A histeria no debate sobre a Selic

Por Rafael Bianchini Abreu Paiva

Comentário ao post “Como atua a confraria da Selic

Nassif,

As notícias desta semana confirmam o que algumas análises, como a de Francisco Lopes,  já estavam alertando há meses: a economia já ensaia uma recuperação, ainda que a deficiência crucial de nosso modelo, a inexistência de mecanismos privados de investimento de longo-prazo, persista.

O debate sobre a Selic é cercado de histerias. É óbvio que a Selic deve ser aumentada se a inflação ensaiar sair do controle. Também deveria ser óbvio que há que se observar proporcionalidade no manejo da taxa de juros básicos da economia, pois ela influencia câmbio e dívida pública. E que, se usados com parcimônia, mecanismos alternativos como políticas macroprudenciais e políticas de preços, podem complementar o manejo das taxas de juros. Finalmente, deveria ser óbvio que a política monetária é um exercício de pragmatismo e que há vários objetivos envolvidos, como o nível de atividade econômica e a saúde do sistema financeiro. É uma pena que o debate no Brasil seja tão pobre, ao ponto de, se Banco Central fosse mais transparente, comunicando que “apesar da inflação alta, na atual conjuntura, a convergência para o centro da meta demandaria uma recessão violenta; por essa razão, momentaneamente estamos tolerando uma inflação mais alta”, os economistas do Rio de Janeiro entrariam em choque. Então, o BC faz seus discursos retóricos, desprovidos de significado real e todo mundo busca uma exegese infrutífera.

A mesma coisa ocorre com a discussão do PIB. Todos analistas sabem que crescimento de 7,5% em 2010 assentou-se em uma base fraca, de recessão no ano anterior, e não deveria causar o otimismo que causou na época. Também não causaria surpresa que, no ano seguinte, o PIB desacelerasse. O que surpreendeu foi um PIB de 2,7% em vez de 3,5% e a continuidade da estagnação até o final de 2012. Mas o PIBinho já estava contratado. O ridículo é a oposição, que entregou um crescimento do PIB de 2% ao ano no governo FHC, usando a desaceleração para culpar o governo de tudo. Da mesma maneira, é patético a presidenta argumentar que estamos crescendo mais que a Europa (o PIB per capita da Grécia ainda é quase o dobro do nosso) e o Mantega fazendo discurso de que nos próximos 12 meses cresceremos 4% com inflação em baixa. Por que não admitir o óbvio, que a estagnação durou mais que o esperado e que a política macroeconômica tem efeitos defasados? O fato é que entendo que, desde dezembro, há vários sinais de retomada econômica. Até o final do ano, a economia estará rodando a 4% ao ano, o que seguramente terá efeitos eleitorais e deixará a oposição (ainda mais) sem discurso:

– O PIB já rodava na casa de 2,4% ao ano no final de 2012, indicando uma retomada lenta e gradual;

– Ainda sobre o PIB de 2012, a melhor notícia foi uma retomada dos investimentos no último trimestre;

– A arrecadação de janeiro foi recorde, o que, somado aos efeitos da Selic mais baixa, resultou em superávit fiscal de mais de R$ 7 bilhões; O superávit é pontual, mas a arrecadação em alta indica uma economia mais aquecida;

– A produção industrial de janeiro também surpreendeu. Melhor que o crescimento em si, foi o fato desse crescimento ser puxado pela indústria de bens de capital e automobilística; até a indústria de caminhões reagiu, indicando que há mais empresários investindo;

– O reajuste de preços da Petrobrás e a alta nas ações das empresas de Eike Batista aumentam o otimismo na Bovespa como um todo; O mercado de capitais atualmente é um forte indicativo do animal spirits  do empresariado;

– O governo federal admitiu que vai entregar um superávit primário menor e focar em desonerações tributárias, essencial para garantir uma indústria minimamente competitiva;

– A Selic está em patamar civilizado. Mesmo se aumentar, não volta para a estratosfera;

– A troca de indexadores das dívidas estaduais e municipais dará um alívio financeiro não comprometido com gastos correntes a esses entes, o que pode favorecer o investimento em creches, moradia popular e transporte público;

– Os pacotes de concessões à iniciativa privada mostram a admissão que o estado sozinho não é capaz de suprir as deficiências na infraestrutura e que, gostem ou não, o setor privado é mais ágil para investir.

Entre os problemas que persistem e não são enfrentados, está a baixa taxa de poupança nacional, as travas aos investimentos públicos, a inexistência de fontes privadas de financiamento de longo-prazo e o papel de substituto ao mercado de capitais do BNDES. Os oito anos de governo Lula mostraram que a economia pode crescer a 4% ao ano, apesar dessas travas. Esperava-se da oposição a não repetição dos erros de avaliação do passado. PT e PMDB agradecem.

Luis Nassif

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