Analisando a taxa de desemprego no Brasil

Por Saulo B.

Ola,

cinco análises complementares analisam a baixa taxa de desemprego no Brasil (todas em anexo a este comentário). Vários artigos na imprensa, em 2012, apontam uma questão em aberto: como o país pode estar a crescer tão pouco e o desemprego ser tão baixo? Isso traz uma consequência eleitoral grave para quem está na oposição (municipal a federal): o alto desemprego, e não o baixo crescimento do PIB, é quem traz insatisfação ao eleitor.

Muitas análises apontavam, ao longo de 2012, que a indústria e os serviços não demitiam porque os custos de demissão-recontratação superavam a redução de custos na folha de pagamentos, e o empresário tinha esperança de uma volta do crescimento. Mesmo com os instintos “animais” do empresário brasileiro, o raciocínio não convencia os próprios analistas que o propunham. A  imprensa bateu forte no “pibinho”: o mensalão havia acabado, Mantega fala demais e era uma notícia ruim.  Mas o desemprego não subiu. E isso não fazia sentido. 

As análises abaixo apontam que a população envelheceu (a pirâmide etária modificou-se rapidamente, com menores taxas de fecundidade nos últimos anos), e os jovens passam mais tempo na escola. Inclui-se aí a possibilidade de um bônus etário nos próximos anos (ver em http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/perspectivas/capt12_estrutura.pdf).  Conclusão 1: a demografia é uma das componentes. 

Outra parte das análises abaixo apontam que menos gente quer trabalhar assalariado: parte da População em Idade Ativa (excluindo-se velhos e crianças) não quer se tornar População Econômicamente Ativa. Quem não procura emprego não está, tecnicamente, desempregado. É o que o Alexandre Schwartzman chama de relação PIA/PEA. Os motivos:  os empregos oferecidos têm baixo salário, a informalidade resolve a vida de uma parte, e o bolsa-família resolve a vida de outra parte. Para isso, conto com a análise da diarista e do taxista: “Lá na minha rua tem um monte de gente que não quer trabalhar… vive do bolsa família ou vive de bico… dizem que o salário é muito baixo para ter que trabalhar… melhor ficar à toa…”. Conclusão 2: só cresce quem quer trabalhar, só trabalha quem quer crescer.

Por fim, outra parte das análises diz que quem cresceu foi o setor de serviços, empregando a população que agora tem um pouco mais de dinheiro no bolso (houve uma política de aumento real do salário nos últimos anos, que o eleitor associa – corretamente – à presidência Lula). Diz-se que:

– é um setor que não sofre com a concorrência internacional,

– que pagava baixos salários e que agora pode pagar mais, e está, assim, concorrendo com a indústria

– que não demanda mão de obra qualificada e que é quem está garantindo o emprego de quem quer trabalhar

– que não está empregando a mão-de-obra mais qualificada, e deixa a produtividade (PIB/hora trabalhada) mais baixa. 

Conclusão 3: o dinheiro está circulando mais na periferia, na Freguesia do Ó. Como pobre não faz poupança, o dinheiro não vai logo para o banco. Passa de mão-em-mão, da cabelereira para  a  quitanda, dela para o supermercado, dele para o atacadista, daí para o industrial, que não quer investir e terceiriza a produção. Dinheiro circulando é economia aquecida. Mas o industrial prefere comprar da China e colocar o dinheiro em mais serviços. Entre nas lojas da Hering, leia as etiquetas que você vai entender o que significa isso. Menos indústrias, mais serviços.

Saulo

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A chave do enigma 05 de fevereiro, 2013, José Paulo Kupfer, EstadãoA combinação, na economia brasileira, de taxa de desemprego em níveis historicamente baixos com crescimento mais do que modesto ganhou aparência de enigma já faz algum tempo. As perspectivas de que o futuro próximo continue a apontar desemprego reduzido sem expansão acelerada da atividade econômica reforçam os desafios de encontrar as chaves explicativas da charada.

