Eduardo Cunha: aborto pode retornar à pauta no debate eleitoral de 2014

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Enviado por Gunter Zibell

Do Estadão

Embate pode criar ‘anticabos eleitorais’, afirma pivô da crise

Pivô do tensionamento entre o Palácio do Planalto e a base aliada no Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), acredita que o tema do aborto volte a surgir na campanha presidencial. O peemedebista diz ter ajudado a então candidata Dilma Rousseff, em 2010, a enfrentar a resistência dos evangélicos à petista, tida como favorável à interrupção da gravidez indesejada.

Quatro anos depois, porém, Cunha afirma se sentir “injustiçado” e “demonizado” pela crise do governo com os parlamentares. “Temo que toda essa situação de embate esteja produzindo os ‘anticabos’ eleitorais, que não jogam a favor, mas contra.”

Em 2010, Dilma divulgou uma carta com compromissos a favor da vida e contra o aborto…
Fui eu quem pediu para ela fazer essa carta.

Por que isso foi necessário?
Houve um evento reunindo várias lideranças e a Dilma também foi. Nesta reunião, a pedido do (hoje ministro) Gilberto Carvalho, levantei a questão de que não adiantava apenas fazer discurso, pois havia um descrédito grande junto às igrejas com a posição dela e seria necessário firmar um documento. Isso daria credibilidade. Foi aí que surgiu o documento.

O deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) acabou tido como mentor de Dilma no episódio.
Chalita fez a defesa na Igreja Católica, tinha glamour porque estava na televisão, mas no meio evangélico quem fez a defesa de Dilma fui eu. Por minha intervenção, ela assinou a carta (divulgada 15 dias antes do segundo turno, na qual a petista afirmava ser pessoalmente contra o aborto e se comprometia a não alterar a legislação sobre o assunto).

Como o sr. se sente neste embate com o governo?
Eu a ajudei na campanha e ajudei muito o seu governo. Como líder, fui para embates a favor de Dilma em votações, a ponto de, no coquetel de Natal que ela ofereceu no Alvorada, ela reconhecer e agradecer minha ajuda. Depois, sou agredido pelo presidente do PT (Rui Falcão), aí eu reajo e sou demonizado.

O que o transformou de aliado de peso do governo em alguém que deve ser isolado?
A pergunta que todos me fazem é a mesma. Não sei, talvez eles quisessem fazer uma contenda política e eu fui o escolhido.

O sr. se sentiu injustiçado?
Sim, mas estamos habituados a isso. Política é isso mesmo, uma série de injustiças. Mas tem que saber dar a volta por cima. Vou agir e reagir em função dos fatos.

O sr. acredita que a polêmica do aborto voltará neste ano?
Essa polêmica do aborto deverá estar presente e isso poderá ser explorado novamente nesta campanha. Dilma não descumpriu a palavra dela, pois não propôs o projeto (que permite a distribuição da pílula do dia seguinte pelo SUS para vítimas de estupro, sancionado em agosto pela presidente). Se ela se mantiver no compromisso, não tenho dificuldade em dizer que ela cumpriu seu compromisso. Contudo, ela poderia não ter sancionado este projeto. Ficou uma polêmica presente (com a sanção do texto na íntegra, sem as alterações defendidas pela bancada evangélica), e isso pode ser explorado nesta campanha. Não tenho dúvidas de que pode.

Mas o sr. pretende defendê-la novamente entre o eleitorado evangélico, se for preciso?
Eu sou um homem fiel ao meu partido, tenho a fidelidade como princípio. Mas é claro que empenho e dedicação vão muito em função da sua motivação pelo outro, com base nas causas que defende. Temo que toda essa situação de embate esteja produzindo os ‘anticabos’ eleitorais, que não jogam a favor, mas contra, numa campanha negativa.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Sonho o dia em que viverei

    Sonho o dia em que viverei num país em que preceitos religiosos, por mais pertinentes que forem, não pautem o debate político. 

    Infelizmente, ou felizmente, sei lá mais o que escrever, o Gunter Zibell tem razão quando argui que o governo se deixa chantagear por essa bancada do atraso, medieval. Criaram e alimentaram um monstro e agora não sabem como domá-lo. 

    Não mudei de idéia no que tange a necessidade, mesmo aos engulhos, de compor com esse tipo de gente. Só acho que o governo cedeu demais. 

    A depender de mim mandaria esse Eduardo Cunha e seus assemelhados chantagista para o inferno, local que eles gostam tanto de invocar para corromperem pelo medo  a consciência das pessoas, em especial os mais humildes.

