Governo e militares “veem perigo onde não existe”, diz ex-presidente da Funai

Para sertanista Sydney Possuelo, governo “tirou o pão e a água dos índios” quando passou para o Ministério da Agricultura a responsabilidade de demarcação de terras indígenas
 
Foto: Reprodução/Wikepedia
 
Jornal GGN – “Em todos os momentos históricos, os militares foram fundamentais na questão do órgão indigenista, como elemento renovador ou protetor. E agora é realmente difícil entender por que estão destruindo a memória do próprio Exército brasileiro”, declarou o sertanista Sydney Possuelo em entrevista à Folha de S.Paulo. 
 
O ex-presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), entre 1991 e 1993, criticou os militares que se manifestaram contra a política nacional de demarcação de terras indígenas, entre eles, o próprio Bolsonaro e o general da reserva Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). 
 
Ao retrocederem na política indigenista, eles estão “desmontando a imagem” do marechal Cândido Rondon, militar que criou o Serviço Nacional de Proteção Indígena (SPI), em 1910, que mais tarde, em 1967, se transformou na Funai. 
 
O sertanista destacou que não pertence “a qualquer agremiação política ou qualquer partido”. Ele foi exonerado do cargo que ocupava na Funai, em 2005, após criticar o então diretor do órgão, Mércio Pereira Gomes. Hoje lamenta a decisão do governo Bolsonaro de transferir da Funai para o Ministério da Agricultura o poder de demarcar terras indígenas.
 
“Acabou a Funai, ela não tem mais. Hoje podem chamar [o marechal] Rondon, qualquer líder indígena para ser presidente da Funai, não tem poder de nada, não tem mais nada”, disse o sertanista acrescentando que, a nova reorganização do governo, “tirou o pão e a água dos índios”.
 
“Você vai matá-los de fome! Só pelo fato de ter essa ideia política, já houve vários ataques a tiros em cima principalmente das frentes de proteção etnoambiental (…) A terra, que é o bem que sustenta a vida indígena, passa a ser delimitada, comandada, pelo agronegócio, foi para a Agricultura no meio daqueles que são hostis, muito hostis, aos povos indígenas”, explicou Possuelo.
 
O Ministério da Agricultura, agora responsável pela demarcação de terras indígenas, é comandado pela ex-deputada e líder da frente parlamentar da agricultura na Câmara, Tereza Cristina (DEM-MS). A Funai, por sua vez, foi transferida do Ministério da Justiça para o recém-criado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. 
 
“Lamentavelmente, para desgraça do índio, agora o próprio seio do Exército que fez todas essas mudanças, criações que foram para proteger os povos indígenas e também proteger o meio ambiente, porque cada terra indígena que você delimitar e demarcar, ela constitui-se propriedade da União… É lamentável chegar a um momento como esse e ver que tudo está sendo feito ao contrário. E me parece ter um certo sabor amargo”, completou.
 
Para o ex-presidente da Funai, os militares do governo “veem perigo onde não existe”, quando levantam teoria conspiratória sobre o risco da criação de um estado independente indígena na Amazônia.
 
“Eu demarquei há mais de 28 anos a Terra Indígena Yanomami. Por acaso houve algum movimento separatista lá dentro? Algum país veio aqui dentro para defender uma ideia de república? Não. Então vamos parar com essa ideia porque ela não procede”, pontuou. Para ler a matéria da Folha na íntegra, clique aqui. 
 
Redação

1 Comentário

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  1. Perigo inexistente

    Não fosse a midia e a pressão internacional à época, quando até estrelas de rock defenderam a causa dos índios , e a demarcação de reservas indígenas seria apenas um desejo.

    http://conexaoplaneta.com.br/blog/sting-e-raoni-se-encontram-em-megashow-do-cantor-britanico-em-sao-paulo-foi-bom-pra-eles-e-para-os-indios/

    Um exemplo

    https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami

    No Brasil, a população yanomami era de 19.338 pessoas, repartidas em 228 comunidades (Sesai, 2011). A Terra Indígena Yanomami, que cobre 9.664.975 hectares (96.650 km²) de floresta tropical é reconhecida por sua alta relevância em termo de proteção da biodiversidade amazônica e foi homologada por um decreto presidencial em 25 de maio de 1992.

    Fernando Donasci/Folhapress

    Foto atual do Sting,defensor dos índios brasileiros,  fortemente criticado pela imprensa

    https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2017/05/05/genio-ou-mala-sting-volta-ao-brasil-dividindo-opinioes.htm

    Mas o atual  governo e  os militares só vêem perigo se os índios conseguirem demarcar os seus territórios.

    Nunca, desde o descobrimento a populaççao indígena esteve em perigo tão grande.

    Em se mudando o estatuto do desarmamento, todos os posseiros, invasores, grileiros, garimpeiros, madeireiros, estrangeiros ou quem que seja vai poder invadir impunemente as terras indígenas.

    Porque os índios poderão armar-se

    Explico:

    Somente pessoas maiores de 25 anos e com capacidade legal plena poderão adquirir armas ( de modo bem resumido)

    Sucede que o índio não é considerado cidadão pleno.

    Ele é considerado como relativamente incapaz

    Ele está na categoria dos  “loucos  de todo gênero” e dos  menores de idade

    Ele tem que ser tutelado por um ente estatal, mais especificamente a FUNAI.

    A FUNAI agora sob o coiso, vai ser gerida contra os interesses dos índios, já que grande parte dos territórios de reserva desperta interesses nacionais e  internacionais de exploração.

    Desarmado e com a FUNAI de olhos bem fechados, os nossos índios correm um sério perigo de extermínio ou, na pior das hipóteses, de confinamento restrito e socialização forçada.

     

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