Gaspari: como analisar a gestão Haddad no MEC em dois parágrafos

Se Gaspari souber de outro Ministro da Educação com um trabalho tão abrangente, que mostre

Elio Gaspari é um malabarista da retórica. Ao longo de sua prolífica carreira, foi capaz de feitos inacreditáveis, como transformar João Baptista Figueiredo em intelectual, Golbery do Couto e Silva em democrata e Ernesto Geisel em chacinador.

Agora, decidiu investir contra Fernando Haddad, não contra o MInistro da Fazenda de Lula 3, mas contra o Ministro da Educação de Lula 2 (https://tinyl.io/A3rP).

“Depois, vangloriou-se:

“Eu fui criticado no MEC, mas virei o melhor ministro da Educação da história do país, depois que deixei o MEC. Melhor prefeito da história de São Paulo, depois que deixei a prefeitura. Tomara que aconteça a mesma coisa agora.”

Tomara que não aconteça, porque, noves fora ele mesmo, são poucos os que acham que foi um bom ministro da Educação. Quanto ao seu desempenho na prefeitura de São Paulo, disputou a reeleição em 2016 e viu-se dispensado no primeiro turno.”

Elogio em boca própria pode parecer arrogância. Mas o que dizer, então, de julgamentos definitivos em dois parágrafos, sem um pingo de análise, sem uma demonstração sequer de conhecimento sobre o personagem analisado?

Não peça a Gaspari análises aprofundadas sobre a gestão Haddad. Élio veio para lacrar, não para perder tempo em aprofundar os temas e produzir análises mais complexas. Análises complexas atrapalham frases taxativas.

Pode-se criticar o Ministro da Fazenda Fernando Haddad. Desmerecer o trabalho do Ministro da Educação é um ensaio tão improvável quanto o de classificar Costa Cavalcanti – o homem de Itaipú – de honesto, como faz reiteradamente Gaspari, mesmo com a constatação de que o diplomata José Jobim foi assassinado após se saber que pretendia denunciar a corrupção na construção da hidrelétrica.

Vamos a alguns feitos de Haddad, enquanto Ministro da Educação.

Fies

Em outro artigo, Elio atribuiu a Haddad a explosão de financiamentos do FIES (Fundo de Investimento na Educação Superior). Haddad foi Ministro até 2012. A explosão de bolsas ocorrreu nos dois anos seguintes, quando a falta de critérios permitia a qualquer instituição inscrever alunos, mesmo que incapacitados para o ensino superior.

Haspari poderia consultar os estudos do IPEA sobre o impacto do FIES na vida dos alunos (https://tinyl.io/A3rk). 

“Entre aqueles que usaram o Fies, a variação real da renda total é de 174,2%, passando de R$ 605,00, em 2003, para R$ 1.659,07, em 2013 (a preços de 2003). Entre os trabalhadores que não usaram o Fies, a variação é de 75,7%, passando de R$ 932,00 para R$ 1.637,69, (a preços de 2003).”

Institutos Federais

Entre 2005 e 2012, o MInistério da Educação, sob Haddad, criou institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Os IEs estão distribuídos por todas as regiões do país, com cursos nas áreas de educação, tecnologia, saúde, administração, ciências sociais, engenharia, entre outras.

Esses institutos foram criados por meio da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que instituiu o Sistema Federal de Educação Profissional e Tecnológica (SisFEPT).

De 140 IFs em funcionamento no início dos anos 2000, o número saltou para 644 em 2016. Hoje, os IFs estão presentes em mais de 10% dos municípios brasileiros, incluindo muitos municípios de pequeno porte e localizados em regiões remotas.

De acordo com uma avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a expansão dos IFs teve um impacto significativo na economia dos municípios brasileiros. No período de 2004 a 2016, os municípios com IFs apresentaram um crescimento médio do PIB per capita superior aos municípios sem IFs. Além disso, os municípios com IFs também apresentaram uma redução da desigualdade de renda.

Universidades federais

Entre 2005 e 2012, o MEC criou 18 universidades federais, por meio da Lei nº 11.523, de 11 de setembro de 2007.

A economista Tânia Bacelar, maior especialista em nordeste, atribui às novas universidades papel mais relevante que o próprio aumento do Bolsa Família e do salário mínimo para o desenvolvimento do Nordeste. Gaspari poderá consultar aqui: https://tinyl.io/A3rx

“A presença desses campi em cidades médias não somente tem um impacto imediato e significativo na vida cultural, mas também dinamiza o comércio e os serviços locais. Por sua vez, o Programa Universidade para Todos (Prouni) permitiu o acesso de jovens oriundos das camadas populares à universidade, pela via do ensino privado (patrocinado com renúncia fiscal do governo federal). O fato é que, considerando o ensino público e o privado, os dados sobre população com ensino superior concluído melhoraram muito no Brasil da primeira década do século XXI. O Censo Demográfico de 2000 e o de 2010 mostram que o número de pessoas com ensino superior completo mais que dobrou, passando de 5,9 milhões para 13,5 milhões de pessoas. E Nordeste, Centro-Oeste e Norte foram as regiões que experimentaram maior incremento, tanto que ganham participação no total nacional (de 14,1% para 16,2%, de 7,1% para 8,6% e de 3% para 4,7%, respectivamente). Várias cidades médias do Nordeste se beneficiaram com tal presença, e seus frutos ainda vão ser colhidos nos próximos anos”.