    1. Bom domingo, JB!

      Olha, eu tenho uma posição bem firme em relação a essas coisas.

      Ainda mais em uma sociedade com acesso à informação.

      Que se abandonem os monstros à míngua que eles encolhem, como o “Tea Party” americano.

      (Mesmo estando em minoria na Câmara de Deputados, não houve nenhum recuo em secularismo nos EUA nos últimos 5 anos e houve avanços no sistema de saúde e nas discussões sobre armas domésticas, salário mínimo, maconha e documentação de imigrantes.)

      Ceder a chantagens nunca dá certo. Quem cede por muito tempo e muitas vezes passa a se assemelhar ao chantagista.

      E abre, felizmente, espaço para novos discursos.

      O mesmo vale para as demonizações. Disputas políticas não são disputas comerciais ou de grêmios de escola, não se deve copiar o que os outros fazem de errado. 

      Por quanto tempo os discursos estilos Putin, Erdogan e assemelhados irão se manter?

      Qual o sentido em ‘esquerdas’ se associarem a discursos neofascistas tão somente para posar de ‘anti-imperialistas’?

      Desse circo não participo.

      Só há um caminho para a evolução humana que é o retorno ao secularismo e Estado Laico e prosseguir a partir dele.

      Quando antes as pessoas perceberem, melhor.

       

       

       

      1. (Gunter, o “avanco” do

        (Gunter, o “avanco” do sistema de saude de Obama eh mil dolares por mes pra minha familia quando nos nao chegamos nem perto -nem remotamente perto- de gastar 10 mil dolares com saude nos ultimos 10 anos.)

    2. E eu sonho com o dia em que

      E eu sonho com o dia em que mães assassinas nunca recebam mais o aval da lei.

      Muitas vezes os preceitos religiosos são bem melhores que este moderno direito “humanístico”.

      1. O que uma coisa a ver com

        O que uma coisa a ver com outra, meu caro? 

        O que me causa verdadeiro asco no discurso religioso modo geral(há religiosos que respeito, sim) é essa suposta moral; achar que fora dela, religião, ou fora de qualquer crença, não há moralidade, bondade, e qualquer outro preceito similar. 

        Ademais, tu não tens o direito de invocar esse “mães assassinas”. Nenhum direito. Vai ver esse teu humanismo de araque também apoia a pena de morte. 

  2. Os pastores e as ovelhas de Cunha

    A rica biografia de Eduardo Cunha, o herói da oposição

    15 de março de 2014 | 09:01 Autor: Fernando Brito

    cunhasinger

    André Singer publica hoje, na Folha,  artigo em que não precisa de muito mais de 20 linhas para traçar a história do homem a quem a oposição brasileira deposita suas esperanças de desestabilização do governo Dilma.

    Singer foi econômico.

    Não mencionou o caso da condenação de um promotor de Justiça, no Rio de Janeiro, por ter falsificado  documentos que favoreceriam a absolvição do deputado por irregularidades praticadas quando dirigia a Companhia Estadual de Habitação, no Governo Garotinho.

    Um caso curiosíssimo, parecido com o da servidora que roubou o processo da Globo. O promotor – Élio Fishberg, sub-procurador-geral de Justiça no Rio – foi condenado a quase quatro anos de cadeia, pena depois substituída por prestação de serviços comunitários e multa.

    Vejam que linda a descrição do caso, na página do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

    “Segundo denúncia do Ministério Público, Elio Fischberg, que era o 2º subprocurador-geral da Justiça na época dos fatos, teria falsificado documentos oficiais do MP, que vieram beneficiar o deputado federal Eduardo Cunha, cliente do escritório de advocacia de Cukier, onde o procurador dava consultoria. Fischberg teria falsificado a assinatura do promotor de Justiça Humberto Dalla Bernardina de Pinho, a qual dava como arquivados três inquéritos civis contra o deputado federal.O procurador também teria falsificado as assinaturas  do então procurador-geral da Justiça José Muiños Piñeiro e da procuradora de justiça Elaine Costa da Silva. De posse dessa documentação que lhe foi entregue pelos réus, Cunha juntou cópias ao processo do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que também apurava irregularidades na Cehab, sendo o procedimento também arquivado. Com isso, ele pôde se candidatar a deputado estadual.”

    Agora, acompanhe o resto do currículo de Cunha, descrito por Singer, para conhecer melhor o “Jim Jones” do PMDB.

