Sobre os ortodoxos e o mercado financeiro, por Luiz Martins de Melo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Os ortodoxos e o mercado financeiro afirmam que:

 “Não há explicação aceitável: nos últimos anos, a economia brasileira saiu do caminho da virtude. O governo recorreu a políticas que fracassaram no passado e tratou o setor produtivo e os mercados como inimigos. Mesmo admitindo que, agora, o mundo avança a um ritmo mais lento, o Brasil parou de crescer antes do tempo” (Cristiano Romero, Valor Econômico, 10/12/2014).

Porém, é importante observar que mesmo com taxa básica de juros estratosféricas no período FHC1 e FHC2 a inflação ficou muito acima da média de Lula1 e Lula2 . Os indicadores de Dilma1 não estão muito distantes dos de FHC1 e FHC2. Até no déficit em transações correntes eles são parecidos. No déficit fiscal com FHC1 também. As taxas de juros são menores e a inflação média também.

A ideia simplista de que a inflação maior tira competitividade é apenas uma pequena parte da verdade. O câmbio permanentemente valorizado mais ainda. A infraestrutura deteriorada também. A taxa de juros muito mais elevada do que a internacional a também.

Existem a problemas estruturais para que a taxa de inflação no Brasil fique permanentemente mais alta do que a internacional.

Eles não serão resolvidos com as medidas tradicionais de elevação dos juros e forte ajuste fiscal.

Isso não quer dizer que não se tenha que ser rigoroso na questão fiscal.

Porém se elevar os juros a economia que já está estagnada vai ficar mais lenta. O câmbio vai voltar a valorizar e não teremos o efeito “China” de 2003, para dar uma forte ajuda na demanda e na conta de transações correntes. 

Foi o efeito China que permitiu o ajuste d o poder de compra da renda interna (salários e emprego), com a valorização do câmbio, mudança de preços relativos internos entre os comercializáveis e os não comercializáveis e a obtenção de reservas cambiais elevadas. Aliás, esse último ponto foi criticado por todos os “ortodoxos”.

Pra evitar que o “rabo do cachorro continue a balançar a sua cabeça” seria necessário começar a pensar em alguns pontos distintos daqueles que os mercados e os “ortodoxos” insistem permanentemente.

1) o BACEN precisa alterar a relação entre a taxa básica de juros (Selic) e a indexação diária dos ativos financeiros a ela. Esse é o principal entrave para o impacto mais forte da política monetária no controle da inflação, pois alimenta uma alta expectativa de remuneração dos rentistas com liquidez assegurada diariamente. Alta taxa rentabilidade e risco zero. Todos nós sabemos da relação inversa entre rentabilidade e liquidez derivada do tempo decorrido entre o retorno de longo prazo (rentabilidade do investimento em bens de capital e inovação) e o de curto prazo (ativos financeiros)  Essa é uma jabuticaba brasileira mantido pelo famoso tripé macroeconômico ortodoxo.

2) A estagnação da economia brasileira é o resultado direto do impacto dos  juros elevados, taxa de câmbio apreciada e carga tributária elevada, irracional e regressiva (incide proporcionalmente mais sobre o consumo e  bens públicos do que sobre a renda e a propriedade). A recuperação da indústria, centro dinâmico da economia capitalista, só vai acontecer em uma transição para um regime macroeconômico com taxa de juros próxima das internacionais, taxa de câmbio mais desvalorizada,  maior racionalidade no sistema tributário e um vigoroso programa de investimento em infraestrutura.

3) Para recuperação da indústria o programa de investimento de longo prazo deverá se concentrar nos seguintes setores:

– setores intensivos em emprego, para manter o dinamismo do mercado de trabalho conquistado nos últimos anos;

– setores de energia petróleo, biocombustível, eólica e solar;

– defesa e medicamentos, setores de maior intensidade tecnológica, onde o setor público poderia desempenhar o papel relevante de garantir a demanda (poder de compra do estado);

– serviços públicos: transporte, saneamento, saúde e educação.

Voltar ao que não funcionou (FHC1 e FHC2) e o ajuste do LULA 1, sem a China, não são alternativas viáveis.

Vamos continuar apontando para a Lua e olhando para a ponta do dedo?

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Da mesma forma que no campo

    Da mesma forma que no campo político cria-se muito estardalhaço, mais que debate de idéias, pelo em ovo, chifre em cavalo, na economia parece não ser diferente. A quem interessa a defesa fidagal do tripé, dos juros altos para combater inflação, superávit fiscal elevado, corte de gastos, diminuição do tamanho do estado? Estes defensores são muito barulhentos e acabam impondo suas convicções ou interesses.

  2. o difícil é aprovar no

    o difícil é aprovar no congresso maiores impostos para os ricos

    e enfrentar a hegempia do mercado para baixar a taxa de juros,

    fazer a reforma tributária.

    a questão então é política, acima de tudo

  3. Comparações desonestas. Tem

    Comparações desonestas. Tem que pegar como se pegou o governo e o que foi realizado. O Brasil saiu de uma estratosférica na decada de 90 e conseguiu trazer para números melhores. Dilma pegou a casa arrumada, as comodities deram a Lula condições de investir no social e ainda deixar as contas em dia. Com Dilma começou o retrocesso com irresponsabilidade fiscal e o pior com criatividade para maquear os números, com isto a credibilidade foi pro espaço e ninhum empresário colocou a mão no bolso para investir no país. Quem investe hj no Brasil são só os amigos do governo que recebem benesses e mais benesses do BNDES.

  4. Na verdade todos os problemas

    Na verdade todos os problemas (inflação, juros, crescimento 0) começam com o deficit público, isso é inegável, vários exemplos ao longo da historia. Agora tem que arrumar a casa, o resto é conversa de leigo em economia. 

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