A estratégia de Fernando Pimentel em Minas Gerais, por Luis Nassif

Mais importante eleição depois da presidencial – porque ali se disputa a sobrevivência do PSDB, como partido nacional, e do PT, caso seja derrotado na eleição federal – o jogo em Minas Gerais está assim.

O governador Fernando Pimentel (PT) enfrentou uma borrasca fiscal. Em parte, pela crise; mas, fundamentalmente, pelo estrago nas contas mineiras deixadas por seu antecessor Antônio Anastasia.

Na primeira parte da campanha, para o primeiro turno, a estratégia de Pimentel foi bater na imagem de bom gestor de Anastasia e de ligá-lo ao seu padrinho político Aécio Neves. Aparentemente, está conseguindo explorar bem as contradições de Anastasia.

Há um dolo fundamental em sua atuação política – além do padrinho Aécio. Sendo um dos personagens principais do impeachment de Dilma Rousseff – como relator no Senado do julgamento das pedaladas – Anastasia cometeu ilícitos fiscais muito mais facilmente enquadramos na categoria de crime, pela Lei Fiscal, do que as irregularidades administrativas de Dilma. Coube a ele extinguir o fundo previdenciário – montado por Itamar Franco para garantir o sistema de capitalização na aposentadoria dos novos funcionários públicos -, apropriando-se de R$ 3,5 bilhões da reserva matemática acumulada.

Em sua campanha, Pimentel expõe esses episódios e mostra-se vítima da perseguição do governo Michel Temer, além do calote da União em cima das restituições de ICMS devidas pela Lei Kandir.

Não basta para ganhar as eleições. O eleitor pode ficar solidário mas, na reta final, votará em quem der mais garantias de melhoria da sua vida. Afinal, com a dificuldade do cidadão médio em identificar relações de causa-e-efeito na economia, Anastasia era o que mantinha os salários em dia – ainda que à custa de jogar os passivos para o futuro – e Pimentel foi o que atrasou os pagamentos. E daqui para frente?

Aí entram o fator Fernando Haddad e Dilma Rousseff.

Caso Haddad vá para o segundo turno – como indicam as pesquisas -, Pimentel pegará carona na onda e terá um argumento imbatível de campanha: com a eleição de Haddad, cessará o boicote da União e poderá haver um encontro de contas aliviando a situação fiscal de Minas.

No caso de Dilma, na condição de candidata única do PT, ela possui um bom tempo de televisão. O tempo de Pimentel tem que ser utilizado para desconstruir o adversário, mas, principalmente, para apresentar suas propostas. Aliás, no 2º turno ele terá que se concentrar em mostrar como irá melhorar a vida dos mineiros.

Nos últimos dias do primeiro turno, Dilma seria a arma para a desconstrução de Anastasia. E Dilma tem o melhor dos argumentos: um gestor que cometeu crimes fiscais gravíssimos, plenamente caracterizados, foi seu algoz na condenação por meros atrasos na cobertura dos empréstimos bancários. No caso Anastasia, legou-se um enorme passivo: além dos déficits orçamentários, o passivo atuarial criado com o fim do fundo previdenciário; no caso das “pedaladas”, não se aumentou em um centavo a dívida fiscal, pois todos os encargos foram quitados antes do encerramento do ano fiscal.

Resta saber se Dilma se dispõe a cumprir essa tarefa sem se considerar diminuída.

 
Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Se Dilma se lembrar da

    Se Dilma se lembrar da atuação de Pimentel na luta contra o golpe, irá fazer o mesmo que ele: ficar em casa vendo pela teve. Pimentel nada fez, durante seu governo, para desconstruir Aécio/Anastasia. Foi absolutamente fiel àquele que o traiu em 2010, quando esperava ser o candidato ao governo estadual após entregar a prefeitura de Belo Horizonte a um indicado de Aécio. Aliás, foi traído duas vezes nessa ocasião, pois Aécio ainda o impediu de ser senador, ao bancar a candidatura de Itamar, que só fez figuração para Perrela se tornar senador. Mas nenhuma das tantas questões de Aécio e de Anastasia durante os oito anos de governo em Minas foram suficientes para que o governo estadual de Pimentel, de alguma maneira, cobrasse judicialmente suas atitudes, a começar pela absurda construção da cidade administrativa. O que relata Nassif não foi levantado por Pimentel na defesa de Dilma. Ele poderia e deveria ter ido ao Congresso fazer a defesa pública de Dilma. Foi covarde. O principal denunciante dos malfeitos de Aécio e Anastasia, o jornalista Marco Aurélio Carone, até hoje não teve seus arquivos devolvidos pela polícia civil. Mais do que isso, Pimentel afastou o delegado que finalmente investigava as denúncias de Carone, como também viu calado o afastamento do promotor Eduardo Nepomuceno dos processos associados a Aécio e Anastasia.

