A situação escandalosa dos professores do Estado de São Paulo, por Silvio Prado

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Do professor Silvio Prado

Por que os professores não se revoltam?

Os salários são ofensivos e desrespeitosos. As condições de trabalho são incrivelmente estafantes e detonam o professor já no primeiro semestre. No segundo semestre, o professor busca ânimo em alguma força desconhecida para ver se chega inteiro até dezembro. Ufa, que luta insana!

Sobre a violência que circunda a maioria das escolas estaduais paulistas e explode inclusive dentro da sala de aula, ela é tão escandalosa e rotineira que a imprensa, mesmo sendo tucana e financiada por verbas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), não consegue escondê-la como gostaria o governador Geraldo Alckmin.

Difícil a escola que não tenha professor ou funcionário agredidos fisicamente, pois agressão moral e verbal professores e funcionários sofrem todo o dia. Devido a esse massacre moral, não é por acaso que em São Paulo um número elevado de professores vivem largados à depressão, sem cuidado algum do estado, responsável direto pelo acréscimo desmedido de profissionais doentes.

No riquíssimo estado paulista (204 bilhões de reais é o orçamento de 2015), o caos toma conta do setor mais importante para o desenvolvimento social e econômico do país, a educação.

Nela, encontramos professor com mais de duas décadas de ensino tendo um mínimo de aulas e sob salário miserável, deteriorando suas condições materiais de vida e zerando seu ânimo para trabalhar em sala de aula.

Milhares de outros professores estão na humilhante categoria O, chantageados (e sacaneados) moral e profissionalmente pela politica irresponsável de um governo que em vinte anos mexeu e remexeu na educação e a ela nada acrescentou de positivo.

Aqui na região de Taubaté, Vale do Paraíba, encontramos professores trabalhando em até 4 escolas, recheados de aulas picadas, horários que se chocam, gastos escandalosos com combustível , alimentação, saúde sendo destruída.Alguns outros amargam, da residência ao local de trabalho, entre ida e volta, até 160 quilómetros de distância e ainda são castigados com o pagamento de pedágios, como acontece com quem sai de Taubaté para lecionar no bairro do Cedro, na distante cidade de Paraibuna.

Dentro do quadro macabro desenhado por Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin encontramos o drama do funcionário adoecido e que não recebe do estado sequer uma aspirina como socorro imediato. Da rotina do professor doente podemos extrair histórias dignas de Kafka. Professores de educação física, com artrose comprovada por laudo médico, obrigados a dar aula como se estivessem em condições físicas ideais. Outros professores doentes, devido ao desmonte do sistema de perícias médicas, viajam 1400 km para serem periciados. Sabe-se de professores comprovadamente destruídos física e moralmente que, depois de gastar o que não tinham nas mãos de médicos particulares, ou de sofrer humilhações permanentes nas filas do IAMSP, mesmo não curados se viram obrigados a voltar para a sala de aula.

Num outro quadro de sofrimento e descaso, São Paulo tem hoje de cinco a dez mil professores com direito a aposentadoria humilhados numa espécie de fila indiana que não se sabe onde começa e nem termina. E a aposentadoria tão sonhada nunca chega para, finalmente, livra-lo do campo minado da escola pública, algo, antes que os tucanos transformassem num pesadelo, era para o magistério um sonho tão bonito.O clima da educação de São Paulo vive marcado pela insegurança, caos administrativo, mão dura implacável do secretário da educação e do governador, queda na qualidade de ensino, escola divorciada dos interesses estratégicos da sociedade, assédio moral adotado como prática administrativa dos negócios do ensino.Tudo isso tem consequências graves, como produção massiva de analfabetos funcionais, um nivelamento cultural primário e o despreparo intelectual e politico da juventude paulista, hoje refém das perniciosas ideias neoliberais assumidas por um Estado que foge de seu papel social transformador e se adequa aos interesses que não são os da população.

Vejam que aqui nem foi tocada na questão da tal FDE, cofre de 3,5 bilhões de reais arrombados faz tempo por inúmeras gangs de engravatados ligadas ao mundo de negociatas tucanas.Compras superfaturadas,reformas de prédios escolares com preços estratosféricos, destruição criminosa de material didático, assinaturas de jornais e revistas (sem o processo de licitação), que dão amparo ideológico ao PSDB e blindam o governo na grande mídia.