Fundeb

A educação básica é de responsabilidade de estados e municípios. O governo federal sempre esteve ausente das responsabilidades em relação ao setor. O primeiro ato de apoio foi a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), destinado a apoiar a melhopria da qualidade no ensino básico. Data da criação: 2006.

Em 2006, quando o Fundeb foi criado, a taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 a 64 anos era de 8,7%. Em 2020, essa taxa caiu para 6,4%.

Educação inclusiva

Bastaram algumas conversas com especialistas em educação inclusiva, para Haddad montar o maior programa de inclusão de deficientes do mundo.

Atualmente, o programa está em funcionamento em 162 municípios-polo. Em parceria com o Ministério da Educação, esses municípios oferecem cursos, com duração de 40 horas, em que são formados os chamados multiplicadores. Após a formação recebida, eles se tornam aptos a formar outros gestores e educadores.

De 2003 a 2007, a formação atendeu 94.695 profissionais da educação com a participação de 5.564 municípios.  Em 2014, em 5.553 municípios das cinco regiões do país, 648.921 alunos com deficiência – visual, auditiva, física ou transtornos globais do desenvolvimento – estudavam em classes comuns da educação básica.

Poderia continuar por aí. Mas o que importa é analisar como todos esses temas couberam em dois parágrafos de Elio Gaspari. Cada tema desse comportaria críticas, também, pontos que poderiam ser melhorados, aprimorados. Mas isso exigiria estudos e análises que não caberiam em dois parágrafos.

Se Gaspari souber de outro Ministro da Educação com um trabalho tão abrangente, que mostre. Poderia citar Gama e Silva (Ministro de 1964-1965), Flávio Suplicy de Lacerda (1065-1967), Tarso Dutra, Jarbas Passarinho, Ney Braga. Que tal?

Luis Nassif

8 Comentários

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    1. E passava pertinho da mina casa também, em Pinheiros. Dali dei vários rolês pela cidade inteira e vi um montão de outros bons projetos que a prefeitura implementava na época.

      1. Na zona leste também, as ciclovias passam por claçadas, desviam de postes, e deveriam ter semaforos em TODOS OS PORTÕES das casas, pois enganaram todo mundo e lavaram muito dinheiro. Principalmente na região de Itaquera. Algumas levam do nada a lugar nenhum.

  1. Com todo o respeito quem e Elio Gadpari? Parece muito com o Bial cujo maior mérito jornalistico foi escrever a biografia do Roberto Marinho seu patrão e dono da Globo. Gaspari e mais uma das canetas de aluguel que abundam e prejudicam o “jornalismo ” da nossa epoca.

    1. Tal reconhecimento do trabalho de Haddad no MEC, nos norteia a uma opinião vazi e de um verdadeiro amigo e admirador.
      O Mandato do MINISTRO DA EDUCAÇÂO Fernando Haddad foi marcado pelo MAIOR escândalo de desvio de dinheiro Público por meio do FIES, atuando junto com a instituição Privada UNIESP. O GOLPE BILIONÁRIO, lesando milhares de familias e consequêntemento toda nação brasileira ficou conhecida como UNIESP PAGA. Basta uma simples consulta por esse nome na internet ” FRAUDE UNIESP PAGA” , para verificar a veracidade dessa postagem. Isso sem contar, as milhares de ações judiciais em todo país. Mas pouco e em breve este novo escândalo vai soar pelo pais, isso se a mídia deixar é claro. O PAI da FRAUDE ” Haddad ” deixou seus filhos administrarem o golpe. Provas é o que não faltam.

      1. Dá até preguiça de ficar debatendo com gente mal intencionada, mas esse senhor acima, que coloca o Haddad no mesmo saco dos que engendraram o golpe do “UNIESP PAGA”, mostra que a liberdade de expressäo na mäo de ignorantes ou mal intencionados é uma arma que pode fazer estrago considerável. Fui pesquisar sobre este caso e é muito fácil de constatar que esse golpe foi feito na ponta, por quem näo tem nada a ver com a implementaçäo do FIES, mas que dele se beneficiou através dos próprios alunos que, de boa fé, aceitaram as regras e os benefícios propostos pelo programa particular “UNIESP PAGA”, que, na verdade, era uma pirâmidade financeira. Assim que o MP-SP começou a tomar conhecimento dos problemas envolvidos, iniciou-se a investigaçäo. É só ver o processo em https://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/docs/uniesp-paga-peticao. Pelo comentário acima, esse senhor deve ser um grande propagador de fakenews.

  2. Definitivamente, o Gaspari já não engana mais ninguém com sua prodigiosa estultice intelectual. Deveria ter a delicadeza de atacar, ouvindo o outro lado civilizadamente. Diria que é um milico sem traquejo. Mas, como dono da verdade se acha no direito de usar espaços da mídia corporativa em estado comatoso para suas pérolas. Quem busca outros autores sobre o período ditatorial do milicos sem norte, fica impressionado com as tolices que esse senhor escreveu e gaba-se em definitivo. Tenha dó!

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