    Trajetória exemplar

    André Singer

    Alguns dados biográficos do líder do PMDB, Eduardo Cunha, ajudam a entender a lavada, de 267 a 28, que o governo levou na votação da última terça-feira, quando a Câmara decidiu criar comissão para investigar a Petrobras.

    Mais de um ano atrás, Janio de Freitas, referência do jornalismo político brasileiro, já advertia que, com a presença de Cunha junto a Renan Calheiros e Henrique Alves no comando do Congresso, Dilma iria ter dificuldades. Na época, o jornalista lembrava que Cunha “é cria de Paulo César Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio”. Corria o ano de 1990. Não demoraria muito para que o mandato de Fernando Collor de Mello fosse tragado por denúncias. No epicentro da debacle collorida estava PC Farias.

    Consta que Cunha aproximou-se do meio evangélico do Rio de Janeiro. Filiado ao PPB (hoje PP), de Paulo Maluf, e com apoio religioso, candidatou-se a deputado estadual em 1994, iniciando uma carreira política própria, o que o levou a ser eleito para a Assembleia Legislativa daquele Estado em 2000, galgando daí a passagem para a Câmara dos Deputados em 2002, sempre pela agremiação malufista.

    No meio desse caminho, alinhado à direita, nem por isso deixou de participar do governo Garotinho (1999-2002), então no PDT, no Estado do Rio. No entanto, as relações entre ambos depois se deterioraram. Por ocasião da MP dos Portos, alguns meses atrás, os dois ex-colegas de administração travaram carinhoso diálogo no plenário da Câmara, segundo relato de Merval Pereira, de “O Globo”. O ex-governador do Rio disse que a emenda patrocinada por Cunha cheirava mal e tinha motivações escusas. Em resposta, o ex-auxiliar teria se referido a Garotinho como batedor de carteira.

    Em 2006, Cunha reelegeu-se deputado federal, agora pelo PMDB, sempre com apoio evangélico –em 2010, conseguiu 150 mil votos. A disputa entre Cunha e Dilma vem desde o início do mandato desta, quando, após denúncias em Furnas envolvendo, segundo o “Valor” (25/7/2011), um “grupo ligado” ao deputado, ela nomeou para dirigir a estatal nome fora do círculo de influência do parlamentar carioca.

    Em 2007, Cunha havia segurado a Medida Provisória que prorrogava a CPMF até Lula nomear indicação sua para a presidência de Furnas. Maior empresa da Eletrobras, com orçamento bilionário e fundo de pensão importante, Furnas é joia muito cobiçada. A perda do controle sobre a estatal explicaria a posição belicosa do comandante do PMDB na Câmara em relação a Dilma.

    Em resumo, é quase um quarto de século de experiência acumulada em controvertidas matérias republicanas. Convém não subestimar.

     

  3. Por acaso o Eduardo Cunha

    Por acaso o Eduardo Cunha pretende ser candidato a presidente ou os religiosos pretendem ter seu candidato? (pode ser o tal do Pastor Everaldo).

    Eduardo Campos tem o apoio dos liberais desiludidos com o PT e que temem ameaças ao estado laico, se ceder demais aos religiosos poderá perder votos do segmento mais descolado na população.

    Aécio tem um estilo de vida abominado pelos conservadores (base de seu eleitorado).

    O PT é o único que equilibra bem a balança (Família X Direitos Individuais).

    1. Discordo disso de que o PT equilibra bem

      O discurso do PT anda muito desequilibrado, razão até do seu segundo parágrafo! “liberais desiludidos com o PT e que temem ameaças ao estado laico”

      Uma coisa é saber que isso não terá impacto nesta eleição para presidente. Outra coisa é o PT fingir que as coisas não são percebidas.

       

  4. E o marco civil da internet?

    Krak, o estadão em estado comatoso não perguntou do marco civil da internet? Por que ele é a favor das empresas de telefonia contra a neutralidade? Talvez o repórter seja pago pelo serviço Daniel Dantas de Comunicação…

  5. Esse homem já é o resultado

    Esse homem já é o resultado de um aborto, só que anencéfalo.  Ih! ele é também religioso, faz-me rir.  Até quando a sociedade terá que suportar essa figura desprezível e abjeta.

  6. Esse canalha já mostrou a cara!!

    Virou palhaçada!!! sempre as vésperas de uma eleição surge o tema ABORTO, passada as eleições a coisa fica esquecida  aguardando mais quatro anos para ser usada de forma conveniente. 

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