O Senhor Gestão

Coluna Econômica – 26/04/2007

Aos 70 anos, Jorge Gerdau Johannpeter é incansável em sua cruzada pelo país. é das poucas lideranças empresariais que conseguem casar visão estratégica, espírito público e sensibilidade política.

Uma espécie de pregador em tempo integral das ferramentas de gestão na área pública, interlocutor contumaz do presidente da República, Gerdau pressente que Lula em breve deverá mexer na questão da gestão pública. Sentiu enorme vontade do presidente de cair de cabeça no tema. É capaz de apostar que virão novidades por aí.

Nos últimos tempos conseguiu sensibilizar vários estados a implementar programas de qualidade. Sergipe, do governador petista Marcelo Deda foi um deles. Outro provavelmente será a Bahia. Alagoas, já aderiu. Antes deles todos, Minas Gerais.

***

Com uma objetividade germânica, sua receita para o país é direta. O problema brasileiro é geração de emprego. Para tanto necessita de crescimento econômico. Para ter crescimento, necessita de investimento. Para ter investimento, de poupança. A questão é que 40% do PIB nacional está nas mãos do governo,e o governo não consegue gerar poupança para investimento.

Ele aponta dois caminhos. O primeiro, duas ou três reformas estruturais, como a Previdenciária e a Tributária. O segundo gestão, gestão e gestão.

***

Gerdau é fundamentalmente um pragmático, que acredita que o início de toda ação é o planejamento estratégico. Depois dele, a implementação que é basicamente a capacidade de entrar em todos os detalhes da operação.

Vem desse senso de detalhe sua admiração pelo consultor mineiro Vicente Falconi, que começa todo trabalho com uma reunião geral e uma pergunta essencial: qual é o problema? Definido, quais são as soluções? E aí entra a pedagogia do detalhe.

As consultorias sempre trabalham conceitualmente, diz ele. No chamado “choque de gestão” em Minas, constatou-se que na lavagem de toalhas e lençóis em hospitais públicos, 20% desapareciam. Que consultoria chegaria a esse nível de detalhe?

Consultores em geral não entram nos detalhes, assim como os economistas, diz ele. Cita a honrosa exceção de Yoashiaki Nakano, ex-Secretário da Fazenda de São Paulo.

***

Outra questão importante é a política, a maneira de vender os programas. Ele considera desgastado o termo “choque de gestão”, por ter ganhado conotação de eliminação de empregos.

Anos atrás, em Minas, o então Secretário do Planejamento Walfrido Mares Guia entrou com mão pesada no setor de educação, aproveitando sua experiência com a rede Pitágoras de ensino. Criou traumas na estrutura da máquina pública que perduram até hoje.

Menciona que os programas de qualidade implementados por diversas administrações públicas não resultaram em demissões, mas em remanejamento de funcionários para áreas mais relevantes.

***

O retorno do investimento não é ruim no Brasil para setor capitalizado, diz ele. Mas o mercado não cresce. É por isso que o empresário diz que vai bem, mas não investe.

Gerdau ressalta que vão bem aquelas empresas com as quais individualmente Lula toma contato, como a própria Gerdau, a Votorantim. Mas se analisar o quadro geral do país, a indústria calçadista, a de móveis, há problemas generalizados. O nível de emprego não está bom,

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Caro Luis,
    1) A receita do
    Caro Luis,
    1) A receita do vitorioso empresário Gerdau: “Ele aponta dois caminhos. O primeiro, duas ou três reformas estruturais, como a Previdenciária e a Tributária. O segundo gestão, gestão e gestão.”` As reformas são a receita escrita por muitos economistas e não economistas nas páginas dos jornais. O grande problema é cacife político para aprovar e implementar. Quanto a gestão, gestão, gestão, acredito que vontade política e disposição seriam um bom início (mas para um presidente ser eleito tem que aceitar alguns acordos e ajustes que prendem a administração). Se quiser ser muito independente cai ou não governa, paralisa o país.
    2) Agora que foi entronizado no seleto mundo dos economistas pelo Delfim (um padrinho de prestígio), não é justo cobrar da categoria funções que são próprias dos Administradores, Atuários e Contadores (agora vicê é um dos nossos. Ortodoxo ou heterodoxo?).
    3) Foi noticiado na imprensa mineira que a AÇOMINAS (do império Gerdau) está investindo mais de bilhão em MInas (vai quase duplicar a produção).
    4) A saída de muitos países foi eleger políticos que se comprometeram em reduzir impostos (que tal começar pela absurda e recessiva CPMF). Os liberais acreditam que a única forma de ganhar produtividade nos GASTOS PÚBLICOS É REDUZINDO TRIBUTOS.
    5) Não tivemos um único candidato que defendeu a bandeira de redução dos gastos públicos (mesmo os sem chance de ganhar, apenas para propagandear a idéia).
    6) Mas parabéns por defender as idéias do Gerdau. O Falconi, como você, é mais um Pelé de Minas (se deixar ele ganha o jogo).

