Os leitores e Schwartsman

Enviado por: januario

Nassif (Califa de Bagdá?),

(…) O`q artigo de Schwartzman tem como objeto explícito a resposta à seguinte pergunta:

“É justificável o Tesouro Nacional pagar juros consideravelmente maiores pelos títulos domesticamente emitidos face aos pagos pelos títulos emitidos pelo Tesouro no exterior ?”

Como objeto implícito, a seu turno, Schwartzman coloca a resposta à seguinte indagação:

“É justificável o Banco Central manter a taxa Selic tão acima da taxa de remuneração oferecida pelos títulos denominados em dólar emitidos pelo próprio Tesouro Nacional?”

1. Quanto ao objeto explícito do artigo, Schwartzman basicamente se coloca no lugar do investidor que parametriza as suas aplicações de acordo com o retorno gerado em moeda conversível.

Assim, o investidor que compra uma LFT em reais esperaria na verdade um certo retorno em moeda conversível para esse título. Se ele comprasse uma LFT por X dólares convertidos em reais, esperaria, por exemplo, que essa LFT lhe retornasse depois de um ano os mesmos X dólares mais 6 por cento desses X dólares.

Schwartzman então atribui ao fato da LFT ser denominada em reais a aplicação de uma taxa adicional de juros à remuneração do título, que serviria para cobrir satisfatoriamente um risco de desvalorização do real frente ao dólar.

Basicamente, se o investidor, pagando X dólares, quer comprar Y reais em LFTs, ele, na sua visão, para ter X dólares mais seis por cento de seis dólares, só compraria as LFT se fosse grande a probabilidade de seu rendimento em reais ao menos igualar o rendimento desejado em dólares.

Ainda na visão de Schwartzman, essa possibilidade aumentaria na razão direta do diferencial entre a taxa de juros oferecida pelas LFT e a taxa de 6% considerada.

Schwartzman acha que isso poderia justificar uma taxa de 12, 13% remunerando as LFT em reais e uma taxa de 6.5% remunerando os títulos do Tesouro em dólar. Mas essa é uma consideração relativa e de dificílima comprovação, eis que também há muitos fatores que poderiam apontar justamente para a direção contrária. Eu cito apenas alguns:

Ora, o prêmio pedido pelo investidor, conforme o próprio Schwartzman defende, seria decorrente da expectativa de desvalorização do real frente ao dólar. Com isso ele está admitindo implicitamente que a taxa atual de câmbio está fortemente sobrevalorizada em decorrência da própria SELIC.

A expectativa atual de desvalorização do real justamente com a redução de juros, entretanto, não implica que num contexto de redução da SELIC o Tesouro não conseguiria rolar a sua dívida.

Insisto: Ainda que boa parte dos investidores procurasse efetivamente parametrizar o seu retorno em moeda conversível, a redução na Taxa SELIC não necessariamente prejudicaria a demanda pelos títulos denominados em reais. Poderia até incrementá-la.

Primeiro porque o risco de desvalorização cambial num determinado patamar de taxa básica, num contexto de orçamento equilibrado, tende a ser diretamente proporcional à taxa atual: Se a taxa atual é reduzida, e o espaço para futuras reduções diminui, a taxa de câmbio atual não tem muito espaço para se depreciar – O contrário acontece quando a taxa básica é elevada.

(veja a íntegra no comentário do post abaixo)

Enviado por: André Araujo

Observo que o Fed tem dois mandatos distintos: manter o equilíbrio de preços e manter o emprego pleno na economia. Portanto a política monetária do Fed não visa simplisticamente manter a inflação baixa e tampouco tem metas quantitativas de inflação, como sugere o artigo de Schartsman. Em segundo lugar, o Fed não opera por manuais acadêmicos que sugerem arbitragem de taxas de juros em situação de desalinhamento de taxas como ocorre entre os EUA e o Japão. A historia de 93 anos do Fed mostra uma consistente defesa ds expressão política e estratégica da moeda americana.

O Tesouro americano emitir títulos em yen seria um desprestigio para a força política do dólar, inaceitável sob o ponto de vista geopolítico e estratégico. O Fed não e uma instituição técnica, é uma entidade com larga visão política a serviço dos objetivos dos Estados Unidos. Não e só isso. As próprias corporações americanas deveriam ser as maiores interessadas e emitir títulos em yen a custos um quarto do mercado americano e não o fazem, com poucas exceções.

Economia não consiste só nos resultados de uma calculadora HP, existem fatores fora da economia que nela interferem e quando se fala na política monetária dos EUA há que avaliar essas múltiplas variáveis.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Qual é a intenção do Tesouro
    Qual é a intenção do Tesouro Nacional pagar juros maiores para os títulos domésticos ?

    É impossível saber por que o Tesouro pratica esta política de juros altos, que já virou até uma tradição.

    Mas acredito que neste caso, a inteção é segurar o grande investidor nacional comprando títulos no mercado doméstico.

    Se o valor pago lá fora fosse mais atraente, o investidor nacional poderia ser tentado a tirar o dinheiro do brasil e aplicar lá fora.

  2. Saiu “de 6 dólares” ao invés
    Saiu “de 6 dólares” ao invés de “de X dólares” no oitavo parágrafo…

    É off-topic mais é importante:

    Vocês já deram uma olhada nessa Lei 11.132/2006, que isenta os rendimentos relacionados a títulos federais?

    Ao invés de deixar bem claro que só os juros pagos pelo governo federal seriam isentos (porque só para estrangeiros ?), a Lei abre a porteira para uma série de fraudes, pois praticamente isenta qualquer lucro decorrente da negociação dos títulos federais de posse de fundos com cotistas não-residentes.

    Fica fácil para uma empresa qualquer armar um esquema para transferir seus lucros para um fundo desses e não pagar imposto.

    O correto seria simplesmente a Lei isentar tão somente os juros. Se em caso de negociação dos títulos os ganhos ultrapassassem os juros apropriados proporcionalmente ao tempo de retenção do título, o ganho de capital excedente teria de ser tributado.

    Mais uma picaretagem…

  3. Nassif,
    Parabéns por abrir
    Nassif,
    Parabéns por abrir espaço nobre a alguns de seus leitores. Penso que a expertise financeira do Januário e o precioso ponto de vista do André merecem mesmo destaque. São muito interessantes.

    Eu não sabia que é responsabilidade do Fed buscar uma situação de pleno emprego.

    Realmente é preciso arejar o BC e o Copom, com economistas que tenham uma visão mais ampla, dos interesses do país.

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