Pesquisadores alertam para riscos à Ciência e Educação em 2019

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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De cortes aos investimentos públicos para o setor até a falta de reconhecimento por parte de uma possível eleição de Bolsonaro são mencionados com receio pelos cientistas e pesquisadores
 

Foto: Reprodução declaração do cientista Miguel Nicolelis no Tuca
 
Jornal GGN – Cientistas e pesquisadores afirmam estar com receio de “tempos de mudanças”, e viver “incertezas e angústias” sobre os riscos à sobrevivência da inteligência e educação no país a partir de 2019, com a possível vitória de Jair Bolsonaro (PSL).
 
O sentimento foi manifestado na encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), realizada na noite desta segunda-feira (22), em Caxambu, sudeste de Minas Gerais. A reunião contou com a presença de mais de mil cientistas sociais, que apresentaram seus trabalhos.
 
Para o presidente da Associação, Fabiano Santos, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o medo de que a atual “asfixia econômica” e mais cortes de verbas para o ensino e a pesquisa, visando o ajuste fiscal, pode acarretar em perdas inestimáveis à área.
 
Segundo ele, os cortes que devem vir prejudicarão o setor de pesquisa das Ciências Sociais, que “um trabalho, de décadas, de construção de um parque científico e tecnológico que muita contribuição dá ao desenvolvimento brasileiro, inclusive no âmbito das ciências sociais”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
 
Santos acredita que esta “asfixia” na área decorre da falta de compreensão no mundo político e na sociedade, de modo geral, sobre o papel e a importânica da sociologia, antropologia e ciência política. “A contribuição das ciências sociais é essencial no sentido de pacificação, estabilização, no sentido de encontrar caminhos de desenvolvimento”, defendeu.
 
Nessa linha, usou como exemplo os episódios que o Brasil vem vivendo de explícita intolerância e violência nas universidades. “Não é possível pensar numa trajetória do país para desenvolver e aprofundar a sua democracia com episódios de violação [de direitos] nos quais a universidade é tida como lugar em que é possível a intolerância e a violência. Não há paralelo em países desenvolvidos no qual a universidade não é vista como algo fundamental, um lugar de reflexão crítica e plural”, afirmou.
 
Já o professor emérito do Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Otávio Velho, disse ser difícil prever o que nos espera o futuro, mas alertou para a importância de se preservar e priorizar as minoritas.
 
“No caso da antropologia particularmente, que é a minha área, nos preocupamos com visões colocadas em relação às minorias étnicas, sobretudo em relação aos índios e aos negros. É importante que a posição desses grupos na sociedade brasileira seja cada vez mais reconhecida e valorizada como sendo uma riqueza do patrimônio nacional”, assinalou, à ABr.
 
Também manifestou nesse sentido o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que esteve presente no evento de apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT), no Tuca, na noite desta segunda (22).
 
Em pronunciamento na noite do evento, Nicolelis afirmou que as eleições 2018 representam um marco decisivo para a ciência e para a educação no Brasil. “Poucos países têm o privilégio de, em uma eleição presidencial histórica, numa dessas bifurcações épicas que definem o futuro de uma nação por décadas, ter como candidato um professor. Poucos países têm a chance de eleger o maior ministro da Educação da história do Brasil”, defendeu.
 
Em paralelo às semelhanças que algumas propostas do candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) têm com a ditadura do regime militar, Nicolelis ressaltou também o peso daqueles tempos sombrios para a educação e a ciência brasileira. 
 
“A minha faculdade de Medicina e a PUC haviam sido invadidas e tomadas no meio da ditadura militar, e eu mal poderia imaginar que, 40 anos depois, eu estaria aqui tentando defender a permanência do regime democrático brasileiro com meu voto para que os meus filhos e os meus netos não tenham que viver o que os meus pais e a minha família viveu”, alertou.
 
“Hoje, nesta bifurcação histórica, eu peço a todos os brasileiros, a todos os alunos que usaram o Prouni para entrar na universidade, todos os alunos de pós-graduação, todos que fizeram seu mestrado e doutorado graças às bolsas concedidas pelo Ministério da Educação sob a regência do Fernando, todos os professores contratados pelo maior programa de contratação de professores docentes do mundo, o Reuni, eu peço a todos os estudantes que eu encontrei pelo mundo nos meus 25 anos de cientista, nos últimos 15 anos, com bolsas do Ciência sem Fronteiras, eu peço a todos os cientistas, homens e mulheres deste país, que lembrem: esta é a bifurcação também da ciência brasileira. Porque, dependendo do resultado da eleição, ela não existirá mais. E um país sem ciência é um país condenado à perda da cidadania”, concluiu.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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