Coluna Econômica
Nesses tempos, em que se abrem várias possibilidades para o Brasil, é interessante comparar com o que está ocorrendo com o país que caminhava para se rivalizar com os Estados Unidos: o Japão.
No final dos anos 80, o Japão estava no auge. O modelo de gestão de suas empresas, a alta qualidade de seus produtos, a estabilidade dos trabalhadores – possível dentro de um ambiente de crescimento contínuo – contrastava com a grande crise que começava a assolar os Estados Unidos.
Por pressão norte-americana, foi obrigado a valorizar a sua moeda. De lá para cá, o país amarelou. Agora, está prestes a entrar em sua terceira década perdida, segundo muitas análises.
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SegSegundo estudos de Shinki Fukukawa, ex-vice-Ministro do Comércio Exterior do Japão, sua participação no PIB global caiu de 14,3% em 1990 para 8,9% em 2008. Este ano, será superado pela China.
O país perdeu a liderança em muitas tecnologias de ponta. No caso dos monitores LED e 3D, foi ultrapassado pelos concorrentes da Coréia do Sul e de Taiwan. Nas universidades japonesas, o nível de proficiência em inglês ficou o mais baixo da Ásia.
Na dura tentativa de entender o fracasso, remete-se para a grande bolha da década de 1980 – quando a valorização do yen jogou empresas e investidores japoneses no centro da especulação mundial, seguindo-se uma crise bancária que levou anos para ser superada.
De lá para cá, nunca mais o Japão recuperou o caminho da prosperidade.
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Um dos pontos centrais é o modelo político japonês. Criou-se uma gerontocracia, sob comando do Partido Democrata, que praticamente abafou a sociedade civil e o funcionamento do mercado.
Décadas de cumplicidade entre política e grandes grupos japoneses impediu o florescimento de uma cultura empreendedora. Segundo Fukukawa, na raiz desse anti-empreendorismo há um traço na cultura japonesa muito próximo da inveja do sucesso alheio.
Um segundo aspecto foi o florescimento de uma nova geração de japoneses sem o pioneirismo e a vontade de internacionalização da geração anterior.
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As críticas derivam para o ensino superior. Considera-se muito conservadora a gestão das universidades japonesas, pouco permeáveis às influências estrangeiras, fechando-se em si próprias, sem a infusão do intercâmbio internacional.
Em um mundo caracterizado pela diversidade – no qual o grande exemplo passa a ser o Brasil – o Japão continua sendo uma sociedade homogênea e fechada, sendo pouco capaz de absorver novos valores.
Além disso, a demografia conspira contra o Japão. Tem-se uma população em declínio, com redução da sua força de trabalho.
A única maneira de enfrentar essa inexorabilidade seria um grande programa de atração de estrangeiros especializados. No entanto, a cultura empresarial japonesa impede a ascensão profissional de estrangeiros – só se admite como peão.
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Considera-se que os valores culturais japoneses – o respeito pela natureza, contra o desperdício – têm avançado em todo o mundo. Mas não é aproveitada como ferramenta de marketing para os produtos japoneses.
Aparentemente, um país que perdeu o bonde da história.
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