Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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A produção iraquiana de petróleo e suas perspectivas

Por Felipe Imperiano, do Blog Infopetro

O Iraque, historicamente, é um player importante na indústria mundial de petróleo. Ele foi membro fundador da OPEP e um dos primeiros a nacionalizar suas reservas, em 1961. Adicionalmente, a sua política de exportação de petróleo foi, por mais de 30 anos, elemento chave na formação do preço e oferta mundiais.

O país tem a quinta maior reserva provada de petróleo e a décima terceira de gás natural e bom potencial para novas descobertas (IEA, 2012). Especialistas estimam que, com a retomada dos investimentos, as reservas provadas iraquianas poderiam rapidamente atingir cerca de 200 bilhões de barris[i]. Só em 2011, as reservas provadas de petróleo e gás cresceram respectivamente 24,4% e 13,1% (BP, 2012). Isso marca um contraponto com as décadas de 1990 e 2000, como pode ser visto no Gráfico 1, quando as reservas provadas de petróleo e gás se mantiveram relativamente estáveis em virtude de baixos investimentos, conflitos armados e sanções econômicas. 

Gráfico 1: Reservas provadas de petróleo e gás iraquianas entre 1980 e 2011

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Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da (BP, 2012)

Todas as reservas iraquianas são onshore. Comparado com outras regiões produtoras mundiais, a geologia iraquiana é relativamente simples e seus custos são bem inferiores, o que traz grandes economias de escala para a produção no país (IEA, 2012). O CAPEX de um projeto de desenvolvimento de um novo super campo no Iraque é entre 81% e 86% menor do que o de um campo no Pré-Sal, enquanto o OPEX pode ser até 100% inferior, por exemplo (IEA, 2012).

Cerca de 75% das reservas provadas de gás estão em reservatórios associados, sendo concentrados na região sul do país (IAE, 2012).  Em decorrência dos ganhos mais altos com petróleo e da falta de infraestrutura adequada, em 2008, mais de 40% da produção foi queimada, entretanto a Shell estima que essa queima tenha sido ainda maior, sendo desperdiçado mais de 1 bcf/dia (EIA, 2012). Em 2011, esse percentual subiu para 60% (IEA, 2012). Dada a elevada participação do petróleo na matriz energética iraquiana, o gás tem ganhado maior importância para a geração elétrica à medida que a demanda interna por energia tem crescido (IEA, 2012), assim o governo tem feito esforços para diminuir a queima do gás, como se juntar ao Global Gas Flaring Partnership do Banco Mundial (IEA, 2012) e tem trabalhado em um acordo com a Shell, a fim de implementar um projeto de redução da queima de gás e ofertá-lo internamente (EIA, 2012).

No momento atual, o país ainda se encontra bastante dividido em termos políticos e étnicos, o que acentua a sua instabilidade. Os conflitos entre as três etnias que compõe a população do país – a saber, Xiita, Sunita e Curda – geram não apenas riscos econômicos, como também contratuais. Legalmente, a exploração de recursos energéticos é feita por contratos de serviços técnicos[ii], nos quais a remuneração paga ao prestador de serviço é uma taxa por barril de óleo produzido. Nessa modalidade, a parcela de 25% do consórcio cabe a uma das estatais iraquianas. Ao mesmo tempo, o governo da região semi autônoma do Curdistão utiliza contratos de partilha da produção, onde o retorno depende do valor do óleo ou do gás produzido (IEA, 2012). Esses contratos são contestados pelo governo central.

A produção de petróleo, ao longo das últimas três décadas, sofreu quedas abruptas em decorrência das guerras que o país enfrentou: primeiro, com o Irã e, posteriormente, com os Estados Unidos. A partir de 2006, a produção de petróleo aumentou constantemente. Em 2011, houve um crescimento de 12,8%, ou seja, 2,8 milhões de barris por dia (mb/d), atingindo o máximo desde o início da guerra, contudo ainda não se alcançou o seu pico histórico de 3,5 mb/d, ocorrido em 1979 (BP, 2012), como se observa no Gráfico 2 abaixo. Isso mostra que há um potencial substancial para expansão da produção. Em setembro de 2012, a produção média foi de 3,235 mb/d, (PLATTS, 2013a), mas, já em Outubro, a produção caiu 200 mil b/d (kb/d) (PLATTS, 2013). A Platts estimou que a produção, em Dezembro, sofreu uma forte queda para 2,89 mb/d, isto é, aproximadamente 11% menor do que Setembro. Entretanto, a produção dá sinais de recuperação. Em Fevereiro de 2013, foi registrado 2,96 mb/d (PLATTS, 2013a). Assim, pode-se constatar uma oscilação significativa na produção iraquiana.

