O pacto de Campos

Coluna Econômica – 27/06/2007

O novo fenômeno da agroenergia está produzindo mudanças substantivas por todo o país. Importante região canavieira até os anos 70, o norte fluminense chegou a ter o segundo pólo de produção de açúcar e álcool do país. Depois, murchou. A produção despencou. Agora, com a explosão do etanol, a região poderá recuperar seu período de apogeu.

Essa possibilidade ficou clara no seminário promovido pelo jornal “O Dia”, do Rio de Janeiro, para analisar esse potencial.

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A região é basicamente composta por pequenos proprietários, a maioria absoluta dos quais com agricultura familiar. Há uma flagrante diferença de produtividade entre as propriedades menores e as maiores. As maiores produzem de acordo com a média nacional. As menores têm, produtividade de 50%.

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Além disso, a região dispõe de um sistema de canais para irrigação construídos há décadas pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento. Os canais permitiram acabar coma febre amarela em vastas parcelas da região, abrindo espaço para o cultivo da cana de açúcar.

Além da drenagem dos terrenos, em períodos de pouca chuva permitiam puxar água do alto Paraíba, garantindo a irrigação. O DNOS foi extinto no início da década de 90, e nunca mais houve manutenção nos canais. Mas eles estão lá.

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A queda da produção de cana deixou uma capacidade instalada ociosa expressiva, tanto no esmagamento de cana quanto na produção de álcool e açúcar. Para aumentar a produção, a região não demandará investimentos adicionais. Bastará organizar melhor os plantadores, disseminar novas tecnologias, estimular a cooperação entre eles, visando aumentar a produção via aumento de produtividade.

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As vantagens da região são expressivas. Há o mercado interno. O Rio de Janeiro produz apenas 20% do álcool hidratado que consome. Além de poder suprir essa demanda, haverá uma demanda adicional expressiva, se o governo do estado reduzir o ICMS, a exemplo do que fizeram governos de seis estados, incluindo São Paulo e Minas Gerais.

O mercado externo está a menos de 50 km das zonas produtoras, no porto Açu, que está sendo construído em São João de Barra. É uma vantagem imbatível.

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As instituições de ensino e instituições técnicas estão mobilizadas para pesquisa e treinamento de mão de obra. A Universidade Federal Fluminense tem um bom acervo de pesquisas nas áreas trabalhista e ambiental. Bancada pelo Sebrae estadual, a área acadêmica preparou um diagnóstico bastante completo sobre as condições da região, identificando vantagens e vulnerabilidades.

A Fatec de Campos está criando um conjunto de cursos para suprir a necessidade de mão de obra especializada. O Senai está treinando 2 mil trabalhadores para o porto de Açu. E, com os royalties da exploração de petróleo e gás, a prefeitura de Campos criou um fundo destinado a preparar a cidade para quando o petróleo acabar.

O fundo financiou a aquisição de uma usina média por uma cooperativa de produtores e financiou investidores para novas usinas.

Se bem sucedido, o Pacto de Campos — com essa articulação de atores diversos em torno de um objetivo comum – poderá ser replicado para outros estados.

