Em nome das universidades aviltadas pela violência, por Cilene Victor

Em nome das universidades aviltadas pela violência

por Cilene Victor

Fui ameaçada de morte no início de 2014 e tive o meu Facebook bloqueado, depois de uma enxurrada de mensagens agressivas, muitas delas sugerindo que eu fosse vítima de violência sexual e que levasse um tiro na cara. 

Eu não havia me desentendido com nenhum político fascista, apenas tinha feito um questionamento público a respeito da ausência das autoridades que se calavam diante do discurso de uma jornalista que havia defendido publicamente o fim do Estado Democrático de Direito e legitimado a atitude dos que amarraram um adolescente negro em um poste no RJ. Tudo isso numa bancada de telejornal. 

Entrei em contato com as entidades de classe e elas diziam que não podiam fazer nada, apenas lamentavam o que eu estava passando. Eu? Não, o que o Brasil estava passando! Um advogado especializado em crime de internet, voluntariamente, se ofereceu para me defender, mas à época, com minha mãe em estado terminal, preferi acompanhar sua passagem. 

Foi o deputado federal Ivan Valente do PSOL que acionou o Ministério Público contra a jornalista e a emissora. 

O resultado foi um puxão de orelha. Ela foi calada pelo chefe da emissora, uma vez que sua TV poderia perder verbas publicitárias do governo federal. 

Acharam que era pouco propagar o fim do Estado Democrático de Direito e fazer apologia à tortura. Essa omissão, quatro anos e meio mais tarde, gerou uma conta bem alta. 

Ao longo do tempo, parece que essas pessoas foram colocadas dentro de uma incubadora e se multiplicaram assustadoramente. 

Elas se acham mais fortes, inclusive mais fortes do que todas as instituições democráticas. 

Essa tragédia, como já escrevi inúmeras vezes, não foi súbita. Seu alicerce começou lá atrás e fez muitas vítimas. Ficaria aqui listando os casos de justiça com as próprias mãos depois do episódio do garoto no RJ. 

Hoje, ao ler as reportagens sobre as ações das polícias e da Justiça Eleitoral em várias universidades públicas do país só posso dizer esses caras, ganhando ou perdendo, já cravaram seu nome na história. Eles são os responsáveis pelo clima de guerra civil que se instaurou no país e que ainda vai derramar muito sangue. 

Leiam, não deixem de ler Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt. É fabuloso como a obra soa como uma cartografia do que estamos vivendo aqui. 

Se estiverem sem tempo, vou fazer um desenho para uma criança de 4 anos. Só se consegue entender os atos e o comportamento do soldadinho e do cabinho, quando entendemos quem somos e quem escolhemos ser nesse processo todo. 

Minha solidariedade aos professores, pesquisadores e alunos que foram interrompidos e afrontados pela insanidade. 

Bolsonaro, vamos te derrotar nas urnas. Nas ruas, no Congresso, no mundo. Vamos lutar para que todas as portas sejam fechadas pra você e seus capangas. 

E vamos fazer isso sem recorrer à violência – essa prática fascista deixamos para quem nunca deveria ter saído de um bueiro.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Cilene envio um abraço
    Cilene envio um abraço fraterno de uma mulher que sabe o que os autoritários fascistas são capazes. Resistir e lutar sempre contra o ódio, a violência e a opressão.

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