Meirelles gasta 59 mil vezes mais que Daciolo, com quem empata em pesquisas

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Montagem de fotos: Divulgação/YoutubeDaciolo declarou, até agora, gastos de menos de R$ 800 com campanha. Despesas de Meirelles já passam dos R$ 43 milhões

do Congresso em Foco

Meirelles gasta 59 mil vezes mais que Daciolo, com quem empata em pesquisas

por Edson Sardinha 

Em “glória a Deus”, o candidato a presidente Cabo Daciolo (Patriota) jejua por 21 dias no Monte das Oliveiras, na zona oeste do Rio. Desde 5 de setembro, Daciolo trocou as ruas pelo retiro e só deve voltar à campanha a dez dias das eleições. Até lá não participa de sabatinas nem de debates, tampouco pede votos. Do alto do morro diz que ora pela nação e pelo restabelecimento da saúde de Jair Bolsonaro (PSL), que se recupera de uma facada na barriga. A menos de três semanas do primeiro turno, comunica-se apenas pelas redes sociais e em vídeo com seus seguidores.

Mesmo longe da campanha, o deputado está lado a lado com a candidatura mais rica desta eleição, a de Henrique Meirelles (MDB). Os dois estão em empate técnico na última pesquisa Ibope, divulgada nessa terça-feira (18). Meirelles, assim como Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), tem 2% das intenções de voto. Daciolo, 1%. No levantamento do Datafolha, publicado hoje, o emedebista tem 2% e o candidato do Patriota não pontua.

Nas duas pesquisas, a diferença entre eles está dentro da margem de erro. Já nas despesas com a campanha, porém, a distância é oceânica. Meirelles gastou 59 mil vezes mais que Daciolo, segundo registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A montanha de dinheiro, no entanto, tem se mostrado pouco eficaz até agora.

Milhão contra tostão

Dono de uma fortuna declarada de R$ 377,5 milhões, o ex-ministro da Fazenda do presidente Michel Temer tirou do próprio bolso R$ 45 milhões para arcar com a disputa eleitoral. O candidato do MDB já torrou R$ 43,3 milhões em sua tentativa de chegar à Presidência. Desse total, cerca de R$ 30 milhões foram repassados a agências de propaganda e comunicação.

No mesmo período, o candidato do Patriota declarou à Justiça eleitoral ter desembolsado apenas R$ 738,37 até o momento. Todo o valor foi destinado à administração de duas campanhas de financiamento coletivo. Vem de lá toda a receita declarada por ele no TSE: pouco mais de R$ 9 mil.

A exposição no rádio e na TV era a grande aposta de Meirelles para sair das últimas colocações nas pesquisas. O presidenciável tem 1 minuto e 27 segundos diariamente no horário eleitoral gratuito. Perde em espaço apenas para Geraldo Alckmin (PSDB), com 4 minutos e 46 segundos, e Fernando Haddad (PT), com 1 minuto e 31 segundos. Durante a propaganda, nas sabatinas e nos debates, o emedebista tenta descolar sua imagem da figura de Temer. Sempre reforça que foi o presidente do Banco Central no governo Lula, em um dos períodos de maior bonança na economia.

Vitória no primeiro turno

A estratégia, porém, não tem funcionado, a julgar pelos números. Sua imagem ainda está associada à de ministro da Fazenda do governo mais impopular da história recente do país, cujos níveis de aprovação chegam a, no máximo, 4% – percentual superior ao melhor desempenho obtido pelo candidato nas pesquisas, que foi 3%. Meirelles também foi abandonado pelo partido em vários estados, onde candidatos a governador pelo MDB têm apoiado seus adversários na corrida presidencial, como o petista Fernando Haddad, escalado por Lula para sucedê-lo após o indeferimento de sua candidatura pelo TSE.

Meirelles, porém, não perde a esperança. “Os indícios apontam que temos boas chances na disputa. Minha candidatura está crescendo e acredito que podemos ganhar, até mesmo no primeiro turno”, disse ontem em sabatina na revista Veja. “No início, eu tinha menos de 1% das intenções de voto, agora já tenho três. À medida em que as pessoas me conhecem, conhecem o meu histórico e entendem a nossa campanha, crescemos. Se mantivermos este ritmo, podemos chegar”, acrescentou.

Contra a Estátua da Liberdade

Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos ganhou fama após o primeiro debate entre presidenciáveis. Por fazer menções a Deus e à Bíblia e denunciar a existência da Ursal (a fictícia União das Repúblicas Socialistas da América Latina), o até então desconhecido bombeiro militar e deputado federal foi batizado por Ciro Gomes (PDT) como um dos “custos” da democracia. Desde então virou um sucesso nas redes sociais.

