Adiar decisão sobre candidato “evita a perseguição antecipada ao indicado de Lula”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Ricardo Stuckert

Por Camilo Vanucchi

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Tá faltando amor, interpretação de texto, perspectiva histórica e maracugina.

1. Flávio Dino e Jaques Wagner não falaram o que estão dizendo que falaram. Ambos querem Lula nas urnas e no Palácio do Planalto. O resto é perfumaria.

2. Se o PT estivesse fora do páreo ou não tivesse em posição de pleitear a cabeça de chapa, com ou sem Luiz Inácio, os demais partidos poderiam simplesmente deixar o PT de lado, não? Esquecê-lo, ignorá-lo. Se não fede nem cheira, por que tanta raiva, pra que tanto textão?

3. Não tenho filiação partidária nem relação institucional com nenhum partido. Por isso estou aqui, meio intelectual, meio de esquerda, tentando descobrir qual é a legenda preferida da população segundo as mais recentes pesquisas de opinião (e há uns 15 anos, pelo menos). Parece que é o mesmo partido que tem o maior número de deputados federais, a vice-liderança em número de filiados e o maior cabo eleitoral do Brasil. Só acho.

4. A tese de que o PT só pensa no próprio umbigo não para em pé. O próprio Lula emite sinais claros de que não é assim há muito tempo. Quando escolheu sua sucessora, Lula desprezou os quadros históricos do PT e foi buscar um quadro que fizera história no PDT de Brizola. Em seguida, tinha convicção de que o sucessor natural de Dilma seria Eduardo Campos. Chegou a dizer isso em reuniões no PT e com o próprio PSB. Seu desejo era que Eduardo Campos fosse eleito pelo PSB com apoio do PT em 2018. Lula narra tudo isso em seu livro.

5. Não existe nenhuma definição sobre a candidatura do Lula ou sobre quem será o indicado dele ou do PT na incompatibilidade da disputa pelo terceiro mandato. Pode ser Ciro, Boulos ou Manu. Como também pode ser Wagner, Haddad ou outro petista. O que se projeta, hoje, é que o indicado por Lula supere 25% dos votos de saída. Piso. É mais do que a soma da intenção de votos em Ciro, Manu e Boulos, o que justifica a apreensão e a expectativa em torno desse tema.

6. Adiar a decisão é oportuno. Por quê? Porque mantém o olhar de milhões voltado para a prisão questionável daquele que lidera as pesquisas, o que pode contribuir com alguma pressão sobre o sistema de Justiça. E, sobretudo, porque evita a perseguição antecipada ao indicado do Lula. Ou alguém ainda duvida que o indicado do Lula será alvo imediato e primordial de forte pancadaria?

7. Boulos e Manu são, até o momento, os candidatos preferidos da esquerda entre aqueles que vêm e vão em liberdade. São meus preferidos também. O que não podemos perder de vista é que temos uma escalada autoritária e uma centena de retrocessos sociais para reverter. E que a esquerda, sozinha, não chega a 20% dos votos. No meu parco instrumental de analista político amador, não encontro argumento que me convença de que uma oposição orgânica, coerente e afinada seja mais oportuna e tenha melhores condições de reverter os efeitos do golpe do que um governo progressista que recupere a capacidade de dialogar com o Congresso e com o centro político.

8. Nesse sentido, recomendo parcimônia na crítica e na análise. Penso que será preciso dialogar com o centro para viabilizar uma candidatura competitiva. E isso inclui Ciro, Requião e outros quadros que não estão propriamente na esquerda. As alternativas podem ser Alckmin, na melhor das hipóteses, e Bolsonaro, na pior. Pessoalmente, prefiro não pagar pra ver.

9. Pode até parecer fraqueza. Pois que seja fraqueza, então. Se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Texto legal, senão fosse…

    O autor foi de uma felicidade incomum. Claro, conciso, direto e reto ao ponto!

    Mas como todo analista-palpiteiro (como todos nós) ele traz seu texto impregnado do seu wishfull thinking, e isso não é crime, longe disso, é desejável!

    Porém, as armadilhas discursivas que ele imprime não estão na sua opinião, que devemos dialogar com o centro e tentar retomar o ritmo de governança que ratifique os direitos já conquistados e garanta os que estão pendentes (desde 1500).

    Ele se trai nos detalhes.

    Dialogar com o centro, diz ele, e claro, o diálogo é o exercício permanente da Política, todavia eu pergunto:

    Com que centro?

    Não há centro na política nacional, e ouso dizer, em lugar algum do planeta!

    Esse chamado centro só existe para conter os avanços da esquerda e da sua agenda e, historicamente, sempre fingiu de morto quando a direita avança com golpes, autoritarismos e seus crimes conra a Humanidade!

