LN,

    Pois eu
    Bom dia LN,

    Pois eu discordo.
    O que os diplomatas do mundo tem feito para acabar essa carnificina?
    Temos que falar alto e grosso, afinal estamos lidando com genocidas altamente belicosos. O Brasil tem moral para agir como tem agido Marco Aurélio porque é um país pacífico.
    Por outro lado BUSH..nem se fala, criminoso nato, eo OBAMA em cima do muro.
    Marco Aurélio NELES.
    E aquele gravação do TOP, TOP, foi invasão de privacidade, na minha opinião! E advinha quem fez a gravação as escondidas? A Globo, é claro.

  3. A grande discordância,não da
    A grande discordância,não da mídia nativa que não teve coragem de dizer mas,de colunistas,na sua maioria independentes,deve-se ao fato da citação do terrorismo de estado praticado por Israel.
    Hoje,se observarmosgrande parte internacional e mesmo a manifestação em alguns países,a linha já é essa,ou seja,terrorismo de Estado.

  4. LN
    Ninguém no governo JK (não
    LN
    Ninguém no governo JK (não JFK) sabia o que fazer com os planos do Augusto Frederico Schmidit. O próprio Juscelino dizia aos amigos que era um plano maquiavélico para encher a paciência dos americanos… O Schmidit não tinha plano preparado nenhum, o planejamento da OPA foi feito em cima das coxas, foi um factóide.

    Como o do chanceler no.2, que fala o que o chefe pensa, mas o chefe manda o chanceler no. 1 para Israel… Pela cara do Amorim ontem na TV a Tzipi deve ter-lhe dado uma bronca pelo que disse o chanceler no. 2… Estado terrorista… E agora querem intermediar o inintermediável!
    abc
    zeh

  5. Gente, permitam-me dizer que
    Gente, permitam-me dizer que a política externa do Brasil – desde Ruy Barbosa – é de altíssimo nível, com uma visão clara da posição brasileira no cenário mundial, que não mudou nem nas trocas políticas pelos tempos (ou seja, é independente do Planalto) nem mesmo durante a ditadura (aliás, é bom que se saiba que muitos militares de alto escalão vêem esta posição com bons olhos e compartilham esta visão da política externa). Não foi à toa que o Brasil presidiu a II Assembléia Geral da ONU por Osvaldo Aranha (aquela que decidiu pela partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel).
    Pensando no Itamaraty de hoje: Garcia e Amorim exercem uma função de qualidade, escorados numa imagem de democracia consolidada e de avanços econômicos e energéticos claros do País. Isso e a liderança continental levaram o Lula a buscar um papel de protagonista na crise do Oriente Médio, com aquela declaração de “tentar evitar que eles se matem”. Mas os diplomatas brasileiros sabem da complexidade da situação e dos interesses mundiais nela envolvidos, maiores – muito maiores – que o Brasil. Entrar de cabeça pensando em expandir influência é uma faca de dois gumes, pois pode voltar-se contra nós. Por isso, o comedimento e a prudência na abordagem, que estão certíssimos.

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