Já é possível encontrar uma explicação genérica para o fenômeno. A taxa de desemprego refletiria o crescimento da ocupação no setor de serviços, complementada pela retenção de trabalhadores já empregados pela indústria. Os dois movimentos seriam complementados por uma redução no ritmo de evolução da população econômica ativa (PEA).

Como explica o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro (FGV-RJ), está ocorrendo uma mudança estrutural na economia brasileira, com o avanço do setor de serviços. Uma das características dos serviços – mais especificamente das categorias no setor de serviços que, nos últimos anos, mais vêm absorvendo mão de obra na economia brasileira – é a da menor exigência de capital por unidade de emprego gerada. “Estamos falando de segmentos intensivos de mão de obra, que não geram alto valor agregado e demandam trabalhadores menos qualificados”, detalha Barbosa Filho.

No caso da indústria, apesar do recuo na produção industrial, as empresas, diante dos custos de demissão e contratação – no qual se deve incluir o custo de treinamento de novos admitidos -, retêm pessoal empregado ainda na expectativa de retomada da economia. À espera da recuperação, optam por cortar turnos de produção e recorrer a férias coletivas em lugar de já promover ajustes no quadro de funcionários.

Outra mudança que influencia diretamente a taxa de desemprego é a evolução da PEA. E esta vem avançando em ritmo cada vez mais lento. A evolução da PEA depende não só do volume de pessoas em idade ativa, mas também do número daqueles dispostos no momento a procurar uma ocupação. Com o envelhecimento da população e a forte redução da taxa de fecundidade, nas últimas décadas, a população em idade ativa (PIA), base da PEA, vem crescendo a um ritmo mais lento.

Além disso, como lembra Barbosa Filho, comportamentos sociais, com ênfase nos estímulos para maior qualificação de mão de obra, referendados por incrementos na taxa de escolaridade, têm postergado o ingresso de jovens no mercado de trabalho, contribuindo para a redução do ritmo de expansão da PEA. Em resumo, se a PEA, nos anos 70, crescia 4% ao ano, agora não avança mais de 1,5% anuais, colaborando para reduzir a taxa de desemprego. 

O professor Claudio Salvadori Dedecca, da Universidade de Campinas (Unicamp), mesmo não classificando o atual momento do mercado de trabalho como de pleno emprego, considera que a situação de baixo desemprego histórico não pode ser comemorada sem que os investimentos reajam, promovendo uma recuperação da economia. “Não só o fato de que são enormes os desequilíbrios regionais e setoriais no mercado de trabalho, com o convívio de áreas de folgas e apertos na oferta de mão de obra, mas principalmente a constatação de que um terço da força de trabalho ainda é informal e não dispõe de proteção social, mostra que não há esse pleno emprego”, avalia ele. “Isso, contudo, não quer dizer que a situação seja sustentável”.

Claudio Dedecca lembra que, nos últimos anos, cada ponto porcentual de expansão do PIB promovia a abertura de 400 mil novas vagas de trabalho formal. Em 2010, por exemplo, quando a economia cresceu 7,5%, foram criados mais de 2,5 milhões de postos de trabalho formais, confirmando a relação histórica. Agora, em 2012, com crescimento econômico de 1%, foram criadas 1,3 milhão de novas vagas, volume três vezes acima da relação. “Sem uma reversão, com aumento dos investimentos, a continuidade da situação atual, em que o desemprego baixo convive com produtividade baixa, pode levar a dois caminhos, ambos indesejáveis”, diz o economista. “Ou chancela uma economia de baixa remuneração salarial, convergindo para o salário mínimo, ou chancela uma economia de baixa produtividade.”

A chave da resolução do enigma do desemprego, como se pode perceber, é, em resumo, o mesmo aumento do investimento que poderá tirar a economia brasileira da armadilha do crescimento insuficiente em que se meteu.