Um vídeo gravado por ele ainda em dezembro do ano passado viralizou na semana passada. Nele o presidenciável está em frente a uma loja da rede varejista Havan, na beira de uma estrada no Entorno do Distrito Federal, em Goiás. A loja tem como prática instalar uma réplica da Estátua da Liberdade em frente a cada unidade. Daciolo prometeu retirar uma por uma.

Veja o vídeo:

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“Tá repreendido”

“Começaram a botar isso aí no nosso país, ó, você vai ver e entender o que eu tô falando. Vai sair uma por uma, se quiser no máximo de dois metros. E a cada uma que colocar no meu país vai ter que colocar no seu país. Cada uma que tiver na nação brasileira vai tá lá nos Estados Unidos, senão, estará fora”, disse. “Se quiser colocar vai ser no máximo de 2 metros, e cada uma que colocar no meu país vai ter de colocar no teu país também”, afirmou.

O deputado pede ao câmera que mostra a dimensão da estátua. “Mostra pro povo isso aí, mostra isso pra nação. Tá repreendido. Tirem da nação, tirem da nação. Tá certo, senhores? Vocês já estão em todos os estados da federação. Aqui estou em Goiás, mas se eu for mais à frente eu vou mostrar que eles estão colocando isso em todo o território nacional.”

 

Da esquerda para a direita

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Em seu primeiro mandato na Câmara, Daciolo tem um discurso conservador, mas foi eleito com 49.831 votos pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), partido mais à esquerda com assento no Congresso. Defende Deus e a família e é contra o aborto, mas foi um dos líderes da greve dos bombeiros. Diz que os grandes banqueiros são o mal do país e que quer proteger o povo.

Daciolo tem causado surpresa em suas aparições, dentro ou fora do noticiário tradicional. Acostumado a circular pela Câmara com uma bíblia debaixo do braço e a fazer orações na tribuna do plenário, ele recentemente subiu a um morro e, dizendo-se ameaçado de morte por entidades metafísicas, anunciou um retiro para orações.

A Bíblia o acompanha nos corredores do Congresso e nos debates. Em julho deste ano, subiu à tribuna da Câmara com o livro em mãos para profetizar a “cura” da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), tetraplégica há mais de 20 anos. “O que eu vou falar aqui vai parecer loucura para muitos. Mas eu prefiro a loucura de Deus do que a sabedoria dos homens”, anunciou o deputado. A deputada assistiu à cena, no fundo do plenário, com constrangimento.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

6 Comentários

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  1. Um dia saberemos o verdadeiro

    Um dia saberemos o verdadeiro motivo pelo qual meirelles enterrou tanta grana do próprio bolso numa campanha sem chance alguma de sucesso eleitoral. Duvido que seja por amor à pátria.

    1. É altruismo

      Rico, branco e do PSDB cheiroso (tá disfarçado de MDB) só pode ser altruísta. Se fosse daquele outro, já estava levando chumbo. Lembram de 2004 quando presidente do banco central no governo do coisa ruim, do cramulhão, do cão, do sete pele aquele chifrudo? Por causa de uma merrada de 600 mil reais não declarados e de 50 mil dólares no exterior, ganhou status de ministro para não ser processado. Merreca sim, para quem gasta 43 milhões do bolso isso é dinhero de troco, aquilo que a gente deixa na gaveta da cozinha para uma eventualidade qualquer.

      Se fosse daquele outro partido já tinha umas 20 intimações para explicar o causo. A essa altura tinha procurador dando entrevista e mostrando em power point todo o “esquema”. Para dizerem que esse dinheiro gasto, do próprio cofrinho, agora vai ser devolvido lá fora, como honorários de futuros contratos de consultoria fajutos ou como michê de palestras pra inglês ver era um  ser um já.

    2. Dizem às bocas pequenas,

      Dizem às bocas pequenas, médias e grandes que o MDB topou a candidatura do Meirelles porque, ao autofinanciar sua campanha, ele liberaria o dinheiro do fundo eleitoral para as campanhas estaduais do partido.

  2. atenção editores do GGN, essa

    atenção editores do GGN, essa manchete é uma ode ao mau jornalismo, tão combatido por vocês. É evidente que o cabo Daciolo não gastou apenas R$ 800 em sua campanha, este seria o preço de apenas uma perna aérea, levando o eleitor a crer que o candidato Meirelles teve gastos na casa das centenas de milhões. Este não é o jornalismo praticado pelo GGN, cuja logomarca é de uma felicidade, um jornal verdadeiramente “de todos os brasis”, democrático e plural, onde facistas não entram. 

  3. De gênio e de louco todo mundo tem um pouco

    Não sei se é cômico ou trágico essa manifestação nacionalista bizarra do exótico Cabo Daciolo contra símbolos estrangeiros imperialistas.

     

    Mas já que todo nacionalismo será sufocado em nome da metrópole (eua), o resultado é esse aí: de tanto ser chamado de paranoico, incorporou o personagem de vez…

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