Quando teoria e realidade não se afivelam nos modelos econômicos, por Miguel Bruno

Sugerido por jns

Da revista Insight Inteligência

Falhas preditivas e erros sistemáticos ou quando teoria e realidade não se afivelam nos modelos econômicos

Miguel Bruno, economista

“Um conhecimento pode estar perfeitamente de acordo com a lógica, isto é, não se contradiz a si mesmo, e, no entanto, ainda pode contradizer o objeto.” – Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, 1781

“O conhecimento do real é uma luz que sempre projeta sombra em algum lugar. Ele nunca é imediato e pleno. As revelações do real são sempre recorrentes. O real nunca é aquilo que deveríamos ter acreditado, mas sim o que deveríamos ter pensado.”  – Gastón Bachelard, químico e filósofo da ciência.

O problema da coordenação

Refere-se às dificuldades de compatibilidade dinâmica entre as estratégias dos atores que participam dos mercados.

O problema da informação

Refere-se à qualidade e pertinência das informações necessárias à tomada de decisões cruciais como o investimento e o consumo por parte das firmas e consumidores.

O problema da reatividade dos agentes

Segundo a epistemologia moderna, um dos problemas das ciências humanas é que “lidam com um objeto que fala”.

O problema das regularidades comportamentais e das leis econômicas

Em Economia as leis econômicas não possuem o mesmo estatuto das leis naturais. Elas são estocásticas e não determinísticas. Esse é um dos muitos equívocos que a teoria econômica moderna herdou da tradição fisiocrática do Dr. Quesnay e da escola clássica com os trabalhos de Adam Smith e David Ricardo. O mundo social, embora muito mais complexo, é assimilado aos padrões de funcionamento e estruturação dos mundos orgânico e inorgânico. Uma lei econômica é historicamente datada, ou seja, é a expressão de micro e de macrorregularidades comportamentais cuja permanência depende das condições estruturais (tipos de instituições, regras, convenções, leis jurídicas e dispositivos normativos) particulares às economias no tempo e no espaço. Os trabalhos em antropologia econômica mostram que o princípio de maximização de lucros e de utilidade não pode ser aplicado às sociedades primitivas sem uma ampla margem de arbitrariedade e de distorção dos fatos.

O problema de Hirschman ou das paixões e dos interesses

É decorrente das formas subjetivas que orientam a pesquisa econômica e a produção de modelos de previsão.

O problema das particularidades do mercado

No mercado de bens, os preços podem desempenhar um papel de ajustamento: se a demanda é muito forte, os preços sobem e esse aumento faz baixar a demanda e crescer a oferta. O inverso ocorre se os preços caem. Todavia, no mercado de ativos financeiros e de crédito o processo é diferente.

O problema da incerteza fundamental

Ele deriva das diferenças entre risco probabilizável e incerteza. O ambiente econômico se caracteriza também pela incerteza, e não apenas por riscos, pois nem todos os eventos prováveis são conhecidos. Nesse caso, não se pode atribuir probabilidades de ocorrência para acontecimentos desconhecidos dos agentes econômicos, caso em que suas decisões equivalem a um “tiro no escuro”.

Miguel Bruno
[email protected]

Assessor de Projetos Especiais Para Crescimento e Desenvolvimento da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Ipea, professor adjunto da FCE-UERJ e pesquisador licenciado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas-ENCE/IBGE

Artigo completo neste link: http://www.insightinteligencia.com.br/48/PDFs/03.pdf

Redação

2 Comentários

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  1. Ótimo artigo

      Quando eu estava na faculdade, final dos anos 70, era forte o debate que colocava a graduação em “Ciencias” Economicas ( que para mim não é ciência no sentido lato do termo), em uma categoria a parte, entre as exatas e humanas, um debate importante, que os “cabeças de planilha” dos anos 90, deixaram para trás – o “ceteris paribus” da macroeconomia, as equações, graficos e demonstrativos estatisticos, são validos apenas quando referenciados em determinadas variaveis – o espaço pré-definido da integral, objeto de uma analise, nunca contempla variaveis que são indefinidas de origem – como povo, politica, cultura etc.. – portanto, a matemática sempre esta correta, mas os seres humanos e seu coletivo social, quando colocados na equação, arrasam a matemática.

       Como vendemos: É muito dificil para quem não é do “mercado”, entender o que hj. significa a velocidade de ciclagem de posições, o “mercado” não trabalha com o real, trabalha ou aposta nas expectativas de seus atores e nos movimentos destes, a virtualidade do capital e sua movimentação, é que definem o que se compra e o que se vende, derrubam as equações, pois as variaveis estão atreladas a comportamentos de manada.

  2. O projeto de poder bancado pelo Dólar

    A teoria do Sr. Miguel Bruno é falha no Dólar, lá a teoria e a realidade estão lado a lado, unívocas com a grana jorrando aos borbotões nos gajos que são o seu dono.

    O resto da teoria econômica, hora, quem se preocupa com nada?

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