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Do Estadão

Crise ainda ‘poupa’ mercado de trabalho

Redação – Blog Radar do Emprego – Estadão

Desaceleração econômica não afeta empregos substancialmente. Cenário pode mudar se incertezas permanecerem no ano que vem

Márcia Rodrigues

A economia em marcha lenta e a crise financeira internacional não devem afetar o mercado de trabalho de forma significativa neste ano, embora setores da indústria registrem desemprego.

“Se o cenário de desaceleração econômica persistir, podemos começar a sentir um encolhimento, ainda que pequeno, apenas a partir do primeiro quadrimestre do ano que vem. Antes, o cenário continua positivo para a maioria dos setores”, prevê o professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Luiz G. Brom, doutor em sociologia e especialista em mercado de trabalho.

Segundo Brom, apesar da desaceleração, não há ainda um reflexo no mercado de trabalho. “Se vai apresentar em médio prazo, vai depender da própria performance econômica nos próximos meses. Porém, nós não podemos esquecer de que o Brasil teve altas taxas de crescimento muito recentemente.”

Para o economista, mesmo que o País cresça pouco em 2012, ele vai crescer pouco, mas depois de ter crescido muito nos últimos anos. “Estamos em um patamar de atividade muito mais elevado do que há alguns anos. Por outro lado, se o esfriamento continuar, o mercado de trabalho deverá sofrer consequências. Mas no momento nenhuma pesquisa ou indicador demonstra este quadro”, diz.

Brom cita como exemplo os indicadores de maio da pesquisa mensal de emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Eles são positivos. Alguns setores, inclusive, demonstram acréscimo.” Entre os setores que continuaram com a criação de vagas em alta estão: construção, que passou de 7,7% em maio do ano passado para 7,9% para o mesmo mês neste ano; atividades financeiras, que foi de 15,9% para 16,3% no mesmo período; e serviços, que foi de 17,4% para 17,6%.

“O único setor que vem registrando queda no número dos postos de trabalho é a indústria”, afirma o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), Hélio Zylberstajn.

Segundo o professor, a indústria tem mostrado incapacidade de criar vaga já há algum tempo. “O setor não está conseguindo ser competitivo. Não consegue exportar e vem perdendo mercado interno por conta do aumento das importações.”

De acordo com o indicador do IBGE, a criação de postos de trabalho foi de 16,7%, em maio de 2011, para 16,1% no mesmo mês deste ano. Outra pesquisa, divulgada na última quinta-feira pela Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), apontou que a indústria paulista fechou sete mil postos de trabalho em junho, registrando uma queda no mês de 0,39% (veja matéria abaixo).

“Apesar do encolhimento na criação de vagas registrado na indústria, o mercado de trabalho não vem sentindo a retração, porque o setor representa apenas 20% dos postos abertos no País”, afirma Zylberstajn.

Outro economista que acredita que o único impacto da crise vem sendo sentido apenas pela indústria é o professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rodrigo Leandro Moura. “Enquanto a indústria sinaliza uma pequena retração, já que a taxa de desemprego continua baixa, percebemos um acréscimo na população ocupada (pessoas economicamente ativas) no trabalho informal.”.

De acordo com o professor, é possível medir este crescimento, porque a pesquisa do IBGE contabiliza, além dos trabalhadores que atuam com ou sem carteira assinada, os profissionais que exercem suas atividades por “conta própria” e os empregadores, ou seja, todas as pessoas que possuem algum tipo de rendimento. O porcentual de ocupados passou de 53,6%, em maio de 2011, para 54,2%, em maio deste ano. Enquanto o de desocupados caiu de 3,6% para 3,3% no mesmo período. “Um fator que pode ter contribuído para este acréscimo é o aumento da adesão ao microempreendedor individual (MEI)”, comenta Moura.

Economista da LCA Consultores, Caio Machado acredita que o cenário deve melhorar no segundo semestre, por conta das medidas econômicas anunciadas pelo governo. “Além dos fatores sazonais, como a abertura de vagas temporárias que ocorrem neste período, a expectativa é de as medidas monetárias e fiscal do governo comecem a se refletir no desempenho das empresas nos próximos meses.”