Todos esses e mais outros fatos receberam a confirmação do Ministério Público, por investigações de deputados na Assembleia Legislativa e pela imprensa que não tem o bolso preso com os tucanos. Só em Taubaté, o Ministério Público confirmou que o PSDB arrancou 1,7 milhões de reais para financiar a eleição de Ortiz Jr, filho de Bernardo Ortiz, amigo pessoal de Geraldo Alckmin, que até 2013 tinha a chave dos cofres daquela fundação, criada para financiar a educação, mas que…

Olhando de perto a educação de São Paulo não é possível entender porque a grande mídia hoje tem centrado fogo apenas na questão da Petrobras. Se há crimes e estão ocultos naquela poderosa e estratégica estatal, em São Paulo os crimes cometidos contra a educação estão visíveis há 20 anos e não se vê na imprensa denúncias que mostrem a tragédia da escola pública paulista, afetando negativamente 250 mil professores, outros milhares de funcionários, quase cinco milhões de alunos e toda uma população de 40 milhões de habitantes impactados pelo crescimento da violência e criminalidade entre os jovens, fato que pode ser computado ao descaso do governador com a formação da juventude, impossível de ser realizada com uma escola pública intencionalmente funcionando sob frangalhos.

Fala-se tanto em impeachment da presidente Dilma. E o impeachment do médico anestesista (e anestesista social) Geraldo Alckmin, quando é que a grande mídia vai tocar no assunto? Nunca. Afinal fica muito chato investigar os podres de quem lhe enche os cofres e, com tanto dinheiro, coloca um pouco de gás nessa mafiosa organização jornalística que perde a cada dia terreno para a Internet.

Para encerrar, diante de quadro tão desfavorável é sempre bom perguntar: por que as 4500 escolas e os duzentos e cinquenta mil professores paulistas não se revoltam contra tantos desmandos de um governo autoritário, destrutivo e irresponsável?

Silvio Prado

Professor da rede Estadual de Ensino

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

42 Comentários

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  1. umas verdades,….

     

     

    Se o seu filho estuda em escola pública no estado de São Paulo e, ainda assim, você vota nos tucanos,….. você é um traidor ! … um Judas ! …. você está traindo o seu filho e subtraindo as chances de ele ter um futuro melhor . Você não é digno de zelar pelo futuro do seu filho !

    1. Também não é por aí

      Quem votou no Geraldão e tem seus filhos em escola pública pode ser rotulado como burro, ignorante, alienado… mas traidor é meio demais…

    2. Xará, permita-me discordar

      Xará, permita-me discordar num ponto apenas. Quando você diz que “você não é digno de zelar pelo futuro do seu filho!”, deveria dizer: “você não é digno de ser pai, seu irresponsável!”.

      Quanto a Judas, há controvérsias. O apóstolo tinha a missão prédefinida de entregar o Mestre, tanto que os espíritas dizem que o próprio Jesus foi receber o espírito de Judas para aliviá-lo. 

      Agora, cá prá nós, se o cara vota ainda nos tucanos, deve ser alimentado a capim.

      Abraços.

  2. Eles se revoltam sim. Vão às

    Eles se revoltam sim. Vão às redes sociais e comentários de portais da internet esculhambar o Lula. E vão as ruas pedir impeachment da Dilma. Afinal, eles sabem que o PT é culpado de tudo, até dos problemas nas escolas estaduais.

    1. Verdade!

      Falou tudo, algumas pessoas que pensam ser politizadas,  o que eu chamo de cultura de facebook,  não sabem nem que estão reclamando do governo Estadual

  3. Uma incógnita, Sr Sílvio!

    Há um ano, tento entender a passividade do povo paulista em relação ao problema hídrico. E agora lendo atentamente seu artigo, mais intrigada  fiquei. Afinal de contas há a necessidade de uma explicação de um bom psicólogo. Estaria a maioria dos paulistas doente? Ou é fato que a lavagem cerebral da mídia funciona? Uma incógnita…

    1. Resposta:

      Se me permites, penso que a resposta está no seguinte: a grande maioria da população paulista (estado mais rico da federação) é de classe média e média alta, e, como se sabe, a classe mérdia pensa e sente o que a mírdia quer que ela pense e sinta. É a legião de zumbis da Globo, Band, SBT, Veja Istoé e outros lixos afins…

  4. Educação precária sempre foi o ideal

    de qualquer governante medíocre e/ou a serviço do interesse de alguns. Uma população ignorante é muito mais fácil de ser manipulada e aceita facilmente tudo que lhe é dito. Imagina se todos soubessem que, mesmo nessa baita crise hídrica, que não foi causada por são pedro do pt, os acionistas da sabesp continuam enchendo os bolsos de dinheiro, aliás, as ações até subiram quando o governador afirmou que iria cobrar multa daqueles que não reduzissem seus consumos. Só uma população muito ignorante aceita calada reduzir seu consumo e pagar mais por isso enquanto os shoppings centers gastões e os acionistas são poupados. Acionistas de um mercado especulativo com risco zero! Da mesma maneira, só uma população que não tem ideia do que foi a ditadura militar pode pedir sua volta.

