VazaJato: Força-tarefa interferiu para Bonat suceder Moro na Lava Jato

Segundo conversas obtidas pelo The Intercept Brasil, os procuradores pressionaram e interferiram para que o novo escolhido atendesse aos interesses da força-tarefa

Jornal GGN – A força-tarefa de Curitiba atuou para interferir na sucessão do ex-juiz Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato. Segundo conversas obtidas pelo The Intercept Brasil, os procuradores pressionaram e interferiram para que o novo escolhido atendesse aos interesses da força-tarefa.

No dia que Moro anunciou a entrada no governo Bolsonaro, a força-tarefa já especulava quem poderia substituí-lo. Por regra, qualquer juiz da Justiça Federal da região, incluindo os três estados do sul, poderia disputar e ganharia aquele que tivesse mais tempo de carreira.

“Caros, vamos visitar as pessoas que seria bom que assumissem a 13ª Vara para convencê-las. Vou levantar nomes bons e vou convidar quem puder para irmos estimular rs”, escreveu o ex-coordenador do grupo, procurador Deltan Dallagnol, no dia 9 de janeiro de 2019.

Mensagens de texto e áudio pelo Telegram em janeiro de 2019, Dallagnol faz uma lista dos principais candidatos, aponta seus preferidos e traça um plano para afastar os candidatos que, segundo ele, poderiam “destruir a Lava Jato”. O primeiro da lista era Luiz Antonio Bonat.

Nas mensagens, Dallagnol chega a pedir a outros colegas que tentassem “advogar” junto ao presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) para chegar a uma escolha do sucessor de Moro. O juiz que efetivamente obteve o posto, Luiz Antônio Bonat, agradava os procuradores.

Dallagnol o descreveu como alguém que tem “amor à camisa” e que juntamente com outros juízes assessores poderiam conduzir a Lava Jato nos mesmos moldes que Moro. “Então a gente tem que conseguir um apoio. A ideia talvez seria de ter juízes assessores ali designados junto a ele”, havia sugerido o procurador.

A ideia destes assessores era que nem todo o trabalho da Operação recaísse sob Bonat, que não daria conta das dezenas de processos. Apesar da ideia dos assessores não ter sido concluída, a Lava Jato conseguiu a vitória de Bonat, por meio de um lobby de juízes aliados.

“Ontem os juízes estavam preocupados e conseguiram fazer, conseguiram convencer o número 1 da lista, o que é ótimo para nós, assim, simbolicamente, a aceitar o desafio de ir para a 13ª”, disse Dallagnol, em um áudio.

Ainda, segundo o The Intercept Brasil, Bonat estava resistente a entrar na disputa, mas foi convencido por colegas e procuradores, segundo as conversas do chat, que estavam “preocupados” com a vitória de alguém que não agradava a força-tarefa, o juiz Julio Berezoski Schattschneider, de Santa Catarina.

Em áudio, Dallagnol relata as articulações que fez junto à juíza Gisele Lemke, de uma Vara Federal de Curitiba, tentando convencer Schattschneider a aceitar outro posto que não o de Moro:

Outro alvo era o juiz Eduardo Vandré, do Rio Grande do Sul, que foi segundo os procuradores “seria péssimo” para a Lava Jato, porque segundo outro procurador, Paludo, era “PT e não gosta muito do batente”.

Bonat, apesar de pela idade ser descrito como que não teria “pique”, era aventado como boa opção, porque o objetivo da força-tarefa era que outros juízes assessores “trabalhassem por trás” dele.

Outros “preferidos” da Lava Jato não puderam, em último momento, entrar para a disputa, sendo impedidos por regras de regimento interno do TRF. Naquele momento, Dallagnol chegou a pedir pressão sobre o então presidente do TRF-4, Thompson Flores Lenz.

Naquele mesmo dia, Bonat havia mudado de ideia e decidiu se inscrever, à meia-noite do dia 24. Em segundo lugar, estava Schattschneider. E os procuradores continuaram a pressionar para que Bonat não desistisse da disputa. As mensagens obtidas pelo The Intercept indicam que os procuradores atuaram pessoalmente:

 

Redação

11 Comentários

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  1. Avacalharam de vez até o conceito falacioso de meritocracia. Para a justiça de convicção, só mesmo a meritocracia de indicação. É a justiça cartorial, mostrando que se esperam mudanças a partir dali, é dali que não sairão mudanças.

  2. O mais interessante dessa historia é que a tchurma de Curitiba achou que ia “galgar” a escada do poder sem tomar, alguma hora com vazajato ou não, um épico “pé na bunda”…….acharam, talvez, que o marreco ia virar presidente e eles os “reis da cocada preta”…….e o resto da elite do poder ia ficar sentada e batendo palma…..com risco de ser investigada por vai saber o que, a qualquer dia e qualquer hora….com o rabo preso com eles…..imaginaram esse cenário de verdade, pra valer? Mais bobinhos, impossível…crianças mimadas….eu, se fosse da lavajato, pediria transferência para, digamos, Acre, Roraima,Tocantins no melhor dos casos….uns 5 anos pelo menos……..para sair do radar pois deve ter um tanto de politico com sede de sangue de procurador da lavajato….

    1. O Tocantins não é nenhum fim de mundo não. Estamos no meio do país. Vir para O Tocantins não é castigo pra ninguém. Palmas a nossa capital é uma cidade planejada, linda é otima pra se viver.

    2. Vir para o Tocantins não é castigo pra ninguém. Aqui não é o fim do mundo. Palmas nossa capital é uma cidade linda ectemos qualidade de vida. Fica a dica.

      1. Ir para Roraima, por exemplo, é castigo para alguém?

        Passei em Tocantins debaixo de uma ressaca tão grande que achei que ia morrer numa loja de conveniência de manhã cedo.

  3. Mas se prenderam os hackers que vazam ao Intecept, como é que essa informação veio a público? Algo me diz que os tais hackers de araraquara nunca foram os hackers verdadeiros. Como sempre a globo veio salvar o moro e a sua turma naquela época fazendo com que os crimes destes calhordas de curitiba fosse relevados pelos “crimes” dos hackers. Quando a putaria do dd pra colocar um amigo no lugar do marreco, isso só é novidade pra quem ainda acredita que exista decência na turma da lava jato. Um exemplo acabado de juízes lavajatense são os quatro do trf4 .O que que é aquilo gente?

  4. Quando o Bonat foi designado, o Nassif, publicou um artigo dizendo que ele não era alinhado aos criminosos de Curitiba e pediu um voto de confiança

    Considero o Nassif, junto com o Bob Fernandes e o Mauro Santayna os 3 melhores jornalistas brasileiros, mas o espirito conciliador em excesso o prejudica.

    Nem parece mineiro desconfiado.

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