Opinião semelhante tem a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Elaine Saad. Segundo ela, alguns setores continuam sofrendo com a escassez de mão de obra qualificada. E, mesmo com a economia desacelerada, ainda devem continuar com as contratações em alta. “O déficit em alguns casos é tão grande, que não será possível sentir a falta de postos de trabalho.”

Entre os setores que manterão as contratações estão engenharia, principalmente a civil e de petróleo e gás, e tecnologia da informação. “Esta crise não está tão perceptível para o mercado de trabalho como a de 2009. Não estamos percebendo fechamento de vagas”, diz.

ENTREVISTA

Luiz G. Brom, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap)

Para economista, Brasil apresenta problemas estruturais e valoriza criação de postos de trabalho braçal

Estamos vivendo a era do pleno emprego?
O governo martela bastante nesta ideia de que vivemos a era do pleno emprego, mas eu discordo porque isso tem um viés quantitativo e outro qualitativo. O índice de desemprego caiu no Brasil? Com certeza caiu bastante e ainda com tendência de chegar ao zero, apesar de duvidar que chegaremos a este patamar. Então, eu sou da linha de pensadores que avalia a situação brasileira como a de que não estamos vivendo no pleno emprego.

Por que?
É verdade que o desemprego caiu, porém, o mercado de trabalho brasileiro cresceu, ou seja, a oferta aumentou no extrato de emprego de má qualidade. Então, se olharmos o próprio Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que controla apenas os empregos formais, com carteira assinada, ele mostra que 70% dos novos postos de trabalho criados no País remuneram abaixo de dois salários mínimos. Ou seja, não dá para falar em pleno emprego em um país que paga tão mal.

A crise já afeta o mercado de trabalho?
Nenhum indicador econômico demonstra alguma retração. Neste ano é bem provável que a gente não sinta nada, mesmo que a economia continue desacelerando. Principalmente por estarmos no segundo semestre, que costuma ser melhor por causa das contratações de trabalhadores temporários. Agora, se a crise permanecer, o mercado de trabalho deve começar a sentir algum reflexo negativo somente a partir do primeiro quadrimestre do ano que vem. <MC1>

O senhor sinalizou que o mercado de trabalho brasileiro apresenta problemas estruturais, quais seriam?
Ao longo dos últimos dez anos, o mercado de trabalho cresceu, mas com baixa qualidade nos postos de trabalho e acréscimo de vagas de natureza braçal, foco da geração da maioria dos postos. São herança do nosso subdesenvolvimento. Ainda são reflexos de um país atrasado. Também observamos que os jovens com menos de 24 anos têm muita dificuldade de entrar no mercado de trabalho e as mulheres continuam ganhando menos que o homem mesmo ocupando a mesma função.

Indústria paulista fecha 7 mil postos

A indústria paulista fechou sete mil postos de trabalho em junho, registrando uma queda no mês de 0,39%, com ajuste sazonal, em relação ao desempenho verificado em maio, segundo pesquisa de nível de emprego divulgada pela Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp) na última quinta-feira. Com exceção de 2009, ano em que a crise financeira internacional se agravou, este é o pior resultado mensal da série iniciada em 2006.

Segundo o diretor do departamento de estudos e pesquisas econômicas (Depecon) da Fiesp/Ciesp, Paulo Francini, o emprego na indústria deve encerrar o ano de 2012 com uma taxa negativa de 2,3% em comparação com o ano anterior. “Isso representa uma média de 100 mil empregos a menos do que havia em 2011.”

De janeiro a junho de 2012, a indústria paulista gerou 31 mil empregos, com variação positiva de 1,20% para o período. Ainda assim, esse é o pior desempenho da série iniciada em 2006, com exceção de 2009, quando o indicador computou variação negativa de 1,87%.