    A grande saída para o PT mineiro e para Minas seria Dilma candidata ao governo. Ou, melhor ainda, Patrus. Mas seria demais exigir de Pimentel humildade e reconhecimento de seu fracasso como governador do segundo estado da federação.

  2. Jogo sujo
    Pimentel e Anastasia, ambos são tão podres, que ao invés de preocuparem em ficar apresentar os próprios projetos, um fica atacando o outro. É triste ver que Minas ainda cogita uma eleição pra governador entre esses dois abutres.

  3. Bom dia! Esclarecendo a

    Bom dia! Esclarecendo a questão dos salários. Eu trabalho na área da educação em Minas Gerais. É verdade que Aécio/Anastasia pagava no 5º dia últil, mas ficamos de 2003 a 2010 sem um centavo de aumento salarial. Entrou em vigor em 2011 o regime de subsídio, que incorporou todos os benefícios dos servidores; assim quem tinha 20 anos de carreira passou a receber praticamente o mesmo que um novato. E foram congeladas as promoções por escolaridade e progressões. Pimentel não tem pagado no 5º dia últil, mas em parcelas dentro do próprio mês, neste mês, por exemplo, a primeira parcela no valor de R$ 2.000,00 foi paga no 9º dia últil (13/09) e a 2ª parcela de R$ 1.000,00 no dia 20/09. Quem tem um salário acima de R$ 3.000,00 terá outra parcela ainda este mês. Pimentel deu um aumento no salário de 47% em cima do salário incorporado de Aécio/Anastasia, desgongelou as promoções e progressões, instituiu um adicional por tempo de serviço, aumentou o vale alimentação. Conheço servidores que hoje recebem mais do que o dobro do que recebia em dezembro de 2014. Desconheço outro patrão que tenha concedido um aumento de salário desse montante neste momento de crise.

  4. Ultrapassando as fronteiras …

    Para mim, essa perspectiva do Anastasia, aquele que sendo relator do impeachment cometeu crimes realmente dolosos ao estado, enquanto Dilma não, essa comparação avança para além das causas mineira. Reflete o jogo sujo de forma geral com que a sintonia do golpe age e o PT deve explorar a nível nacional essa questão moral, sim. Pois é a mesma sobre a condenação do Lula, processo frágil, a prisão ilegal, não cederem o habeas corpus que dão aos outros e a cassada da candidatura pelo TSE, onde não deram o dieito ao artigo complementar da lei da ficha limpa como deram ao Garotinha e outros milhares. Explorar esses fatos em horário eleitoral, o modos operandi, fazer a população entender que isso é uma ameaça a qualquer um, à vida de qualquer cidadão, mesmo que não matem mais ou torturem, mas “eles” escolhem alguém e pimba! Sem nenhum processo realmente substancial, acabam com a vida de uma pessoa. A ameaça é real.

    Isso não dá voto? O que dá voto é a economia? Sim, mas quem falou que o PT não tem o que mostrar nesse campo? Tem é que juntar as duas perspectivas que, aliás, somam-se ao consenso de que a sabotagem política a partir de 2014 e o impeachment são fatores de entrave ao desenvolvimento econômico hoje, pois a intenção era mesmo essa: sabotar o país para derrubar um gopverno, sabotar as instituições, principalmente a instituição do voto.

    Fazer a população compreender o porque do valor moral do voto e o respeito a isso. É o que faço em sala de aula sobre análise filosófica do valor do voto, faço a partir da criação do voto simples por Clístenes na Grécia Antiga. Ao final, os alunos compreendem até onde o voto pode realmente chegar e representar.

    Essa discussão EDUCA o povo ao perceber a força e o valor abstrato do voto e que resulta efeitos na vida prática, pois desrespeitar os votos vencedores em uma democracia por viés tão superficial é tão perigoso quanto administrar o dinheiro mal, deixar de pagar salários e fazer a economia retroceder.

    Muito comum ouvir: “o voto não adianta”. É isso que temos que combater. É que está votando mal, sem critério, fazer entender o valor do voto e não que “não adianta nada”.

    Um erro que acredito e sempre repito sobre o PT, foi na comunicação, principalmente na educação política, na construção de culturas a partir do pleno entendimento de conceitos.

    Educar politcamente é tão precioso a um governo, a um líder, quanto administrar outras áreas.

  5. O PT perder em Minas não é

    O PT perder em Minas não é tão ruim quanto para o PSDB, Nassif. Elegerá uma penca de governadores no Nordeste e tem o político mais popular do país. Para os tucanos sim, com a quase certa derrota do Doria, Minas é o bote salva-vidas

  6. A peleja será resolvida no primeiro turno

    A análise só esqueceu de um ponto. A peleja está rumando pra ser resolvida no primeiro turno.

    A vantagem do Anastasia é de 10 pontos e como o Lacerda saiu da campanha…

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