 Gráfico 2: Produção iraquiana de petróleo entre 1965 e 2011

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Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da (BP, 2012)

O downstream iraquiano também sofre com a falta de investimentos, o que acarreta na inadequação do perfil de produção das refinarias em relação ao consumo do país. O óleo combustível representa 45% dos derivados de petróleo produzidos internamente, mais do que suficiente para abastecer o mercado nacional, gerando um excesso do produto que não tem uso domestico, nem possibilidade de exportação. Desse modo, em 2011, foram adicionados 150 kb/d de óleo combustível ao petróleo exportado, baixando tanto o seu preço, quanto a sua qualidade. Do total de derivados, menos de 15% é de gasolina, assim gerando uma necessidade de importação de 8,5 milhões de litros de gasolina por dia. Igualmente, outros 2,6 milhões de litros de diesel foram importados (IEA, 2012).

A maior parte das exportações ocorre por navios, através da região sul do país, entretanto a sua extensão costeira é de apenas 58 km e só há dois canais de acesso suficientemente profundos para a navegação de grandes navios, sendo que um deles é o estuário de Khor Abdullah, que dá acesso ao porto de Umm Qasr e é fronteiriço com o Kuwait, fazendo dele um ponto de conflito histórico entre os dois países. Uma parcela menor é exportada por um oleoduto ao Norte, através do território curdo, para a Turquia.

 Figura 1: Campos de óleo e gás e infraestrutura do sul do Iraque

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 Fonte: (IEA, 2012)

A infraestrutura do setor energético está em más condições de uso e é inadequada quanto à capacidade. A fim de evitar a limitação do potencial de produção de novos campos, há que se ter um planejamento integrado dos projetos (IEA, 2012).

Em termos de volume, o país é o terceiro maior exportador de petróleo, atrás somente de Arábia Saudita e Rússia. As exportações de fevereiro desse ano se recuperaram da queda que sofreram em novembro do ano passado, atingindo 2,54 mb/d, isto é, 177 kb/d a mais que em janeiro e apenas 78 kb/d a menos do que a média entre setembro e novembro de 2012, que foi de 2,62 mb/d, a maior desde o início de 1990, antes da invasão iraquiana ao Kuwait (PLATTS, 2013a). Cabe ressaltar que as exportações da região curda por oleoduto foi interrompida em meados de dezembro devido a desentendimentos com o governo central sobre pagamentos de petróleo, ou seja, não houve contribuição da região para o aumento das exportações. Em novembro de 2012, a província curda foi responsável por 152 kb/d em exportações, o maior volume exportado pela região até hoje (PLATTS, 2013a).

O aumento da demanda energética na Ásia tem feito com que cada vez mais a produção seja direcionada para essa região, especialmente para China, Índia e Coréia do Sul (EIA, 2012). A parcela do óleo destinada para o mercado asiático cresceu de 32%, em 2008, para 52%, em 2011, e a América do Norte e a Europa perderam participação nas exportações no mesmo período, caindo para 26% e 22%, respectivamente, como mostra a Figura 2. 

Figura 2: Exportações iraquianas por região

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Fonte: (IEA, 2012)

Perspectivas de Retomada da Produção e Possíveis Impactos sobre os Preços Internacionais

No curto prazo, a IEA espera que a ampliação da oferta nos países que não fazem parte a OPEP seja suficiente para fazer frente aos incrementos da demanda global, entretanto a produção nesses países deve começar a cair em meados do decênio de 2020, exigindo crescimento substancial na produção dos países da OPEP para os anos seguintes, como se vê na Figura 3. (…) O texto continua no Blog Infopetro.

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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