A queda do índice no mês não foi maior porque o setor de açúcar e álcool abriu 16.533 vagas – o equivalente a um aumento de 0,64% –, enquanto os demais setores, incluindo a indústria de transformação, foram responsáveis pelo fechamento de 23.533 postos no mês passado, com variação negativa a 0,91%.

Em maio, a pesquisa apurou um ganho 0,33% na comparação mensal. Na ocasião, o diagnóstico do mês apontou sinais de que alguma recuperação poderia ser percebida a partir do segundo semestre. No entanto, a esperança “foi frustrada”, diz o diretor.

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Do Valor

Demografia ajuda a explicar o pleno emprego no Brasil

A redução da natalidade e do número de pessoas entrando no mercado de trabalho faz com que diminuam os índices de desemprego

A divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos dias dos dados sobre crescimento – muito modesto, tímido mesmo – da economia no segundo trimestre e do desemprego – que se mantém em níveis excepcionalmente baixos – reforça ainda mais a percepção dos especialistas de que é necessário acompanhar com especial cuidado a evolução demográfica do país.

Como já foi escrito pelo repórter Sergio Lamucci, do Valor, num artigo no dia 27 de junho, o Brasil se tornou nos últimos meses o país que não cresce economicamente, mas está em pleno emprego, ou muito próximo dele, com a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas no seu nível mínimo histórico.

São várias as explicações para esse “descasamento” entre uma expansão pequena do Produto Interno Bruto (PIB) e o desemprego baixo. Uma delas é que, depois de enfrentarem grandes dificuldades para encontrar mão de obra qualificada no período de crescimento mais acelerado do país, as empresas estão agora atrasando o máximo possível qualquer decisão de demissão dos funcionários. Nos últimos anos, muitos grupos empresariais investiram pesadamente em treinamento e preferem agora passar um período sem cortes de pessoal mesmo que haja folga na sua capacidade de produção.

Os analistas também lembram que o setor de serviços, que emprega grande número de trabalhadores, está tendo um desempenho acima da média da economia em termos de crescimento. De fato, isso está acontecendo. Os dados detalhados sobre o PIB do terceiro trimestre apresentados pelo IBGE na sexta-feira mostram que no setor de serviços houve aumento de 0,7%, enquanto que a indústria registrou queda de 2,5%.

Há, porém, um outro fator preponderante que ajuda a compreender o desequilíbrio entre PIB e emprego relativamente pouco estudado até agora. A forte queda da taxa de fecundidade no Brasil tem afetado o ritmo de alta da população em idade ativa (PIA) e, com isso, diminuído a velocidade de expansão da oferta de trabalho.

A população de 18 a 24 anos (faixa etária que costuma oferecer boa parte dos “entrantes” no mercado de trabalho) está até mesmo encolhendo. Depois de atingir 23,9 milhões de pessoas em 2005, recuou para 22,7 milhões em 2009 e deve cair para 21,9 milhões neste ano, segundo estimativas do departamento econômico do Bradesco, feitas com base em projeções do IBGE por faixa etária.

Nesse cenário, a oferta de mão de obra tem crescido a um ritmo consideravelmente inferior ao da demanda. Como resultado, o Brasil registra há meses uma baixíssima taxa de desemprego. Em maio, a desocupação nas seis principais regiões metropolitanas estava na casa de 5,5%, na série livre de influências sazonais, segundo o levantamento da consultoria LCA (em junho, o IBGE não divulgou os dados relativos ao Rio e, em julho, os números do Rio e de Salvador, por causa da greve dos funcionários da autarquia).

O Brasil passa por um processo de mudança demográfica bastante significativo, confirmado pelo Censo de 2010. Relatório do Bradesco destaca que “a mudança da estrutura etária em curso nas últimas décadas se acentuou desde o Censo de 2000” -a participação da população com 65 anos ou mais foi bastante expressiva, assim como a fatia dos habitantes de menos de 15 anos. Em 1970, 42% das pessoas tinham menos de 15 anos, número que caiu para 24,1% em 2010. A fatia dos maiores de 65 anos, por sua vez, subiu de 3,2% para 7,4%.