  2. A experiência de Walfrido
    A experiência de Walfrido Mares Guia com rede Pitágoras de ensino é realmente um “maravilha”. Em termos empresariais é um sucesso, em termos de ensino um desastre. Estudei e conheco pessoas que ainda estudam no pitagoras, enquanto a qualide de ensino cai a qualidade do marketing/financeiro sobe.

  3. (comentário
    (comentário corrigido)

    BH,26/04/07 10:41

    Caro Nassif,

    Reforma Tributária,da Previdência,Trabalhista e Gestão mais eficaz e eficiente são consensos entre as pessoas de bom senso neste país.

    Porém,todas elas possuem um ponto em comum:diminuição das despesas do governo e das empresas em relação as suas receitas respectivamente!

    O presidente Lula (que segundo a mídia disse que gostaria de fazer faculdade de economia) usa a retórica falaciosa que investimento não é gasto,não é despesa !

    Investimento é despesa sim ! Assim, como criar poupança é separar parte do salário ou da receita ou da renda ou do lucro evitando o consumo
    e/ou gasto deste no presente para que depois de um bom acúmulo e boa rentabilidade futuramente sejam investidos.

    Lula não é um gestor de bom senso! Ele quer ser/ou parecer “bonzinho” à sociedade através destes discursos políticos falaciosos.

    Ele não irá promover um corte das despesas porque usa o argumento que afetará os investimentos sociais. Como 60% do povo brasileiro gosta muito de “sonhar mas sem ter os pés no chão” e está apaixonado por Lula,não percebe os erros que ele está cometendo em relação a uma boa gestão pública.

    Boa gestão implica em diminuição dos custos da máquina,que implica diminuição dos custos de pessoal,
    que implica diminuição do endividamento e aumento da poupança para depois de um grande acúmulo ,investir em atividades que gerem resultados positivos,sejam eles fiscais,
    financeiros,econômicos ou sociais ou outros quaisquer.

    O Lula não me parece tão econômico e racional assim! Aumenta a arrecadação através de aumento de impostos que sufocam ainda mais o setor produtivo e aumenta as despesas com aumento de pessoal,aumento de salários(deputados,senadores,
    juízes,promotores,etc).

    O que ele e os demais do primeiro escalão gostam mesmo é de taxar os empreendedores e os demais cidadãos para que eles financiem o Estado Brasil (incluindo “eles próprios”) que até hoje e provavelmente continuará sendo, pelo menos no curto e médio prazo,um enorme Estado perdulário,fanfarrão,
    preguiçoso e incompetente.

    Ô presidente , existe vida inteligente entre a plebe que tu governas e que um dia a vossa excelência pertenceu !

    Nem sempre os chefes e os presidentes de grandes empresas são tão pragmáticos e brilhantes intelectualmente.Muitas vezes, outros que não ocupam estes cargos podem ser melhores gestores.

    Ou será,que alguém ou um grupo ameaçou o Lula de morte caso ele queira diminuir os custos com pessoal,por exemplo, e/ou fazer um reforma radical na previdência que,se não me engano,é a maior despesa do governo federal ?

    Nassif, achas o Lula um bom gestor ? Administrativo público ? Ou Administrativo privado e/ou pessoal/familiar ? de Custos públicos? ou de custos não-públicos ? De produção ? Produção de q? Bom gestor de q ?

    Discordas de algum ponto que escrevi ? Vamos ao debate como desejas.

    Atenciosamente,

    José Carlos Lobo Barbosa,
    licenciado em Filosofia pela UFMG,gestor e investidor financeiro.

  4. Nassif,
    sou aluno de
    Nassif,
    sou aluno de doutorado de adm. pública e governo (FGV-SP) e estou interessado em materiais sobre a implementação do programa de qualidade na educação de Minas Gerais entre 1991 e 1998. Como vc sempre teve um forte conhecimento da metodologia do TQM, acredito que você conheça onde posso encontrar esta experiência de Minas (que foi inclusive uma experiência no tempo do Walfrido Mares Guia)

    Abraços,
    Maurício

  5. Fecho em tudo com o que o
    Fecho em tudo com o que o Marco Aurélio Garcia afirmou. Gestão, gestão, gestão, realmente não é só reduzir tributos, mas principalmente, no nosso caso, reduzir gastos públicos. Por uma das Leis de Murphy, todos os recursos disponíveis tendem a serem esgotados. Então é uma farra. “Quem não conhece seus custos, não sabe como reduzi-los. “Bobagens (coisas simples) como essa, quando ouvidas pelo presidente ou por sues ministros merecem os melhores elogios e são consideradas pérolas de sabedoria. E depois se recomenda ao presidente que repita. O primeiro objetivo de alguém que substituir esse presidente deverá ser: “Elevar o nível de competência do primeiro escalão ao nível da iniciativa privada. Isso pode ser feito. É só escolher bem. Depois não precisa criar o Ministério do Futuro, como se os ministros atuais não devessem, por obrigação, ter visão de médio e longo prazo.