    Então, combinemos, não é e nunca será centro p*rra nenhuma!

    Outro truque do autor é pressupor que os golpistas (apoiados pelo que ele chama de centro) estarão dispostos ao diálogo de “reconstrução nacional” se perderem as eleições.

    Piada!

    Nem é possível saber com certeza se eleições haverá, e se houver, se ganharemos, e se ganharmos, se tomaremos posse, e uma vez empossados, se governaremos com uma pauta de revisão de toda entrega feita desde 2015 até 2018!!!!

    E a conjuntura não autoriza otimismos. Muito menos nossa estrutura de permanente desigualdade!

    Olhem bem, nem vou falar da incoerência colossal de admitir uma eleição com seu principal candidato sequestrado por um processo ILEGAL!!!!!!!!!!!!!

    É isso, a volta do MDB é o prenúncio da volta da ARENA e da vida política sob consentimento do golpe?

    O autor parece desconhecer que o que está em jogo é a segurança energética do planeta (pré-sal vendido a “1,99”), a segurança hídrica, enfim, uma série de pontos relacionados a geopolítica e as rotineiras intervenções dos EUA e apaniguados, no Brasil e região.

    Alguém em seu juízo perfeito imagina que vai ter diálogo com algum Congresso sobre esse tema? Sobre a reforma trabalhista que fizeram? Sobre o controle social da mídia? Sobre judiciário e seu protagonismo?

    Centro?

    Piada, né não?

    1. Até concordo com vc sobre este tal “centro”, mas

      continuo achando que o post é o melhor sobre a situação atual, melhor até que o texto do Nassif (a não ser que eu tenho perdido alguns sub-entendidos)

      1. Caro Lionel,

        Eu disse que o texto era bom, mas não tem sentido prático algum, pelo menos não para aquilo que imagino que deve se encaminhar nossa luta política.

        Claro que dentro do caos armado, a estratégia ou tática (outro debate aí) de “guentar” o Lula até o fim faz todo sentido.

        Mas eu pergunto, faz sentido para quê?

        De que valerão essas eleições, caso haja eleições?

        É só para a gente arrumar a merda feita por eles até que venha um novo golpe, assim que alguma sombra de alteração nas estruturas de desigualdade comecem a aparecer ou quando o Tio Sam precisar de petróleo barato ou destino para seu excesso de liquidez?

        É só essa nossa tarefa?

        Alguém de boa fé imagina que articular algo para essas eleições (se houver) vai realmente alterar algo dentro do espectro da luta de classes?

        Agora, o texto é bom, eu repito, e escrever algo melhor que Nssif hoje não é difícil, os ares do golpe não têm feito bem a ele e sua visão institucionalista da luta política.

        Crise de meia-idade com culpa pequeno burguesa (risos).

  2. Quem?

    Se o PT escolher apoiar Ciro, estará cometendo o mesmo erro que cometeu ao nomear os MInistros para o Supremo!!!! Errar uma vez é humano, duas é burrice!!!!! E três é suicídio!!!. E ademais, se é para escolher um nome, por que não a Gleisi? Já que vai ser mesmo uma guerra, pois que seja tiro para todo lado E por que tem necessariamente que ganhar?. O PT tem mostrado há dez anos, que é mais forte e decidido que Getiulio, Juscelino, Janio e Jango, em especial o Lula, tem mostrado uma força incrível, que claramente está supreendendo os “donos do poder”.  Ou seja, para o bem das Instituições , bem do Brasil, Lula Livre!!! Ou Lula ou nada!!!

    1. Infelizmente a lavajato está para julgar a Gleisi

      Estão com o processo na prateleira (também sem provas) pronto para ser julgado no STF. Se ela sai candidata, a Globo manda tirar da prateleira e a condenam na semana seguinte. Então tem que ser um candidato que não esteja na reta, para não dar tempo de armarem uma condenação correndo.

  3. Concordo. Se fosse eleição com Lula, qualquer destes candidatos

    ai colocados, ele passaria a kilômetros de distância. Lula aguenta o peso de uma eleição majoritária nacional. Os demais não são tão resilientes. A questão é que, ao menos em 2018 a estupidez da ditadura corporativa da direita-mídia-judiciária NUNCA deixará Lula concorrer

  4. Coxinhas voltem, a casa é sua.

    O PT ou grande parte dele comete um erro absurdo a continuar a demonizar e estgmatizar os COXINHAS para inclusive de usar esse termo, já está mais do que na hora de fazer o contrário, trazê-los de volta, dar as mãos, afinal são brasileiros. Tem milhares que já perceberam o caminho errado que tomaram e só não estão do nosso lado com medo de serem recebidos com pedras.

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