Cai teoria de que gráficas da chapa Dilma e Temer eram de fachada

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O que motivou as buscas e apreensões realizadas, nesta terça-feira (27), nas gráficas que prestaram serviços à campanha da chapa Dilma e Temer, foi a suspeita de que as empresas eram de fachada. A tese foi defendida por laudos da Polícia Federal e relatórios de peritos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de documentos dos investigadores contrariando a defesa de Dilma Rousseff. Mas as gráficas existem e funcionavam.
 
Conforme o GGN publicou nesta terça, os peritos nomeados por Herman Benjamin, corregedor-geral e relator do processo no TSE, sustentaram em mais de 100 páginas que as gráficas Rede Seg, VTPB e Focal apresentavam irregularidades na prestação dos serviços e seriam de “fachada”, para desviar recursos ilícitos da campanha do PT e PMDB.
 
Os consultores Eron Junior Pessoa, José Carlos Pinto, Alexandre Araújo e Thiago Queiroz contestavam, no dia 12 de dezembro, as mais de 8 mil páginas apresentadas em setembro pela defesa da ex-presidente Dilma Rousseff. Neste documento, os advogados mostraram documentos, comprovantes, fotografias e materiais para provar que as empresas funcionavam e prestaram os serviços gráficos.
 
 
Mas o Departamento de Polícia Federal, a Secretaria da Receita Federal do Brasil, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e o Núcleo de Inteligência da força-tarefa seguiram questionando a legalidade, insistindo na “falta de documentos que atestem a entrega efetiva de todos os produtos e serviços contratados pela chapa presidencial eleita”.
 
O objetivo dos investigadores era concluir: “Nesse contexto, identifica-se uma linha de investigação que sinaliza o desvio de finalidade dos gastos eleitorais para outros fins que não os de campanha, conforme pode ser observado na conclusão daquela política especializada”.
 
Ainda que com suspeitas ainda a serem verificadas e apuradas, adiantaram que “com a análise dos dados obtidos a partir da suspensão do sigilo bancário das empresas”, suspeitam “que os recursos em tese destinados à campanha eleitoral foram, na verdade, desviados e direcionados ao enriquecimento sem causa de pessoas físicas e jurídicas diversas para benefício próprio ou – outra hipótese, que não necessariamente exclui a primeira – os recursos foram desviados e direcionados a pessoas ainda não identificadas, com interposição das pessoas físicas e jurídicas diversas.”
 
Mas além de supostas irregularidades e incompatibilidades nas declarações à Justiça Eleitoral com as notas fiscais – como por exemplo a descrição de “caminhada” e “comícios” nas declarações, mas nos orçamentos tais custos aparecerem como confecção de adesivos para carro -, a raiz da suspeita parte da hipótese de que as empresas seriam de fachada, não prestando os reais serviços para o desvio do dinheiro.
 
Por esse motivo, Herman Benjamin autorizou a deflagração das buscas e apreensões na ação de investigação judicial eleitoral. 
 
Entretanto, a Folha de S. Paulo mobilizou alguns de seus repórteres para visitarem as sedes das gráficas. E a conclusão não foi a mesma dos investigadores: a constatação foi de que as empresas “são pequenas”, mas existem. “Todas as gráficas, que receberam entre R$ 6 milhões e R$ 24 milhões da chapa de Dilma e Temer, funcionam em pequenos imóveis”, publicou o jornal.
 
Em semana de recesso e festividades, as empresas estavam naturalmente fechadas. O diário recorreu, então, aos vizinhos da sede da Rede Seg. E eles informaram que a gráfica nunca serviu para grande produção de conteúdo, mas prestou serviços de distribuição de materiais de campanha em 2014. 
 
Os vizinhos informaram que a maioria dos panfletos e materiais eram de campanhas de deputados do PT, e não da chapa presidencial, o que aponta possível diferença das declarações à Justiça, mas confirma o teor eleitoral dos serviços.
 
Outra informação importante fornecida pelos vizinhos, ainda que suscetível a comprovações e investigações, foi a de que os materiais da campanha de 2014 eram produzidos por outra gráfica, a Grafitec. Por outro lado, a empresa, pertence a Rogério e Rodrigo Zanardi, sócios que também são donos da Rede Seg.
 
 
Então, a reportagem foi até a Grafitec. E a empresa estava inclusive funcionando em semana de natal. Dois funcionários foram abordados pelo jornal, e responderam que a Folha deveria contatar o advogado da gráfica.
 
A sede da Focal, outra gráfica investigada, foi fechada, após prestar serviços e funcionar em 2014. E a VTPB, também visitada, hoje armazena materiais gráficos, o que também não comprova a inexistência da empresa e a teoria defendida pelos investigadores de que as gráficas eram de fachada (abaixo).
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

18 Comentários

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  1. Só no Brasil

    Só no Brasil mesmo pra investigador passar na porta do lugar, ver que a documentação está toda certa, ter todas as notas fiscais adequadas e ainda falar que “não é prova irrefutável”.

     

  2. O mesmo de sempre: o carro

    O mesmo de sempre: o carro adiante dos bois. Elabora-se uma hipótese(na realidade mais para “tese”) e aí se parte com sofreguidão para corroborá-la. Se os fato não se coadunarem, problema deles. Aí resta apelar para adjetivações, ilações, romantizações, apelações e outras espécies de “ões” para enfiar goela adentro a denúncia. 

    Até aí, tudo bem(ou tudo menos mal). O problema(mais para tragédia) é o Judiciário, seja por preguiça, seja por covardia, seja pela duas coisas juntas, acatar denúncias claramente inconsistentes, se não mesmo forjadas. 