Para incluir na lista Coluna Econômica*

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. Nassif,
    aproveite a estada no
    Nassif,
    aproveite a estada no Rio para rever os conceitos do turismo no estado.O Rio sempre foi a porta de entrada do País,desde que se tornou a nossa cidade mais conhecida aqui e no exterior, graças ao fato de ter sido abençoado com sua geografia magnanima e extremamente variada, pois a cerca de 1 hora da capital encontramos a mais diversa paisagem.Florestas de mata atlântica aliada a serra do mar em Petropolis imperial, Friburgo e Teresopolis; O litoral verde esmeralda da fronteira sul com são Paulo, com suas ilhas e baías, constituindo um dos melhores lugares do mundo para a prática náutica; O litoral de Costa azul da fronteira norte, aí englobando uma série de balneários como Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Rio das Ostras, Macaé , etc… Alie-se isto ao fato de ter sido capital do País e centro cultural e financeiro e de ter recebido pessoas de todos as regiões do Brasil e a visita de Rooselvelt ao País que com a sua política de \”boa vizinhança\” e os interesses de logística da segunda Guerra Mundial permitiu filmes e desenhos com as irmãs Miranda por exemplo e realçou ainda mais a fama do Rio pelo mundo afora.
    Mas o turismo do estado continua muito concentrado no Rio, quando deveriam aproveitar essa grande diferença de paisagens e voltá-lo também para o interior.Por que não? Poder-se -ia criar um corredor de hotéis e \”parques temáticos na serra fluminense ligando os mesmos por ferrovias, onde os turistas desembarcariam em estações devidamente caracterizadas com a personagens da fauna, como o mico leão dourado, e/ou da agricultura e do folclore, como tomate, cana etc. Uma regiaõ fabulosa para isto poderia ser o quadrilátero compreendido entre Friburgo-Teresópolis- São José do Vale do Rio Preto- Petropolis por exemplo. Já pensou na quantidade de empregos diretos e indiretos? E na possibilidade de dar a volta por cima de questões como a educação a saúde ? Seria uma espécie de política baseada na logistica da \”não violência\” com uma industria limpa(turismo),produzido uma revitalização e um progresso equivalente para a região e o Estado talvez com mais impacto que os desenhos do Disney.
    Deve haver interesse na própria iniciativa privada para isto.Empresas como a Vale do Rio Doce, CSN, que tem grande experiência no ramo ferroviário, a Petrobrás, a Gerdau, a Embratel e a Telemar, empresas aéreas, todas com presença no estado e outras como a WEG, a Randon , de outras regiões do País, mas com processos que agregariam valor, deveriam se reunir.Agregá-las e propor agendas positivas para o País sair do marasmo é tarefa do Estado em todas as suas esferas.Outras sugestões são muito bem vindas.Por todos! Com a palavra os agentes oficiais do Estado.

  2. A Usina Central de Quissamã
    A Usina Central de Quissamã (ao lado de Campos dos Goitacases) foi a primeira do Brasil. Com o início de sua operação na segunda metade do século XIX, os engenhos das fazendas da região foram desativados e as terras passaram a ser arrendadas para produzir cana-de-açúcar para a Usina Central. No final do século XX, a Usina de Quissamã foi fechada – não sei por quê. Possuía então a mais antiga máquina a vapor em operação no mundo, o que tem pelo menos valor histórico.
    Desde então, a produção de cana de Quissamã é levada para usinas no município vizinho de Campos dos Goitacases, o que me parece um contrasenso. Ou seja, é preciso (re)construir usinas e ramais ferroviários na região.

    Outro ponto que não consigo deixar de ressaltar é que no final século XIX, bem antes do DNOS, foi construído com mão-de-obra escrava o Canal Macaé-Campos, que, na época, só era superado em extensão pelo canal de Suez. O objetivo era transportar o açúcar dos engenhos da região de Campos, Quissamã e Carapebus até o porto de Macaé. O canal ainda existe.

    Além do álcool, não posso deixar de dizer que outros setores também são importantes para o desenvolvimento da região:
    – o turismo com as praias e lagoas, as fazendas históricas – algumas em perfeito estado de conservação, outras merecendo reformas-, as áreas de preservação ambiental (como a de Juquitiba em Quissamã e Carapebus, com sua vegetação de restinga);
    – a prestação de serviços de apoio à exploração de pretróleo da bacia de Campos;
    – a indústria naval, com a construção de um estaleiro da Praia do Furado, fronteira entre Campos e Quissamã.

  3. Tenho sérias duvidas sobre o
    Tenho sérias duvidas sobre o funcionamento do modelo de negócio.
    Acho a idéia excelente e muito disso foi tentado nos anos 70 e 80 em diversas áreas do agribusiness – Açucar e alcool, frigorifico, esmagadora de soja, etc

    A maioria das iniciativas que foram feitas tempos atrás seguindo o modelo cooperativo de produção e administração, deu c/ os burros nágua.
    Não acredito que os produtores tenham capital, organização e capacidade de gestão p/ suportar um período de baixa nos preços. Sempre se avança c/ essas iniciativas qdo os preços dos produtos estão no alto e qdo vem a fase de baixa, não estão preparados ou capitalizados p/ suportar o período de falta de geração de caixa.