    Finalmente, o último parágrafo é emblemático da visão marqueteira delles. Vão bem as empresas com as quais lula toma contato ou lula só toma contato com as empresas que vão bem ? Será que ele iria à Franca ou ao polo moveleiro do sul ?

    Esse pedacinho, desculpe-me Nassif, mas teve probleminha de edição. O Gerdau não deve ter falado assim.

  6. Reforma por reforma, que se
    Reforma por reforma, que se faça a administrativa em primeiro lugar. Enquanto se discutem as “impossíveis” reformas tributária e previdenciária (especialmente a do setor público) segue a crônica incompetência da administração pública brasileira. E não tem Minas, não tem Sergipe, nem estado qualquer. As supostas referências não resistem a avaliações mais abrangentes.

    P.S. : Ana Júlia Carepa, governadora do Pará, emprega parentes, ex-maridos, manicure, cabeleireira.

    Administração pública brasileira é isso aí.

  7. Bom dia, Nassif. Confesso que
    Bom dia, Nassif. Confesso que nas experiências que tive implantando programas de gestão de qualidade percebi diferenças entre os casos em que estava participando como executivo das empresas ou, mais tarde, como consultor. A favor da primeira situação. Não, exatamente, para identificar o problema, o que se faz estimulando a percepção das próprias equipes operacionais internas, mas depois, nas etapas de implementação das mudanças estruturais, de métodos, etc.

  8. Nassif, sobre o assunto “O
    Nassif, sobre o assunto “O Senhor Gestão”:
    Comentário 1 – a gestão pública tem características e fundamentos próprios e não pode ser vista como uma extensão dos modelos aplicados na iniciativa privada.
    Comentário 2 – a administração pública é uma ciência. Os modelos de gestão adotados no Estado foram implementados sem consulta ou mesmo discussão aberta com a sociedade (não estou falando da sociedade representativa, que hoje vem passando por um longa crise de identidade). Ou seja, o público-alvo dos serviços públicos não foi e não é ouvido.
    Comentário 3: todos os modelos que se apresentam como solução para a gestão pública, precisam ser criticados tecnica e politicamente. Modelos adotados em administrações estaduais, municipais e federal devem ser analisados tendo como base os seus resultados para a população.
    Comentário 4 – os programas de qualidade precisam ser observados criticamente. São modelos ideológicos, formatados para determinadas culturas e economias. Esses modelos possuem forte componente político.

  9. Esta na hora dos governantes
    Esta na hora dos governantes se preocuparem com a qualidade e eficiência de gestão pública igual como os “gurus” de gestão moderna empresarial. Há um oceano para ser explorado na gestão pública, que com certeza o mínimo de empenho e investimento já trará grandes resultados. Isso sem contar com os benefícios que a tecnologia pode trazer para a gestão pública.

  10. gostei das palavras do nosso
    gostei das palavras do nosso amigo filosofo ai ( carlos lobo) o lula é adm/ gestor de quê? vai atrasar o pais é 50 anos . a pancada de 96/97 , esta se repetindo agora com muito mais violencia , e nossas empresas não aguentam . tenho medo desse presidente estar mergulhando o pais numa recessão profunda !! abraços

  11. Prezado Nassif, somente após
    Prezado Nassif, somente após meio século da revolução no Japão, entre outros países e quinze anos de gestão e qualidade na iniciativa privada aqui, o Prof. Gerdau e seu exército esta conseguindo cunhar esse palavrão na cabeça errática dos políticos de plantão. Outra coisa é imprimir tal palavrão no seio da burocracia das instituições públicas, visto que o grande negócio é utilizar a assimetria das informações privilegiadas para vender facilidades. Infelizmente, não sou otimista para o tal palavrão no meio público, apesar de que antes tarde do que nunca! Acredito que o palavrão Gestão e Qualidade deve ser repetido, mas outro deve ter maior ressonância nos ouvidos públicos: Educação, Educação, Educação para Gestão e Qualidade do Serviços Públicos.

  12. Nassif, demos de barato que o
    Nassif, demos de barato que o Gerdau tenha toda essa competência alardeada tanto na metalurgia quanto na administração pública. Para mim existe um pequeno problema que o desqualifica. Por que o Gerdau, sempre tão eficiente nas propostas, não consegue ser competitivo sem a participação do dinheiro público. Aqui no RS está sempre sob as asas do FUNDOPEM. Para construir uma nova laminadora, pediu mais dinheiro público. Se o Estado desse menos dinheiro ao Gerdau e investisse mais na qualificação e nos salários dos seus servidores já estaria se aparelhando melhor, sem necessidade dos palpites dele.

  13. As opiniões de alguém que
    As opiniões de alguém que conquistou um espaço invejável no mercado dos negócios deve servir para alguma coisa.Não acredito que a proximidade com o nosso Presidente seja obra esclusiva de interesse nos problemas da Administração Pública.Também não acredito que o nosso Gestor (Lula) seja capaz de assimilar e colocar em prática qualquer orientação para mudar os destinos da nossa máquina pública.Resumindo, tudo vai continuar como dantes até que se mudem os atores e o roteiro da novela brasileira.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador