O fator Dilma no dólar

Do Valor Econômico

Por Eduardo Campos | Valor

SÃO PAULO – A sessão foi de forte instabilidade no câmbio local conforme o governo voltou a tomar medida restritiva ao capital externo. O prazo de isenção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para captações externas subiu de três para cinco anos.

Conforme notou o economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, não é a medida em si que assusta, já que todas as grandes captações do ano tiveram prazo superior a cinco anos, mas sim a postura do governo, que vem ameaçando e agindo.

“Não que se duvidasse do governo, mas a determinação é forte. Não tinha necessidade de anunciar nova medida”, diz Barbutti, lembrando que o mercado já estava de “cara nova” como dólar mirando o R$ 1,80 no fim da semana passada.

Hoje, o dólar comercial encerrou o dia com valorização de 1,12%, a R$ 1,805 na venda. Ao longo da sessão, a moeda americana chegou a fazer máxima a R$ 1,834, um salto de 2,75%. O giro estimado para o interbancário foi de US$ 1,4 bilhão.

Da mínima do ano, registrada em 28 de fevereiro, a R$ 1,699, o dólar comercial sobe 6,24%. No ano, a moeda ainda perde 3,4%. Mas essa queda anual já chegou a 9,10%.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto fechou com valorização de 1,48%, a R$ 1,8094, e giro de US$ 98 milhões.

Também na BM&F, o dólar com vencimento em abril mostrava alta de 0,52%, a R$ 1,811, antes do ajuste final de posições. Na máxima, o contrato foi a R$ 1,843 (+2,30%).

Ainda de acordo com Barbutti, da BGC Liquidez, o investidor que ingressou com dólares no país seja para investimento em bolsa ou renda fixa e não fez hedge parece estar fazendo contas e montando uma “proteção” contra a alta do dólar. E se todo mundo fizer hedge de pelo menos parte da posição, a demanda por moeda sobe e sobe muito.

Para Barbutti, sem novidades vindas do governo, o mercado deve se acomodar e a formação de preço pode ficar mais alinhada com o que acontece no câmbio externo.

Segundo o gestor da Vetorial Asset, Sérgio Machado, tamanha volatilidade no preço da moeda gerou uma série de “stop loss” no mercado. Ou seja, quem tinha posição vendida foi obrigado a mudar de mão para não perder mais dinheiro. E sempre que esses “stops” são acionados, o movimento de alta do dólar ganha fôlego. Foi o que se viu em boa parte da sessão.

De acordo um operador, foi perceptível a presença dos investidores estrangeiros na compra de dólar futuro no pregão de hoje. Tal percepção será confirmada amanhã, quando a BM&F atualizar as posições.

Esse mesmo operador acredita que enquanto o não residente compra, os fundos locais vendem. Afinal de contas, esses agentes tinham tomado mais de US$ 1 bilhão em contratos futuros de dólar na sexta-feira.

Conforme o real perde preço de forma mais acentuada que seus pares externos, cresce a atratividade de montar apostas de valorização da moeda brasileira, não só ante o dólar, mas também contra o peso mexicano e dólar australiano, por exemplo. No entanto, o investidor tem de escolher entre a perspectiva de lucro e o risco de desafiar a vontade do governo de não deixar o real se valorizar.

No câmbio externo, outras moedas emergentes como o peso mexicano, dólar australiano e dólar canadense também perdem para o dólar, mas o real foi destaque mundial de baixa nesta segunda-feira.

(Eduardo Campos | Valor)

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador