Lula, Copom e a herança maldita do câmbio

Na entrevista à TV Record, Lula comentou os dois erros fundamentais de Fernando Henrique Cardoso: a emenda da reeleição e a demora em reajustar o câmbio por conta das eleições.

Lula não cometeu o erro do continuísmo, mas o do câmbio está sendo repetido.

Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) voltou a aumentar a taxa Selic, em 0,5 ponto. Conforme exaustivamente demonstrado, ele e o mercado recorreram a análises falsas para legitimar essa nova rodada de alta.

Houve aumento expressivo do PIB no primeiro trimestre.Demonstramos exaustivamente aqui que se devia a fatores pontuais: recomposição de estoques das empresas (movimento que ocorreria uma vez apenas), antecipação de gastos da União e dos estados (que seria compensado pela queda no segundo semestre, em função das eleições), fim da isenção do IPI (que provocou movimento de antecipação de compras).Passados esses fatores, a economia entraria em vôo moderado, crescendo na ponta a 4, 4,5% ao ano – perfeitamente suportável.Mais: taxa de juros visa compensar excesso de demanda. A inflação do primeiro trimestre era de alimentos, provocada por fatores sazonais.

Tudo se confirmou. Os últimos indicadores mostram até leve deflação, devido ao recuo dos preços dos alimentos, os indicadores de crescimento mostram arrefecimento, os gastos governamentais cairão no segundo semestre e, na ponta, o PIB está crescendo a 4, 4,5% ao ano.

Mesmo assim, criou-se o mesmo movimento indecente de manipulação de expectativas, nessa soma espúria de Banco Central, mercado e velha mídia. Acenou-se durante dias com alta de 0,75 e o Copom referendou alta de 0,5 – como se tivesse reduzido a aposta, quando aumentou os juros.

Os efeitos são facilmente avaliados.

A economia continuará rodando a 4, 4,5% na ponta. Na média do ano chegará a 7,5%. Mas, hoje, já está a um ritmo menor. Já ocorre a queda de preços e de atividade independentemente das últimas altas do Copom. Ocorreriam de qualquer maneira.

Só que aumento de juros provocará aumento no fluxo de dólares para o país – derrubando ainda mais o valor do dólar frente o real. Aliás, esse movimento de alta dos juros era tão certo que houve antecipação do ingresso de dólares.

A apreciação cambial aumentará o déficit nas transações correntes – que será sjustentado por capital especulativo. Por outro lado, já se observam queda nos preços das commodities e dos fretes em todo mundo – sinal claro de desaquecimento futuro da economia global.

O país será afetado pelo aumento das importações, pela trava cambial nas exportações de manufaturados e, provavelmente, pela quebra das exportações de commodities. Isso em um momento que está se tornando cada vez mais competitivo no comércio internacional, devido às crises das economias centrais.

Vai-se chegar ao primeiro ano de um novo governo, com Lula fora da presidência, velha mídia e oposição loucos para bater em um presidente menos blindado. E abrindo espaço para agitações cambiais pela frente. 

Esperar que D. Dilma mude alguma coisa? É melhor colocar o sapatinho na janela na véspera de Natal. Ela será eleita pelo que representa de continuidade, amigos. Para a classe dominante, e não para as subalternas. A política econômica é a expressão dessa continuidade. Somente a deterioração acentuada das contas nacionais, potencializada pela segunda etapa da crise econômica mundial, poderá obrigar à mudança de rumo, pelo menos por enquanto. Entendam, de uma vez por todas: a redução do crescimento não é uma consequência indesejada da política econômica atual, e sim, o seu objetivo.

Luis Nassif

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