Com isso, fica claro que o Brasil passa por um processo de rápido envelhecimento populacional, em que há uma tendência de forte declínio da taxa de fecundidade, como destaca em seus estudos o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB) e assessor da presidência do BNDES. Um fenômeno que tem um impacto dos mais relevantes sobre o mercado de trabalho.

A taxa de fecundidade, por exemplo, caiu de quase 6 filhos por mulher em 1970 para 1,9 em 2010, uma taxa baixa para padrões internacionais e comparável à de países ricos com estrutura demográfica madura, como o Canadá, observa Jorge Arbache.

Nesse cenário, é essencial que sejam revistas as políticas públicas voltadas tanto para educação quanto para previdência e assistência social. Um país com menos jovens precisa se ajustar à nova realidade.

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Do Valor Econômico

Pleno emprego?

Por João Saboia.

A redução acentuada da taxa de desemprego do país ao longo dos últimos anos tem levado muita gente a afirmar que o Brasil estaria vivendo uma situação de pleno emprego ou, pelo menos, de quase pleno emprego. Se, por um lado, esse fato seria positivo do ponto de vista dos trabalhadores, que se beneficiariam de uma maior demanda com melhores salários e condições de trabalho mais favoráveis, por outro, seria um risco para a inflação e para o próprio crescimento econômico, na medida em que haveria cada vez mais dificuldades de contratação de pessoal, especialmente quando se trata daqueles com maior nível de qualificação.

Na realidade estamos longe de tal situação e ainda há muito espaço para a inserção de mais pessoas no mercado de trabalho, além de melhor utilização da atual força de trabalho. Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE deixam isso claro. A PME conta apenas uma parte do que está ocorrendo no mercado de trabalho brasileiro, na medida em que cobre somente seis regiões metropolitanas. De qualquer forma, os principais centros urbanos do país estão cobertos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. Tais regiões representam cerca da quarta parte da população economicamente ativa (PEA) do país. No último mês de dezembro, a taxa de desemprego não passava de 4,6%, indiscutivelmente um valor bastante baixo, tanto na comparação com os dados da PME nos últimos anos quanto na comparação com o que acontece atualmente no resto do mundo. Mas uma análise mais atenta dos dados traz novas informações.

Segundo a PME, havia 23,4 milhões de pessoas ocupadas naquele mês. Destas, pouco mais da metade estava empregada com carteira assinada, situação típica dos melhores empregos no setor formal da economia. As demais eram trabalhadores por conta própria (4,1 milhões), empregados sem carteira assinada (3,7 milhões), funcionários públicos ou militares (1,8 milhão) e empregadores (1 milhão). Entre o pessoal ocupado havia 3 milhões de sub-remunerados, recebendo menos que o salário mínimo horário, e 480 mil trabalhando poucas horas, embora disponíveis para jornadas maiores.

Verifica-se, portanto, que parcela importante dos “ocupados” poderia ser muito melhor aproveitada, trabalhando mais horas, sendo remunerada com salários mais elevados e participando do setor formal da economia. Uma das consequências de tais mudanças seria um inevitável aumento da produtividade do trabalho e, consequentemente, maior potencial de crescimento econômico para o país.

Com relação aos trabalhadores desempregados, totalizavam 1,1 milhão em dezembro, sendo constituídos, principalmente, por pessoas jovens, do sexo feminino e de nível de escolar relativamente elevado – 55% são mulheres; 41% têm no máximo 24 anos; e 59% possuem no mínimo o segundo grau completo. Curiosamente, o elevado número de pessoas desempregadas com nível de escolaridade alto para o padrão do país reflete o próprio aumento dos anos de estudo da população brasileira verificado nos últimos anos.

