Ajuda humanitária a Gaza é mais uma vez adiada e ONU faz apelo no Egito

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um apelo às autoridades sobre "tábua de salvação ao povo palestino"

Secretário-geral da ONU António Guterres visita o cruzamento de Rafah, na fronteira do Egito com a Faixa de Gaza. Foto: Mohamed Elkoossy/UN Egypt

De acordo com informação do subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, na manhã desta sexta-feira (20), a entrada de cerca de 100 caminhões com mantimentos básicos em Gaza deve ocorrer apenas neste sábado (21) ou no domingo (22). 

A passagem dos caminhões estava prevista para esta sexta. Eles levam água, comida e medicamentos como ajuda humanitária aos civis da Faixa de Gaza que sofrem bombardeios diários de Israel. De acordo com o fuso horário local, é improvável que isso ocorra nas próximas horas.  

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que está no Egito, fez, também nesta sexta pela manhã (horário local), um apelo às autoridades para que agilizem a abertura da fronteira porque a ajuda humanitária é “uma tábua de salvação ao povo palestino”, que além de morrer com as bombas israelenses passam fome e sede. 

Conforme as autoridades militares israelenses, a fase de bombardeios a Gaza está no fim e, na sequência, terá início a fase de incursões por terra. Para Guterres, o cenário se degrada com velocidade alarmante e sem preocupação com as consequências para a sociedade civil. 

Ajuda humanitária   

A entrada de ajuda humanitária foi permitida por Israel após a viagem de Joe Biden ao país, onde o presidente dos Estados Unidos se encontrou com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel, todavia, não permitiu que a ajuda viesse das terras israelenses.

Então o governo estadunidense fechou um acordo com o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, para fornecer suprimentos à Gaza por meio do território do Egito, a chamada Passagem de Rafah, onde todos os caminhões com as toneladas de mantimentos aguardam a abertura da fronteira.

“Nós estamos em negociações profundas e avançadas com todas as partes relevantes para garantir que uma operação de ajuda em Gaza comece o mais rápido possível”, disse Martin Griffiths.

O adiamento tensiona ainda mais o cenário de caos que atinge, na maioria, civis palestinos que estão nos locais, que sofrem bombardeios rotineiros de Israel, após o início da guerra com o ataque do grupo radical Hamas em território israelense em 7 de outubro.

Gota em um oceano

Gaza, que já vivia em condições precárias antes da guerra, foi submetida a um bloqueio total por parte de Israel e nenhuma ajuda humanitária foi permitida.

Antes do conflito, 1,2 milhão de pessoas dependiam de ajuda alimentar da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). Apenas na Faixa de Gaza moravam 2,2 milhões de pessoas.

A agência informou à BBC que cerca de 500 caminhões entravam por dia em Gaza com ajuda humanitária, combustível e outros mantimentos. Para as agências humanitárias, a ajuda que vai entrar será muito abaixo do necessário.

Durante uma coletiva de imprensa em Genebra também na manhã de sexta-feira, Jens Laerke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, informou que estão em negociações avançadas com todas as partes relevantes para garantir que uma operação de ajuda em Gaza comece o mais rápido possível e nas condições apropriadas.

Crescimento do número de mortos

Em uma atualização após 13 dias de violência, o Ocha informou que, de acordo com as autoridades de facto do enclave, o número de mortos na Faixa de Gaza já é superior a 3,7 mil, incluindo pelo menos 1,5 mil crianças, enquanto mais de 12 mil pessoas ficaram feridas.

O Ocha afirmou que há vítimas presas sob os escombros, à medida que os “bombardeios incessantes” no território continuam.

O Escritório da Assuntos Humanitários também informou que, desde 7 de outubro, 1,4 mil pessoas foram mortas em Israel e mais de 4,6 mil ficaram feridas, de acordo com fontes oficiais israelenses. 

Pelo menos 203 pessoas estão detidas em Gaza, incluindo israelenses e estrangeiros, segundo estimativas israelenses.

Guterres pediu repetidamente para que o Hamas liberte os reféns “imediatamente e incondicionalmente”. O escritório de direitos humanos da ONU destacou que a tomada de reféns é proibida pelo direito internacional.

Ataques contra Palestinos na Cisjordânia

Enquanto isso, na Cisjordânia ocupada, o Ocha relatou que 79 palestinos, incluindo 20 crianças, foram mortos por forças israelenses desde 7 de outubro. 

Segundo a mídia israelense, também houve a morte de um soldado israelense pelas mãos de palestinos.

Pelo menos 74 famílias palestinas, totalizando 545 pessoas, mais da metade das quais são crianças, foram deslocadas de 13 comunidades “em meio a um aumento da violência por colonos e restrições de acesso intensificadas”, de acordo com o Ocha.

O escritório de direitos humanos da ONU expressou alarme na sexta-feira com a “rápida deterioração da situação de direitos humanos na Cisjordânia ocupada e o aumento no uso ilegal de força letal”.

A porta-voz Ravina Shamdasani afirmou que houve um aumento de prisões arbitrárias de palestinos na Cisjordânia ocupada e de árabes israelenses em Israel, “com relatos de maus-tratos e falta de devido processo”. “Isso deve parar”, ela insistiu.

Shamdasani também disse que o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, enfatizou que todas as partes devem respeitar o direito internacional dos direitos humanos e o direito internacional humanitário, e que “os princípios de necessidade, distinção, proporcionalidade e precauções em ataques devem ser respeitados o tempo todo por todos”.

Com informações da Agência ONU

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Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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