  4. Ainda sobre as possibilidades
    Ainda sobre as possibilidades de Campos vir a ser um manancial a ser plenamente explorado:Os planos da Braskem,de substituir o petróleo,pelo etanol,na fabricação do polímero,que é hoje um dos ítens que mantem aquela empresa em evidencia,na produção deste produto,vital para a indústria brasileira.Qual a sua opinião a respeito?

  5. Caro luis nassif , quero
    Caro luis nassif , quero parabenizar pela sua capacidade , de se o debatedor sobre o evento sobre o etanol , no dia 25/06 , no rio . parabens.
    Dilermano

  6. Conhecendo,após ler o que foi
    Conhecendo,após ler o que foi escrito pelo signatário do blog,a respeito de Campos,e de sua infra-estrutura,que está bem adiantada no que tange à produçao de etanol,via aumento da plantação de cana-de-açucar,não sei aonde estão os “cérebros”dete país,que ainda não viram este potencial esquecido.Lí hoje,num jornal de economia,que o grupo Odebrecht e a Braskem,estão criando uma nova empresa,para viabilizar a sua entrada neste campo,e que estarão de olhos abertos,para todo e qualquer bom negócio,nesta área.Assim como um grupo de investidores chineses,que em parceria com o grupo Farias(brasileiro)estão à cata de áreas com perspectivas de sucesso,nesse campo,é hora de alguem mostrar a quem tem dinheiro para investir,onde está a “mina de ouro”Esta abordagem do Dia,da qual você participou,é o começo do ingresso da verdadeira imprensa,na mostra do Brasil,que ainda não foi descoberto.

  7. Excelente noticia. A
    Excelente noticia. A aquisicao de usinas por cooperativas de trabalhadores e um modo interessante de distribuir melhor a renda gerada pela cana.
    O unico problema ao meu ver e administrativo. A fundacao dos trabalhadores adquiriu parte expressiva da Varig e deu no que deu. Vamos torcer pra este modelo ser mais bem sucedido.

  8. Ô Piki, nós estamos
    Ô Piki, nós estamos discutindo aqui a revitalização de uma região econômica. O que você propõe? Que todos os fluminenses se mudem para São Paulo?

  9. Nassif,

    Sobre a *pequena
    Nassif,

    Sobre a *pequena propriedade* e o cultivo da cana e origem do termo *Usina Central*.

    “A remodelação dos velhos engenhos se fazia difícil não só porque na crise em que se debatiam não lhes sobravam recursos suficientes para isto, como porque as áreas que ocupavam eram insuficientes para manter uma unidade fabril do vulto exigido pelas novas necessidades técnicas. Recorreu-se então aos chamados engenhos centrais, grandes unidades destinadas a moer a cana de um conjunto de propriedades. Para estimular o estabelecimento de engenhos centrais foram-lhes concedidos pelo governo garantia de juros e auxílios financeiros (capital inglês). A finalidade dos engenhos foi inicialmente só industrial; não havia disposição legal expressa neste sentido, mas estava entendido que eles não teriam lavouras próprias, devendo adquirir toda a matéria-prima que empregassem.[…] As antigas e rotineiras lavouras não mantinham um ritmo de produção compatível com as necessidades do processo industrial. Isto tanto na quantidade como na qualidade da cana fornecida. Não tardou, portanto que os engenhos centrais começassem a suprir as falhas do fornecimento com produção própria. E depois de 1890 começam a se instalar já com o propósito deliberado de utilizar matéria-prima de produção interna, embora subsidiariam ente lançassem mão também da alheia “.( PRADO, 1994; p. 246,247)

    JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. 41ª ed. São Paulo; Brasiliense, 1994.

  10. É impressionante a burrice de
    É impressionante a burrice de certos setores de SP, querando tudo para si. Depois reclamam da migração de nordestinos etc.. A melhor maneira de dar qualidade de vida a SP é incentivando outras regiões, de modo a diminir o fluxo migratório para SP.

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