O fator China e as commodities

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PORTUGUESE, JULY 23, 2010, 12:25 A.M. ET

Uma desaceleração do ebuliente crescimento econômico chinês, ainda que moderada até o momento, está reverberando nos mercados mundiais por causa do enorme papel do país como um comprador de metais, minerais e outras commodities.

Desde que o governo chinês começou a reprimir o superaquecido mercado imobiliário, em meados de abril, os preços mundiais do alumínio caíram 18%; os do cobre, 13%; chumbo, 19%; e níquel, 27%, embora as cotações de todos esses metais tenham se estabilizado nas últimas semanas.

Os preços do aço na China encolheram 15% no período.

Analistas dizem que eles podem cair mais, na medida em que a expansão do gigantesco setor de construção chinês continue a desacelerar.

O boom da construção na China teve um papel crucial na demanda global por matérias-primas, beneficiando muitos países exportadores de recursos naturais como Austrália, Brasil, Canadá e grande parte da África. O governo chinês reafirmou na semana passada seu compromisso com políticas voltadas para restringir os altos preços dos imóveis residenciais e a especulação imobiliária, que se tornaram uma fonte crescente de descontentamento entre a classe média nos últimos meses. Os analistas agora esperam que as condições no mercado imobiliário chinês piorem ainda mais.

[China]

Dados divulgados em 15 de julho mostraram que o crescimento da China caiu para 10,3% no segundo trimestre, ante 11,9% no primeiro trimestre.

Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland, diz que o consumo de commodities na China deve cair mais rapidamente que o crescimento econômico geral. “A indústria pesada e as commodities são mais afetadas, já que se beneficiaram mais do início da onda de crescimento estimulada pelos investimentos”, diz ele. “Os mercados financeiros podem não estar reconhecendo os riscos de uma queda abrupta. Eles ainda não estão acostumados às grandes oscilações na China.”

A China respondeu por 66% das importações mundiais de minério de ferro e 40% do consumo global de alumínio, cobre e zinco em 2009, de acordo com a Agência de Agricultura e Recursos Econômicos da Austrália, uma entidade de pesquisa do governo.

A Agência Internacional de Energia ressaltou esta semana ainda mais o importante papel da China em recursos naturais, afirmando que o país ultrapassou os Estados Unidos como o maior consumidor mundial de energia — uma declaração que a China contesta.

Por outro lado, a China responde por apenas 3% das importações mundiais de bens de consumo, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, de modo que seu desaquecimento não será percebido pelos países que fazem esses produtos. E os indícios, em sua maioria, são de que o esfriamento da economia chinesa é modesto até o momento.

“O crescimento econômico da China contribuiu de forma significativa para a recuperação econômica mundial”, disse o porta-voz da Agência Nacional de Estatísticas Sheng Laiyun, ressaltando um crescimento de 53% nas importações totais do país no primeiro semestre.

Os embarques de commodities contam uma história diferente: em volume, as compras de minério de ferro da China caíram 15% ante um ano atrás, e as de cobre encolheram 31%. As importações de carvão, embora ainda altas, estavam em maio no nível mais baixo em 12 meses. A indústria pesada parece estar reduzindo a marcha, com a produção de aço tendo crescido em junho no seu menor ritmo em 12 meses.

“A demanda de aço caiu”, disse na terça-feira o ministro da Indústria, Li Yizhong, em comentários publicados pela agência de notícias estatal Xinhua. Ele alertou para o impacto da piora do ambiente de negócios no país, que é o maior produtor e consumidor mundial de aço. “Algumas siderúrgicas estão perdendo dinheiro, e se elas não tomarem medidas efetivas rapidamente isso pode afetar a duramente conquistada recuperação de todo o setor.”

Na Austrália, o banco central elevou os juros em maio, citando em parte o estímulo que os altos preços das commodities estavam dando à economia australiana. A China comprou quase 22% das exportações da Austrália no ano passado e absorveu cerca de um terço das principais exportações minerais do país. O banco central do Canadá, outro grande exportador de commodities, seguiu com o seu próprio aumento do juro em junho.

Mas, ao anunciar este mês que o Federal Reserve da Austrália estava mantendo o juro inalterado, o presidente do banco central, Glenn Stevens, ressaltou que “existem indicações de que o crescimento na China está agora começando a cair para uma taxa mais sustentável”. Ainda assim, ele não expressou alarme em relação à recente baixa dos preços das materiais-primas. “Os preços das commodities já saíram do seus picos, mas aqueles mais importantes para a Austrália permanecem bastante altos”, disse.

A demanda em crescimento nos mercados desenvolvidos ainda pode dar sustentação aos preços globais das commodities, embora existam preocupações em relação à força da recuperação nos EUA e na Europa. Em um relatório de abril, o Banco do Canadá, o banco central, informou que prevê que os preços de commodities fora do setor de energia subirão cerca de 30% nos próximos três anos. Embore projete que o crescimento da China vai se desacelerar para 9% em 2011 e 2012, à medida que os efeitos do estímulo desapareçam, o banco espera que outras grandes economias globais estejam crescendo com vigor até lá e que possam compensar outras baixas no mercado de commodities.

Muitas empresas ainda estão otimistas, calculando que mesmo um crescimento menor em um mercado tão grande quanto o chinês ainda represente muitas vendas. “As pessoas que estão negativas em relação à China, essas dizem ‘estou esperando [crescimento de] 8,5%’. O que quero dizer é que 8,5% é um número bastante susbtancial”, disse Klaus Kleinfeld, presidente da Alcoa, a produtora de alumínio, em um seminário este mês. “Eu continuo otimista em relação à China e acredito que eles estão lidando muito bem com o aquecimento excessivo em alguns mercados.”

Luis Nassif

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