  5. Se voce trabalha em escola

    Se voce trabalha em escola pública no estado de São Paulo e ainda assim vota nos tucanos…. você é um COXINHA. Você esta condizente com o salario que ganha, salario de COXINHA.

  6. Quando fui votar na última

    Quando fui votar na última eleição, o prédio da escola estava totalmente deteriorado, pior do que na eleição anterior. E os eleitores podiam ver isso in loco, mas mesmo assim deram 60% de votos pra este infeliz que nos governa. Então pau no c…

  7. O antipetismo explica tudo.

    Fui professor da rede pública paulista de 1985 a 2004 e cansei de ver colegas que reclamavam de tudo isso… mas sempre votavam no Psdb.

  8. Saúde .

    E a saúde na mesma trilha da educação. Os numerosos casos de Dengue quase nem aparecem na mídia, tanto de SP, quanto de MG. Mas quando eram no Rio, a imprensa martelava dia e noite. Agora preferem divulgar os dados por região, para tirarem o Alckmin da reta. A Educação e a Saúde foram abandonadas nos governos da Tchurma neoliberal, assim como seus funcionários ativos e aposentados. Eu que o diga!

  9. E a Agricultura???

    Segue o Link com o vídeo sobre a condição da CATi, vou colar aqui a parte de texto:

    http://www.canalrural.com.br/noticias/rural-noticias/producao-sementes-engolida-pelo-mato-sao-paulo-55134

    Abandono, descaso, anos de pesquisas perdidas. A Fazenda Ataliba Leonel, em Mandurí, cerca de 300 quilômetros da capital de São Paulo, talvez seja ela o exemplo mais claro do abandono que tomou conta da extensão rural no estado.

     

     

  10. Meu deus,como “olhando de

    Meu deus,

    como “olhando de perto a educação de São Paulo não é possível entender porque a grande mídia hoje tem centrado fogo apenas na questão da Petrobras”?!

    É exatamente para camuflar, dissimular essas e outras como a falta d’água, por exemplo, ora, ora!

    Como é possível, meu deus, não enxergar que estão apostando TUDO, TUDO na deposição de um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores?!

    É mais que óbvio que querem transformar mais uma vez um governo trabalhista em “bode expiatório” de tudo de mal que acontece na política, na economia e na sociedade, ora, ora!

    É por isso que no tucanistão não há “alternância de poder”: a maioria é composta de boçais e tolos.

  11. Desse câncer Minas se livrou!

    Demorou por aqui também, mas os mineiros conseguiram extirpar esse câncer tucano. E hoje estão tomando conhecimento da situação real do Estado. Só lamento que quando os paulistas resolverem sair do estado de alienação que se encontram, possam não encontrar mais um Estado para viver, os tucanos são capazes de vender até o espaço aéreo.

  12. Gente, o fracasso de São

    Gente, o fracasso de São Paulo faz o sucesso dos demais estados. Por isso, eu torço para os tucanos continuarem a governar aquele estado. Em mais 20 anos, neste rítmo, SP estará bem menor economicamente. Esta talvez seja a maior obra tucana em favor do Brasil.

  13. Demissão em massa. A única saída.

    Isso mesmo. Todos os professores brasileiros que estiverem nessas condições, principalmente nos estados dito ricos, deveriam pedir demissão. Ao mesmo tempo. Entregar uma carta simbólica ao governador do pedido de demissão coletivo. 

    E procurem outro trabalho. Mas eles, professores, estariam fazendo um imenso, incalculável benefício ao nosso pais. 

    Imaginem as consequências disso no pais e mundo afora. 

    É terrível se ter que chegar a uma saída dessas. Alguém tem outra ideia?

     

     

     

    1. Demissão

      Boa noite! Isso é tudo que esse governador deseja, pois, no dia seguinte após as demissões ele chamaria em cadastro emergencial, alunos de primeiro ano de faculdade (nada contra) e pagaria as míseras aulas eventuais a eles , e quando os mesmos questionassem ele deixaria em duzentena ,para não ter perigo de criar vínculo empregatício e densevolver o senso crítico. Falo isso com propriedade, pois , é o que ele já esta fazendo para inibir a greve.

