O peso dos serviços na inflação

Do Valor

Serviços são maior fonte de pressão do IPCA 

Sergio Lamucci | De São Paulo
11/05/2011 

Os preços dos serviços são hoje os principais responsáveis pela alta da inflação ao consumidor, superando com alguma folga a influência dos alimentos e bebidas. Nos 12 meses até abril, os serviços responderam por quase um terço da variação de 6,51% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador que serve de referência para o regime de metas. O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, contribuiu com 27,7% para o aumento do IPCA no período.

Enquanto a inflação de alimentos se desacelerou nos últimos meses, ainda que permaneça em níveis elevados, a de serviços ganhou terreno, destaca o economista Fabio Romão, da LCA Consultores. Depois de subir 7,6% em 2010, os serviços (como aluguel, condomínio, mensalidades escolares, conserto de automóvel, cabeleireiro, empregado doméstico) já acumulam alta de 8,6% nos 12 meses até abril. Os alimentos e bebidas passaram de uma elevação de 10,4% em 2010 para 7,8% em 12 meses até abril. Com essa trajetória, os alimentos perderam o posto de grande vilão da inflação que tiveram no ano passado. Com peso de cerca de 23% no IPCA, o grupo respondeu por 40,1% da alta de 5,91% do indicador. Os serviços, que representam aproximadamente 24% do IPCA, contribuíram com 31,1% para o aumento no ano passado.

Os números evidenciam que a inflação de alimentos, embora importante, é hoje bem menos relevante do que em 2010. Isso fica ainda mais claro quando se analisa o IPCA dos primeiros quatro meses do ano, diz Romão. De janeiro a abril do ano passado, os alimentos e bebidas subiram 5,2%, contribuindo com 44,4% da variação do IPCA. No mesmo período deste ano o grupo viu as suas cotações aumentarem 2,7%. “Com isso, os alimentos responderam por menos de 20% da inflação ao consumidor no período”, ressalta Romão. De janeiro a abril, os serviços responderam por 34,7% do aumento do IPCA no período.

O economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, observa que, dentro do grupo de alimentação e bebidas, se encontra o item alimentação fora do domicílio, que tem característica mista: é influenciado pela alta de alimentos, mas tem também traços de serviços – o mercado de trabalho aquecido facilita reajustes. Nos 12 meses até abril, esse item acumula variação de 10,88%, bem mais que os 6,22% de alimentação no domicílio.

Romão nota que, ao lado de serviços, os preços administrados (como tarifas públicas) têm sido a grande fonte de pressão, com peso de 29% no IPCA. De janeiro a abril deste ano, por exemplo, esses preços já subiram 3,8%, bem mais que o 1,2% de igual período do ano passado. Com isso, os administrados responderam por 33,9% da alta do IPCA no período, apenas um pouco abaixo da contribuição dos serviços. Aumentos de tarifas de transporte urbano, por exemplo, subiram bem mais do que se esperava.

Com esse comportamento adverso de serviços e preços administrados, o IPCA em 12 meses superou o teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Romão espera uma desaceleração mais forte da atividade econômica e um mercado de trabalho menos exuberante, projetando um IPCA de 6% neste ano. Ramos é um pouco mais pessimista, vendo um indicador na casa de 6,4% em 2011.

Luis Nassif

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