Um dos dados mais interessantes divulgados mensalmente pela PME, porém muito pouco utilizado pelos analistas, é o referente à população não economicamente ativa (PNEA), correspondendo àqueles que não trabalham nem buscam emprego, não sendo, portanto, considerados nem ocupados nem desempregados. A maior parte dos 18 milhões de pessoas da PNEA é constituída por crianças e idosos, mas uma parte substantiva poderia estar participando do mercado de trabalho se a economia estivesse crescendo a taxas mais elevadas. Havia nela, por exemplo, 2,1 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, das quais 1,7 milhão estavam disponíveis para trabalhar.

Dessas últimas, cerca 750 mil haviam participado do mercado de trabalho nos meses anteriores. O total de pessoas da PNEA que estava disponível para trabalhar representava um número bem superior ao 1,1 milhão de desempregados encontrados pela PME em dezembro.

Caso elas estivessem efetivamente procurando emprego naquele mês, a taxa de desemprego mais que dobraria.

Tendo em vista que a geração de emprego no país tem se concentrado no setor terciário (comércio e serviços), onde usualmente os postos de trabalho exigem menor nível de qualificação e pagam salários menores, a eventual transformação de parte das pessoas atualmente na PNEA em trabalhadores ocupados poderia ocorrer sem maiores dificuldades no futuro, reforçando o argumento de que ainda nos encontramos muito longe do que possa ser considerado como pleno emprego.

Em outras palavras, se a economia se recuperar nos próximos anos, haverá um verdadeiro batalhão de trabalhadores potenciais que poderá ser mobilizado para ser incorporado ao mercado de trabalho. Claro que isso não significa que está tudo sob controle e que não seja necessário aumentar cada vez mais a qualidade da mão de obra brasileira com a melhoria do ensino público e continuidade do aumento da escolaridade da população, além do fortalecimento do ensino técnico de segundo grau. Pelo contrário, tais medidas devem ser uma preocupação constante e são fundamentais para a elevação do nível de qualificação e de produtividade do trabalho.

Resumindo, o país está distante do que poderia ser considerada uma situação próxima ao pleno emprego, tanto pelo fato de que muitas pessoas atualmente ocupadas estão sendo subutilizadas e se encontram em situação bastante precária e de baixa produtividade, quanto pelo grande volume de pessoas que estão disponíveis para serem absorvidas pelo mercado de trabalho a qualquer momento, desde que a conjuntura econômica seja mais favorável
.

 