  14. fala se tanto em defesa do

    fala se tanto em defesa do Brasil,  isso é mais aquilo, mas eu gostaria de saber o seguinte, professores no Paraná em greve. Governo psdb. O texto fala de professores de sp abandonados. Governo psdb.

    é uma questão de ser governo tucano ou a área de educação é ruim não importa o governo? Pergunto porque não me parece crivel que a situação no Maranhão,  na Bahia,  no Amazonas,  Goiás,  etc seja melhor ou é pior?

    Paraná pelo que vi até agora tinha salários atrasados. SP pelo texto se reclama de salário baixo e outras situações e qual é a situação em outros estados?

    Seria interessante se o espaço do nassif pudesse levantar essa questão,  salário,  qualidade do ensino,  estrutura, da rede estadual de cada estado.

    Isso me parece poderia dar base para se falar em responsabilidade tucana, ou se é algo comum aos demais estados , o que eliminaria a questão partidária.

    De um lado a crítica fica mais consistente e de outro discute se ou se pode discutir soluções se a situação independente de partido no poder.

    óbvio,  se postagens servem tão somente para se fazer um bastião da situação contra a malvada oposição, então deixa pra lá, mas acho o tema muito importante para se limitar a esse flaxflu partidário.

  15. JUNTOS SOMOS FORTES

    Parabéns ao valente professor pela coragem e combatividade. São estas as qualidades que faltam a grande parte dos que percebem e repudiam os descalabros denunciados, mas permanecem inertes, por temerem confrontar os poderosos. É preciso seguir este edificante exemplo do intrépido professor, para romper o silêncio e articular o resgate da cidadania e da decência no sistema de ensino. Inclusive pelo fato de que a tragédia da educação tem objetivos políticos altamente danosos, com resultados gravíssimos e muito evidentes, conforme destaca o trecho do excelente artigo em tela a seguir transcrito: “produção massiva de analfabetos funcionais, um nivelamento cultural primário e o despreparo intelectual e político da juventude paulista, hoje refém das perniciosas ideias neoliberais”. É mais que tempo de unirmos as nossas forças para promover o avanço redentor da consciência coletiva. E o caminho para um futuro menos tenebroso passa pela divulgação e julgamento dos inúmeros crimes de responsabilidade cometidos por políticos como Geraldo Alckimin, Beto Richa, Ivo Sartori, etc.

  16. Dou aulas no Estado desde

    Dou aulas no Estado desde 2006 e fiz greve apenas uma vez. Trabalhava em duas escolas e em uma delas a adesão foi grande na primeira semana, mas percebendo que a greve não ia dar em nada, vários desistiram e voltaram pra sala de aula. Na outra escola, me senti desamparada: apenas eu e mais três professores pararam, em um universo de mais de 60. E depois de duas semanas, a maioria só decidiu entrar após não receberem o madito bônus, totalmente alheios às reivindicações da greve. Essa greve realmente não resultou em nada e fiquei inúmeros sábados trabalhando para compensar o período parado. 

    O grupo de professores de SP é muito desunido (parte da culpa é sua divisão  em inúmeras categorias), o sindicato é fraco e, por isso, não tenho ânimo para entrar numa luta dessas. Sei que não deveria pensar assim, mas o desânimo da greve que participei me contaminou. 

  17. FAÇAM GREVE COMO NO PARANÁ

      Aqui o “pau ta comendo” pro lado do tucanalha beto richa. Ele tá acuado e os professores estão unidos. CADÊ O SINDICADO DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO???

  18. lamentavel

    pois existe muitos professores q depoem contra o colega na escola, aceitam e fazem panela com diewcao hipocrita e mediocre, agora estao tomando do proprio veneno.

     

  19. educação sucateada

    a educação esta sucateada salas super lotadas  aluno agredindo professor  aluno q passa sem saber promoção automatica professores mal fotrmados e ainda vai piorar com o novo projeto do governo pro ensino medio

  20. OS PROFESSORE SE REVOLTARAM

    Fomos pras ruas e denunciamos, 90 dias em greve, cortaram nossos salários e voltamos pior do que quando entramos, será que a sociedade viu alguma coisa? Será que a categoria inteira se engajou nesta luta, será que a categoria se reconhece enquanto classe? Professores despolitizados dão forças a manutenção do sistema tal qual ele se encontra, ainda que não perceba, mídia deturpa e esconde nossos problemas, estado neoliberal, escola precária é só sinonimo.

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