Snowden, sua estátua e a América Latina, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Esta semana artistas norte-americanos homenagearam Snowden com um busto num Parque no Brooklyn, New York. Pouco tempo depois a polícia da cidade removeu a estátua do lugar. Inconformados, os responsáveis pela homenagem projetaram o holograma da mesma sobre o pedestal.

O conflito desencadeado por Snowden é grande, profundo e ainda não foi resolvido. Já o mencionei aqui mesmo há algum tempo: Pierre Levy, Paul Virilio e Bill Gates antes e depois de Snowden e Caminhos da metis na era pós Snowden.

De certa maneira este conflito opõe o que há de melhor e de pior nos EUA. De um lado vemos as pessoas comuns lutando pela liberdade de expressão, defendendo o direito à privacidade e condenando a ostensiva, invasiva e exagerada vigilância estatal. De outro os agentes de um Estado que se torna mais e mais orwelliano controlado por corporações e bilionários, os únicos com poder suficiente para interferir na política e distorcer os fundamentos da Constituição Norte-Americana.

A ação da polícia e a reação dos seguidores de Snowden demonstram que nada está decidido. Os dois usam as armas que dispõe. É previsível que a liberação ou não desta estátua se torne objeto de uma ferrenha e midiática disputa judicial. De qualquer maneira, Snowden e sua representação artística serão o foco de muita atenção nos próximos dias. De cima abaixo a sociedade norte-americana será convocada a se posicionar sobre o destino do objeto. Não seria absurdo considerar a hipótese da disputa se tornar motivo de um documentário ou filme (como já ocorreu no caso do próprio Snowden).

Qualquer que seja o destino da censurada estátua de Snowden, a obra se transformará num símbolo de resistência. É possível que o objeto instigue a cobiça de colecionadores milionários liberais. Nos EUA sempre existem aqueles que não medem esforços e despesas para desafiar seus adversários conservadores. A confecção desta estátua certamente inspirará homenagens semelhantes em outras cidades dos EUA. Ações ousadas visando a libertação do objeto das garras da polícia podem ser esperadas.

O único problema é que toda esta agitação por causa de uma questão doméstica artística, política e policial certamente desviará a atenção dos norte-americanos de questões bem mais importantes para os outros povos. Como, por exemplo, a atuação da CIA na América Latina para desestabilizar os governos de Cristina Kirchner,  Evo Morales, Nicolás Maduro e, é claro, Dilma Rousseff. Snowden e sua estátua estão a serviço da liberdade nos EUA e, paradoxalmente, liberarão as autoridades norte-americanas para promover ditaduras e golpes de estado além mar. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. O deus da carnagem

    Não ha nada de novo no modo de funcionar da sociedade americana. Sempre foram profundamente centrados em si mesmos, desconfiado, simpaticos quando vizinhos, indiferentes com os desconhecidos e extremamentes violentos com os que “ferem” sua patria. 

    Sugiro ver o filme Carnage (adaptado de uma peça de teatro “Le dieu du carnage”, de Yasmine Reza) de Roman Polinski, o qual Polanski traça alguns perfis do tipo médio americano, sem concessão. 

    [video:https://youtu.be/i5UKSohbmM4%5D

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