    Parece que veio mesmo para ficar esse novo modus operandi do sistema repressivo, no qual uma das partes – a mais poderosa, porque representa o Estado – se sobrepõe a outra, o indivíduo. De forma implícita ou indireta a presunção da inocência é ignorada, passando a viger o contrário. 

    Conclui-se facilmente de tudo isso é que não vivenciamos um Estado de Direito pleno, só remediado. Um contexto de exceção desde que se elevou ao patamar do sublime, da cruzada santa, o combate a corrupção que na realidade é apenas um disfarce para a luta política-ideológica. Ou seja, a farsa da farsa; o simulacro do simulacro. 

     

    1. Caro JB Costa, na realidade nem tese nem hipótese.

      Para se levantar uma Hipótese é necessário dados factuais de alguns casos para depois se verificar a Hipótese generalizando-a, já uma Tese é baseada em um numero bem maior de “hipóteses” para se configurar uma tese e depois verificá-la.

      Na realidade seria melhor uma especulação, palpite ou algo do gênero, pois não tem base nenhuma.

      Como não trabalhamos na Polícia Federal ou no Ministério Público e temos mais obrigação com a verdade e por isto temos que ser mais rigorosos até nos nossos comentários!

      1. Caro rdmaestri,
        Procuro ser o

        Caro rdmaestri,

        Procuro ser o mais rigoroso possível nas minhas intervenções no tocante ao formal, aos argumentos e as referências quando necessárias. Entretanto, nesse clima acirrado de discussões políticas-ideológicas no qual a sensibilidade é epidérmica muitas vezes sou mal compreendido. É por isso que atualmente restrinjo meus comentários a poucas linhas. Mesmo porque são só isso: simples  comentários e não textos mais aprofundados. 

        No caso específico, usei os termos “hipótese” e “tese” pela correta pertinência. Não necessariamente uma hipótese é precedida de dados factuais. No seu sentido semântico a hipótese é uma suposição, um palpite que pode não ou não ser verossímil. Na dimensão das Ciências corresponde a uma possibilidade de explicação para determinado fenômeno. 

        Já a “Tese” é um assunto, um tema que se apresenta para ser discutido com base em uma ou mais hipóteses. 

        Então, no contexto em análise primeiro argui que a PF e o MP partiam de suposições de culpabilidade(hipóteses), nunca de inocência, quando não já direto de teses, ou seja, CERTOS dessa culpabilidade buscando apenas defendê-las mediante a apresentação de dados ou meras verossimilhanças. 

  3. Se trabalhasse no GGN , não

    Se trabalhasse no GGN , não escreveria sobre o assunto.

    Só escreveria sobre o inquestionável.

    E esse caso está longe do inquestionável.

  4. Suspeito

    O pt vive provando que não cometeu crime…; isto é muito suspeito. Já provou umas centenas de vezes, o que é mais supeito ainda.

    Este pt, sei não…

    O psdb e correlatos não negam, são confiávis.

  5. … se ficar o bicho come!

    “Se Correr o Bicho Pega. Se Ficar o Bicho Come” — Oduvaldo Vianna Filho / Ferreira Gullar

     

    Nassif: prá merda essa de “cai teoria” disso ou daquilo, quando se trata de incriminar o governo deposto. Se o negócio é ferrar Nove Dedos e circunvizinhança qualquer defesa é furo nágua.

    Veja só. Antes, a história das gráficas era armação. Ai elas apareceram. A acusação passou para lavagem de grana. 

    E se não der certo provar por essa vertente, os Gogoboys e a polícia daquele que tem domicilio na Avenue Foch e costuma tomar chá na Casa de Machado de Assis, vão procurar quem distribuiu os “santinhos” das gráficas.

    Se nada disso der certo aparecerá delação premiada de um ambulante de São Paulo dizendo que recebeu o “santinho” e que nele havia o nome “Lula”. Bingo!

    O importante é aniquilar o metalúrgico. E para isto tudo é válido.

    Aliás, estão dizendo que Savonarola dos Pinhais conversou nessa semana com a promotoria norteamericana para que eles requisitem o meliante, assim como fazem com os narcotraficantes latinoamericanos. A ideia foi simpática e vão conversar com o Presidente eleito. Dando certo, a CIA já requisita um jatinho da FAB para o transporte. O cara já embarca com aquele uniforme laranja e corrente nos pés. Bolsonaro quer acompanhar.

    E como ele, alem de operário, é nordestino, hoje terra de ninguém, o Çupremu, com aqueles do “Ferrari”, alegará tratar-se de alienígena e sujeito a esse tipo de “justiçamento”. Há precedentes. Fizeram assim com Olga Benário.

    Portanto, só nos resta torcer para que deixem em paz dona Marise, com aqueles pedalinhos. Ou então…

  6. Pra mim, está por trás dessas

    Pra mim, está por trás dessas investigações ninguém menos que o Presidente do STE, por querer colocar na Presidência o seu amigo íntimo, Mineirinho. Basta ver as fotos inúmeras de ambos pra saber que com Aébrio não haverá jamais denúncia que se crie.

    O negócio é anular a chapa Dilma-Temer, e dar a Aécio o que ele não conseguiu não receber:  diploma de Presidente.

  7. A queda da teoria é a constatação de a teoria é que é de fachada

    Tem cada teoria besta, que ninguém merece. Se precisam de exemplo, eis aí uma lição

    A mediocridade reina em todos os bolsões de ignorancia desse pais, que querem continuar com a merda, querendo apenas tomar parte no banquete fecal

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