É ingenuidade acreditar que um segundo governo Lula mudará de alguma maneira a política econômica.
Apesar de discussões sobre políticas estratégicas no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), a lógica de Lula é a da mera sobrevivência política. E ela passa, de um lado, por concessões menores aos movimentos sociais – como essa tentativa de criar cotas raciais, abrindo espaço para conflitos sérios –, e por concessões maiores aos capitais especulativos.
Assim como no governo FHC, o país fica vivendo de expectativas sucessivas. A cada ano de crescimento razoável segue-se outro de crescimento sofrível. Quando termina o ano sofrível acena-se com o próximo, razoável. E o país não sai do lugar.
A rotina é conhecida:
1. O país sai de uma crise cambial séria. O câmbio se desvaloriza e pressiona a inflação.
2. No momento seguinte, o Banco Central eleva radicalmente os juros. A desvalorização cambial começa a surtir efeito nas exportações, resolvendo o a questão externa. Os juros altos atraem capitais especulativos, valorizando o real.
3. Como resultado da valorização, de um lado há menor pressão sobre os preços; de outro, se prepara a economia para voltar a ficar vulnerável a choques externos. Os juros começam a cair com a queda da inflação
4. Ao primeiro sinal de choque externo, os capitais especulativos saem do país, provocando nova desvalorização cambial. A desvalorização pressiona a inflação. O BC é obrigado novamente a aumentar os juros, voltando à mesma ciranda anterior.
Enquanto não houver controles razoáveis sobre esse capital-gafanhoto, o país continuará patinando. E Lula do segundo governo será o Lula do primeiro governo, mais fraco ainda por conta da redução da bancada do PT. E mais vulnerável ainda à ortodoxia do BC.
Seja qual for o resultado das eleições, o país precisará esperar quatro anos para encontrar o presidente que se disponha a romper esse nó górdio.
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