Especialistas discutem políticas voltadas à qualidade da educação

Muito se fala que o Brasil precisa de mais qualidade na educação. Mas quais são os avanços necessários na política para atingi-la? Para participar desse debate, especialistas em educação estiveram reunidos nesta quinta-feira (24/10) no Seminário de Política Educacional, organizado pelo Instituto Ayrton Senna.

A importância da gestão governamental na garantia do direito à educação e desenvolvimento social foi o tema da primeira roda de debates, mediada pelo professor da Universidade de Brasília (UNB), Mozart Ramos, com a participação do secretário municipal de educação de São Paulo, César Callegari, o conselheiro de educação básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), Francisco Cordão, e o promotor de justiça, Luiz Miguel.

Para o secretário da cidade de SP, por mais que as instâncias governamentais tenham papel essencial nas mudanças do setor, é preciso que haja compreensão das dinâmicas sociais na construção de políticas públicas voltadas à educação.”Não há possibilidade de se fazer avanços efetivos na área da educação se não ondularmos junto às energias sociais, principalmente a família. Se não compreendermos esse “ondular”, podemos ter bons instrumentos de governança, de controle, construir um currículo da melhor maneira, mas isso não é suficiente”.

O secretário aponta que a população não aceita mais apenas vagas aos seus filhos, mas exige uma escola que atenda às necessidades da sociedade atual. “A energia fundamental das transformações vem da sociedade. Precisamos de elos sólidos que requer cada vez mais educação com qualidade”, fundamentou.

O promotor de justiça Luiz Miguel concorda e aponta que a escola precisa compreender também as novas estruturas familiares. “Precisamos trazer a família [para a escola], mas a família mudou também. A família da nossa época era patriarcal, hoje a família é horizontal, e você tem vários modelos de famílias e é essa família que tá nessa escola”.

Para Callegari, a alfabetização é a pedra angular do processo de aprendizagem. “Foi muito difícil e ainda é difícil estabelecer metas tão simples como essa – de ter todas as crianças alfabetizadas –, mas  isso é um direito inalienável.  A educação é algo de natureza cumulativa e sem pressupostos não é possível avançar”, comentou o secretário, que enxerga a alfabetização como alicerce para o aprendizado de outras disciplinas.

Progressão continuada x Aprovação automática

Tema bastante polêmico entre educadores, a discussão sobre avaliação dos estudantes também aparece na fala dos especialistas como um dos pressupostos para a qualidade da educação.

Callegari afirma que a chamada “aprovação automática” é uma medida antieducacional e defende a avaliação bimestral como elemento que pode tornar uma rede educacional mais ativa, referindo-se ao novo sistema de educação da cidade de São Paulo, que será implementado em 2014, prevendo que haja reprovação de estudantes em cinco períodos, sendo eles o 3º, 6º, 7º, 8º e 9º anos. Atualmente, os estudantes podem repetir de ano no 5º e 9º anos.

Já para Francisco Cordão, a avaliação punitiva é uma herança colonial burocrática do Brasil. Segundo ele, durante os anos foi possível garantir acesso à escola a todos, mas a equidade e a qualidade ainda são grandes desafios. A avaliação diz respeito à uma cultura de reprovação. “O Objetivo da avaliação não deveria ser reprovar e ser o substitutivo da antiga palmatória. Ela deve mostrar o que o que aprendeu e o que precisa ser aprendido. A culpa sempre é do outro, nunca nossa”, afirma o professor, que acredita que as formas de avaliar devem verificar o que foi aprendido e o que ainda falta aprender.

O professor também aponta que a progressão continuada pode ser um caminho para a valorização do ensino, não o contrário. Porém, exige-se que haja uma avaliação que se dê também de maneira continuada. “É muito mais fácil dizer que progressão significa promoção automática. Jamais a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) propôs dessa maneira. A progressão exige avaliação, não apenas bimensal, semanal, aquela recuperação de fim de ano não faz sentido, mas sim a recuperação contínua”, explica.

Formação Inicial e Continuada

Mozart Ramos diz que é preciso investir na formação dos profissionais de educação e também nas universidades para magistério.  Para ele, os problemas da educação só podem ser solucionados com incentivo à carreira docente direcionada à juventude. “Sem bons professores, pode botar sala que pode se alterar, a sala do século XXI, ao mesmo tempo, ao receber o professor de hoje poucos querem seguir a carreira do magistério”.

Para o Cordão, não basta apenas realizar formação continuada aos professores, é preciso pensar a realidade pedagógica que ele vive. “Vai melhorar o trabalho escolar se aquele programa de formação continuada estiver vinculado às propostas pedagógicas dos estabelecimentos de ensino”, aponta.

Para que os estudantes do magistérios estejam o mais próximo possível da realidade das escolas, Cordão indica que esses futuros professores façam estágio em escolas públicas, preferencialmente nas das periferias, onde o estudante poderá sentir mais de perto os desafios exigidos pela profissão. “Escuta-se que precisa mais de escolas de aplicação. Escola de aplicação é escola pública de periferia. E os professores têm orientar seus alunos a irem para lá”.

Redação

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