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Do Valor

A mecânica da ilusão

Alexandre Schwartsman

Sempre imaginei que economistas, especialmente os que se especializaram no estudo do mercado de trabalho, soubessem identificar uma situação de pleno emprego, mas me enganei. Por incrível que isto possa soar, ainda há quem acredite numa versão mecânica do fenômeno, igualando pleno emprego ao esgotamento “físico” do universo de pessoas em idade ativa, apenas atingido quando praticamente todos (exceto idosos e crianças) naPopulação em Idade Ativa (PIA) estiverem empregados. Já pela ótica econômica, a configuração do pleno emprego é bastante distinta. A qualquer momento as pessoas em idade ativa se defrontam com uma decisão nada trivial: participar ou não do mercado de trabalho. Há, é claro, aqueles para quem trabalhar é um imperativo, sem o que não conseguiriam sobreviver. Estes, quase por definição, farão parte da População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, os engajados no mercado de trabalho, empregados ou buscando emprego. Para outros, porém, há alternativas ao mercado, desde estudos até o cuidado com os filhos, sem obviamente esgotar as possibilidades. Neste caso a decisão de participação depende do balanço entre custos e benefícios. Os custos refletem a probabilidade de obtenção de um emprego. Em períodos de crise, por exemplo, quando a probabilidade é baixa, espera-se que a PEA se reduza face à PIA, ou, posto de outra forma, que a taxa de participação (a razão entre PEA e PIA) caia. Isto foi observado, por exemplo, no começo de 2009 (ver gráfico), refletindo a crise internacional.
Fonte: Autor (a partir de dados dessazonalizados do IBGE) Em particular, como a taxa de desemprego é calculada com relação àqueles engajados no mercado, tal redução fez com que a taxa observada de desemprego aumentasse apenas marginalmente no período, dando a falsa impressão que o mercado de trabalho teria sofrido pouco na crise. Já a estimativa de desemprego ajustada a movimentos da taxa de participação revela, ao contrário, uma elevação de quase dois pontos percentuais no desemprego (ver gráfico), “mascarada” pela queda da taxa de participação. Os benefícios, por sua vez, refletem o salário esperado, isto é, a taxa de participação cresce em linha com salários, como, aliás, observamos no período mais recente e de forma mais intensa no trimestre final do ano passado. Isto, por sua vez, tende a “mascarar” a queda da taxa de desemprego, já que mais pessoas se juntam à PEA, elevando a quantidade ofertada de mão-de-obra. Caso a elevação dos salários necessária para convencer estas pessoas a se engajar no mercado se dê no mesmo ritmo que a expansão da produtividade os custos unitários do trabalho permanecem inalterados. Significa que o ritmo de crescimento da demanda por mão-de-obra é consistente com a expansão da oferta (seja pelo crescimento populacional, seja pela maior taxa de participação) e também congruente com a inflação na meta. Isto configura o pleno emprego na ótica econômica. Se, porém, o aumento da taxa de participação exigir elevações salariais em excesso ao crescimento da produtividade (portanto elevação do custo unitário do trabalho), surgirão pressões inflacionárias, indicando que a economia está operando além do pleno emprego. A perspectiva econômica do mercado de trabalho, portanto, sugere que a disponibilidade de mão-de-obra fora da PEA está longe de ser suficiente para determinar se a economia opera abaixo do pleno emprego. O crucial é saber se a elevação salarial necessária para convencê-los a se juntar à PEA é alinhada com o crescimento da produtividade. Este não parece ser o caso no Brasil de hoje. Pelo contrário, salários médios nominais têm crescido a taxas superiores a 10% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o crescimento da produtividade, tomado ao pé da letra, foi negativo em 2012, uma vez que a expansão do emprego (pouco mais que 2%) superou largamente o crescimento do PIB. Mesmo tomando (como acho correto) uma medida de tendência da produtividade, ao invés da observação pontual do ano passado, a conclusão não se alteraria: salários crescem acima da produtividade, forte indicação de uma economia em que o mercado de trabalho está excessivamente aquecido. Uma vez analisada a questão sob a perspectiva econômica, que envolve pessoas tomando decisões à luz de custos e benefícios, fica difícil escapar à conclusão que, a despeito de possível disponibilidade de mão-de-obra além da PEA, a economia brasileira opera sim a pleno emprego. Apenas ignorando os aspectos econômicos do problema, em particular a evolução dos preços, é que se pode iludir acerca dos obstáculos hoje enfrentados no mercado de trabalho.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Desemprego

    Acho alguns numeros bem distorcidos e não consigo aceitá-los. Como é possivel que apenas 80 milhões seja o numero da PEA. Ou seja, 47% da população apenas! Ela na realidade caiu pois já foi maior que 50%! Nos paises desenvolvidos a PEA equivale a cerca de 70% da população! Como é possivel que se diga que estamos com pleno emprego com tão poucos trabalhando? Deveriamos abandonar essa taxa de desemprego e troca-la por uma taxa de emprego!

    Se fosse mostrado que o emprego no Brasil caiu de 50% para 47% por exemplo, isso mostraria melhor a realidade.

    O indice de desemprego é bastante distorcido não só no Brasil como nos EUA, por exemplo, que em 2008 na crise perdeu 10 milhões de empregos. De lá para cá houve uma recuperação muito baixa, com crescimento de empregos mas insuficientes para recuperar aqueles 10 milhões, mas a taxa de desemprego caiu, artificialmente devido a que menos pessoas procuram emprego, mas os 10 milhões sontinuam sem emprego contando se os que ainda não recuperaram somados ao crescimento da população, mas isso não é mostrado. Mostra-se apenas a taxa de desemprego que não mostra essa realidade. Isso é errado.

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