Nova Economia: O que esperar da economia brasileira em 2024?

Além de definir entre a austeridade e o desenvolvimento social, governo também terá de redefinir pactos com o Congresso Nacional

Crédito: Fábio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O primeiro ano da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi marcado pela agenda internacional, em que o presidente buscou investimentos, e pela economia, com a defesa da redução da Selic e a aprovação da Reforma Tributária e do Arcabouço Fiscal. 

Mas o que podemos esperar da economia ao longo de 2024? Os economistas Juliane Furno e Pedro Rossi, entrevistados pela bancada do programa Nova Economia, apontaram quais são os rumos que o país deve seguir nos próximos meses. 

Para Pedro Rossi, a primeira questão em relação ao Lula 3 é a falta de identidade, tendo em vista as contradições econômicas que o governo enfrenta. 

“Acho que o primeiro ano do governo Lula foi um ano positivo no sentido de que houve folga orçamentária para melhorar o orçamento de vários ministérios, para dar aumento de salário mínimo, para dar aumento aos servidores, para dar aumento de bolsa de estudante. Houve uma recomposição necessária, mas não o suficiente de diversas políticas públicas,  graças à PEC da Transição, mas quando a gente olha para frente, olha para os constrangimentos e olha para LDO, esse mesmo cenário positivo não se verifica”, analisa Rossi.

O economista e um dos autores do livro Economia para transformação social defende ainda que a equipe econômica liderada pelo ministro Fernando Haddad (PT) não se apegue ao déficit zero e ao arcabouço fiscal, especialmente após as contribuições do Congresso, pois eles limitam os investimentos na área social. 

“Se a gente  inverter a prioridade, a ordem das discussões, e colocar o desenvolvimento em primeiro plano, vamos acabar revendo os limites a esse próprio desenvolvimento. Ou seja, quando vier as ideias e as propostas dos vários ministérios, que estão acontecendo que são super positivas, o governo Lula vai esbarrar em uma limitação importante, que é a limitação orçamentária”, continua Rossi. 

“E aí uma decisão vai ter de ser tomada: ou a gente vai seguir uma agenda, por isso que eu comecei a minha fala falando que o governo ainda não tinha uma identidade, qual vai ser a identidade do governo Lula. Vai ser aquela associada à austeridade fiscal com alguns componentes e pitadas do desenvolvimento de uma agenda mais tributiva ou vai ser aquela que, de fato, vai ter um plano, uma agenda claramente identificada com o crescimento econômico, com o emprego e a redução da desigualdade?”, questiona o economista. 

Parlamento

Para que a atual gestão tenha sucesso nos próximos três anos, Juliane Furno acredita na necessidade de repactuar a relação com deputados federais e senadores, uma vez que após o golpe que resultou no impeachment de Dilma Rousseff (PT), o Congresso ganhou bastante poder e funciona na base do “toma lá dá cá” fortalecido nos últimos quatro anos. 

“Por exemplo a possibilidade de abrir mão do quase o dogma que se firmou em torno da ideia de que o déficit tem que ser zero pode, neste momento, abrir um precedente para o maior fortalecimento deste Congresso, que já tem poder demasiado utilizar esse recurso para ser desviado. Vamos dizer pro fortalecimento desses deputados nas suas bases regionais através de emenda”, aponta a economista também autora de Economia para transformação social.

“Mas eu acho que aqui o debate é diferente, porque o Haddad não está fortalecendo na minha avaliação esse discurso do déficit zero, porque está com medo de que o congresso se aproprie desse espaço fiscal para fazer política regional. Ele está defendendo déficit zero a partir da ideia de que é necessário equilibrar as contas públicas, obviamente através de uma pressão muito grande do mercado das forças conservadoras”, acrescenta Juliane. 

Ciclo de commodities

Juliane Furno explicou ainda porque o sucesso econômico dos dois primeiros mandatos de Lula e da primeira gestão de Dilma Rousseff (PT) não podem ser explicados como sorte ou pelo sucesso do ciclo de commodities, tendo em vista que o governo de Jair Bolsonaro (PL) teve um expressivo resultado recente com commodities, mas que isso não resultou em crescimento econômico e desenvolvimento social.

Assista o debate na íntegra:

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Camila Bezerra

Jornalista

1 Comentário

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  1. As escolhas feitas para o País dos caminhos a ser trilhados na economia, tem importante papel nessas definições destacadas aqui através do GGN. Esse compromisso com o desenvolvimento e progresso do Brasil não deve ser apenas de um governo, mas de todas as forças que tem interferência indispensável para o sucesso das escolhas realizadas. Para o próprio País recuperar a credibilidade nas negociações políticas e o respeito entre as instituições, será absolutamente importante. Não é admissível que seja o governo que for, ele tenha que viver sob uma espécie de chantagem com relação por exemplo, ao impeachment e um eventual início do processo apenas para forçar conveniências não boas aos interesses do País. É vergonhoso que quem pratica a política e ocupa cargos públicos ou governamentais admita esse jogo sujo, pois um dia pode estar no poder. As regras e o respeito tem que prevalecer aos aspectos e interesses paroquiais. O desenvolvimento do Brasil exige a seriedade de todos. Com crescimento e desenvolvimento se tornará mais fácil controlar a situação fiscal, enquanto a única atenção fica sobre isso, não se faz nenhuma nem outra coisa. Quem perde é o conjunto do País que pouco melhora. Aproveitar as boas ideias tanto por parte do governo quanto por parte da iniciativa privada, sabendo onde se deseja chegar.

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