O novo ciclo político

Coluna Econômica – 17/10/2006

O momento está maduro para a superação desse bipartidarismo de fato, que caracterizou o quadro político pós-1994. Passadas as eleições, novembro poderá ser o mês que irá demarcar a troca desse ciclo por um novo quadro, que terá como peça central a flexibilização da legislação, visando permitir a reaglutinação partidária, processo que ocorreu em 1979 e na Constituinte de 1989.

O fato é que, na sua forma original, tanto PSDB quanto o PT acabaram. O PT é um partido rachado entre um governo que quer adquirir condições de governabilidade, cercado de quadros que, sozinhos, não irão conseguir virar o jogo dentro do partido.

O PSDB acabou, na opinião de uma de suas lideranças mais expressivas. Um partido em que o próprio presidente, Tasso Jereissatti, apóia um candidato de outro partido no seu estado natal, não pode aspirar a muita coisa.

Mas não é o único problema.

Sempre defendi uma redefinição programática do PSDB e do próprio PT. No caso do PSDB, para se livrar da pesada herança de Fernando Henrique Cardoso, que permitiu que as bandeiras econômicas do partido fossem apropriadas pela PUC-Rio, matando as esperanças de crescimento da economia; e que a noção de modernidade fosse confundida com um elitismo raso e preconceituoso que acabou contaminando a parte mais fútil e barulhenta da elite midiática, financeira e social do eixo Rio-São Paulo.

A questão é que o momento de “refundar” o PSDB passou. Como incorporar bandeiras desenvolvimentistas, se a imagem do partido está indelevelmente ligada à PUC-Rio? Economistas tucanos, não ligados ao pensamento da PUC-RJ, cansaram de apontar os juros como o problema principal brasileiro. Resolvendo essa questão, a solução dos demais emergirá automaticamente. O ajuste fiscal será promovido pelo próprio crescimento, assim como a Previdência Social do setor privado. O governo Kirchner colocou a Argentina para crescer 9% ao ano, com superávit fiscal, com redução do desemprego de 23% para 10%. Aparecerão problemas agora, devido à natureza populista do regime que não abriu os olhos para o excesso de demanda atual da economia. Mas a receita mostrou-se totalmente eficaz.

No entanto, fica-se nessa cantilena permanente sobre reformas e reformas, e nada sai do lugar, diz a liderança. Um dos mais proeminentes economistas do partido se diz envergonhado de ler os estudos de Fábio Giambiagi sobre os cortes na Previdência Social e saber que são artimanhas para fugir do tema principal, a redução dos juros. Essa indefinição acabou tirando do partido a bandeira do desenvolvimentismo com responsabilidade fiscal.

A grande obra política de FHC se resumiu a uma tecnologia de governabilidade dentro de um modelo político torto. Assim como na área econômica, foi incapaz de redefinir o perfil político do país e do seu próprio partido, atropelado pela falta de perspectivas das idéias econômicas hegemônicas. Seu modelo não resistiu a um mandato da oposição.

Incapaz de exorcizar o PSDB dos fantasmas da era FHC, toma corpo nos setores desenvolvimentistas do partido, a idéia da de reaglutinação partidária, marcada por uma forte manifestação em favor do crescimento.

Em princípio, esse divisor de águas poderá ocorrer em fins de novembro.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

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