As medidas do BCE por Espanha e Itália

Do Estadão

BCE blinda Itália e Espanha com 5 bilhões de euros em um único dia 

Para mercado, medida do Banco Central Europeu está ”comprando tempo” e não dando uma solução real para a crise 

09 de agosto de 2011 | 0h 00 

Jamil Chade – O Estado de S.Paulo 

CORRESPONDENTE / GENEBRA

Depois de gastar quase 5 bilhões em apenas um dia para blindar Itália e Espanha, o Banco Central Europeu conseguiu, pelo menos de forma temporária, evitar o contágio de duas das mais importantes economias da zona do euro.

Mas o mercado põe em dúvida a capacidade de que esse arsenal seja utilizado por muito tempo e alerta que o BCE pode estar apenas comprando tempo, sem dar uma solução real para a crise.

Na noite do domingo, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, finalmente aceitou voltar a comprar títulos da dívida da Itália e da Espanha, como forma de frear a turbulência nos mercados e dar uma sinalização a investidores de que não deixaria a crise da dívida atingir o coração da Europa. A ação foi a única medida concreta que saiu das horas de “diplomacia do resgate” entre governos no fim de semana para evitar uma quebra das bolsas ontem.

OrisO risco país da Espanha caiu em 105 pontos, o melhor dia desde a adoção do euro, e o da Itália em 81 pontos, cerca de 5%. Mas o poder da intervenção se provou menor que em maio de 2010, quando o BCE usou pela primeira vez o mecanismo, ao comprar títulos da Grécia. Naquele momento, o risco grego caiu em 468 pontos em um só dia.

Da parte de governos, a queda foi anunciada ontem como uma prova da eficiência da estratégia europeia. “A Itália e a Espanha já estão fora de perigo e não precisarão de pacotes de resgate”, afirmou Michael Noonan, ministro de Finanças da Irlanda. Na Espanha, o governo deixou claro que essa era a única saída viável para estabilizar o continente.

Pessimismo. Mas investidores alertaram que esse pode não ser o cenário mais provável. “O que foi comprado hoje foi apenas uma gota no oceano”, afirmou um analista em Zurique, que pediu para não ser identificado. As estimativas são de que o BCE teria de gastar 850 bilhões para blindar os dois países, algo que dificilmente o banco faria.

Desde maio de 2010, o BCE usou 74 bilhões para comprar títulos de Portugal, Irlanda e Grécia. Agora, teria de multiplicar os gastos por dez. Mark Schofield, chefe de estratégia de taxa de juros no Citi, estima que o mercado vai testar nos próximos dias o compromisso do BCE de continuar com as compras.

Em outro sinal de que o poder de fogo do BCE pode ser limitado, a ação de compra de títulos gerou uma debate interno na Alemanha, com a oposição ao governo de Angela Merkel já acusando-a de ter cedido às pressões. Berlim é quem acaba pagando por um quinto das contas dos pacotes de resgate da UE. Ontem, até mesmo dois proeminentes deputados do partido de Merkel pediram a convocação da conferencia do partido para que novos controles sejam impostos sobre a ação da chanceler.

O governo de Merkel tentou se defender, afirmando que nada do que foi feito ontem significa que o fundo de resgate da UE será ampliado.

Outro risco é de que investidores simplesmente mudem o foco e passem ao ataque contra outras economias como França, Bélgica e Chipre. Para o HSBC, até os papéis da dívida alemã poderiam sofrer.

Diante de tantas incertezas, não foi por acaso que as bolsas não resistiram. Mesmo em Milão, onde o risco Itália cedeu, a bolsa fechou em queda de 2,3%. Madri fechou com queda de 2,4%. Na Grécia, a bolsa terminou com seu pior resultado em 14 anos, com queda de 6%. 

Luis Nassif

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