EUA buscam culpados por colapso bancário

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Um mês após quebra do Silicon Valley Bank, economista afirma que uma das soluções viáveis seria uma regulamentação bancária mais eficaz

Foto: Mariia Shalabaieva via Unsplash

Os reguladores do mercado norte-americano precisam incorporar alguns mecanismos de controle em suas práticas para evitar a repetição de casos como o colapso do Silicon Valley Bank, ocorrido há um mês.

Barry Eichengreen, professor de economia da Universidade da Califórnia/Berkeley, lembra que especialistas correram para atribuir a culpa da crise bancária gerada – só que elas mostravam contradições, por conta da falta de mais informações.

“Vale lembrar a máxima de Walter Raleigh: quem segue muito perto da história corre o risco de levar um chute na boca”, afirma Eichengreen, em artigo publicado no site Project Syndicate.

Um mês após o colapso, a narrativa dos fatos que levaram à quebra do SVB ficou concentrada em quatro aspectos (ou interpretações) da crise:

1. Visão de gerenciamento incompetente – Além de não ter um diretor de riscos durante boa parte de 2022, os gerentes estavam trabalhando em home office em seis fusos diferentes, o que dificultava a tomada de decisões. Conforme os depósitos avançaram, eles compraram títulos do Tesouro, mas uma política de economia levou ao fim dessas posições “no pior momento possível”.

2. Visão do cliente incompetente – Os depósitos feitos por clientes corporativos excediam o teto de US$ 250 mil estabelecido pela FIDC (Federal Deposit Insurance Corporation). Segundo Eichengreen, uma gestão de caixa mais prudente teria mantido esse dinheiro em bancos de maior porte, e a falta de garantias de depósitos por parte do SVB levou pânico aos clientes.

3. Reguladores incompetentes – O CEO do Silicon Valley Bank chegou a trabalhar no escritório do Federal Reserve em San Francisco, e o FED tinha conhecimento de que os títulos do banco subiram 400% em cinco anos. A autoridade monetária fez apenas uma alerta sobre “assuntos que requerem atenção” a partir de 2021, e não incorporou em seus testes de estresse a possibilidade de alta dos juros e da inflação.

4. Políticas econômicas imprudentes – Um ciclo prolongado de taxas de juros baixas levou bancos como o SVT a acumularem títulos de longo prazo, e o déficit foi seguido pela disparada da inflação. Como explica Eichengreen, “a inflação reduziu o peso da dívida ao obrigar o Fed a aumentar as taxas de juros, o que fez com que os preços dos títulos despencassem, infligindo perdas aos detentores de títulos, inclusive os bancos”.

Regulamentação é a solução

Pode-se dizer que todos tiveram um pouco de participação no colapso do SVB, mas agora é preciso saber o que fazer a respeito. Entre as sugestões do articulista, está a aprovação de uma legislação onde o FIDC recupere os bônus pagos aos gerentes de bancos falidos.

Para Eichengreen, a única solução viável seria uma regulamentação bancária mais eficaz – mas os argumentos dividem-se entre a falta de confiança nos reguladores e que a regulamentação “nunca pode ser eficaz”, e o próprio SVB é citado como exemplo.

“Essa visão cínica é, na verdade, um conselho de desespero. Enquanto tivermos bancos, sempre teremos falências bancárias. Diante dessa realidade, precisamos que os reguladores tirem lições do desastre do SVB, incorporem-nas em seus procedimentos e voltem ao trabalho”, finaliza.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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